A exemplo de seus dois filmes mais cultuados, Friedkin traz
para Killer Joe a violência e o
terror. Ambos, porém, trabalhados na sofisticação de uma trama que quer ir além
de um crime de encomenda para revelar a destruição de um núcleo familiar
disfuncional.
Chris (Emile Hirsch) desconfia que sua mãe roubou a cocaína
que ele ia distribuir. Endividado pela droga, vai até a casa de seu pai, que
vive com outra mulher, sugerir que contratem um matador para eliminar sua mãe.
A intenção é dividirem o dinheiro do seguro de vida dela, cuja beneficiária é
Dottie (Juno Temple), a irmã caçula.
É onde entra Joe (Matthew McConaughey), um detetive da
polícia do Texas que também mata por dinheiro. Mas ele só trabalha com pagamento
adiantado, coisa que pai, filho e madrasta – todos mentores do crime – não têm.
Mas Joe fica seduzido pela inocente Dottie e aceita fazer o trabalho se puder
tê-la como “garantia”.
Embora Killer Joe
se desenrole como uma comédia de erros, não há no filme qualquer humor. O que há
no registro de Friedkin é um tipo de limbo em que a gravidade das situações não
se arrastam sob o vergar do peso dramático, nem se deixam levar pelo cômico.
O que se vê é uma textura que equilibra o patético e o grave
com tons desconcertantes. Parte desse efeito vem da idiotia de seus
personagens. São figuras dignas de pena, cuja maldade não vem exatamente de uma
consciência vil, mas do desespero que nasce da ignorância. Nesse sentido, a
ambientação no Texas e a constituição de uma família pobre sulista não são
elaboradas por acaso.
Sorrateiro e tomado pelo desejo que Dottie desperta, a
figura de Joe vai se instalando na trama. Esta personificação que inspira
desconforto e medo encontra na surpreendente atuação de McConaughey (um ator
que sempre orbitou na mediocridade) um equilíbrio perfeito entre a frieza de
sua fala mansa e a perversidade de suas intenções. Ele representa um tipo de
cinismo perturbado que sufoca e amedronta. Um calmo devorador da inocência.
Joe faz dos membros da família joguete e de Dottie sua
presa. A menina é o elemento mais estranho da narrativa. Nota-se nela um grau
de consciência aparentemente muito acima dos demais. Uma noção da verdade sempre
disfarçada por sua ingenuidade autêntica. Ainda que conivente com tudo que
percebe em torno, resta nela um desprendimento, uma pureza atravessada que
resiste a toda sordidez em que está envolvida.
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Killer Joe
William Friedkin
EUA, 2011
102 min.
Trailer
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