Palma de Ouro em Cannes 2009 com A Fita Branca e novamente este ano com Amour, Michael Haneke realizou em 2005 Caché. Juntando-se com Violência Gratuita, de 2007, pode-se dizer que o diretor austríaco tem apresentado em seu cinema um olhar perturbador sobre aspectos da condição e da natureza humana. São filmes que não trazem respostas, mas perspectivas de amplo leque.
Em Caché, vemos um
casal de classe média alta receber anonimamente fitas de vídeo que mostram sua própria
casa. Filmadas da rua em frente ao imóvel, mostram algumas saídas e chegadas da
família - pai, mãe, filho. Junto às fitas VHS, deixadas à porta em uma sacola
plástica comum, desenhos infantis que reproduzem uma violência ameaçadora.
Ao compor esse quadro, Haneke explora o medo e através do
medo expõe outras coisas. De segredos do passado, da ruptura da confiança, da
acomodação burguesa e, mais perturbadoramente, da ausência de consciência e
culpa diante da maldade cometida. Como A
Fita Branca desdobraria muito mais profundamente, Haneke nos revela em Caché que o mal reside na mais ordinária
humanidade.
Mas longe de ser um diretor que se limita a contar uma
história, o austríaco nos provoca, nos instiga pelo uso que faz da imagem. Em Caché, ela é articuladora de uma consciência
subterrânea. A passividade com que é consumida é alvo de crítica velada pela
lente e pelo jogo imagético que Haneke constrói em seu filme. Da sutil
profundidade de campo, do registro em vídeo como forma de assegurar o real –
mesmo na morte –, do sonho e da memória como videotapes da culpa.
Caché encerra a
sordidez do humano no sono tranquilo, acomodado e seguro, de janelas fechadas.
Seu desfecho pode despertar em nós um sentimento de aversão e de culpa. Uma culpa
que carregamos sem saber porquê, mas que talvez esteja na maldade nossa de cada
dia, esquecida pelo sono indiferente à qualquer tragédia que nos cerque.
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Caché
Michael Haneke
França/Áustria/Alemanha/ Itália/EUA, 2005
117 min.
Trailer
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