quinta-feira, março 07, 2013

Killer Joe - Matador de Aluguel

Baseado em peça homônima de Tracy Letts (que também assina o roteiro do filme), Killer Joe é o novo trabalho de William Friedkin, diretor de clássicos como Operação França (1971) e O Exorcista (1973).

A exemplo de seus dois filmes mais cultuados, Friedkin traz para Killer Joe a violência e o terror. Ambos, porém, trabalhados na sofisticação de uma trama que quer ir além de um crime de encomenda para revelar a destruição de um núcleo familiar disfuncional.

Chris (Emile Hirsch) desconfia que sua mãe roubou a cocaína que ele ia distribuir. Endividado pela droga, vai até a casa de seu pai, que vive com outra mulher, sugerir que contratem um matador para eliminar sua mãe. A intenção é dividirem o dinheiro do seguro de vida dela, cuja beneficiária é Dottie (Juno Temple), a irmã caçula.

É onde entra Joe (Matthew McConaughey), um detetive da polícia do Texas que também mata por dinheiro. Mas ele só trabalha com pagamento adiantado, coisa que pai, filho e madrasta – todos mentores do crime – não têm. Mas Joe fica seduzido pela inocente Dottie e aceita fazer o trabalho se puder tê-la como “garantia”.

Embora Killer Joe se desenrole como uma comédia de erros, não há no filme qualquer humor. O que há no registro de Friedkin é um tipo de limbo em que a gravidade das situações não se arrastam sob o vergar do peso dramático, nem se deixam levar pelo cômico.

O que se vê é uma textura que equilibra o patético e o grave com tons desconcertantes. Parte desse efeito vem da idiotia de seus personagens. São figuras dignas de pena, cuja maldade não vem exatamente de uma consciência vil, mas do desespero que nasce da ignorância. Nesse sentido, a ambientação no Texas e a constituição de uma família pobre sulista não são elaboradas por acaso.

Sorrateiro e tomado pelo desejo que Dottie desperta, a figura de Joe vai se instalando na trama. Esta personificação que inspira desconforto e medo encontra na surpreendente atuação de McConaughey (um ator que sempre orbitou na mediocridade) um equilíbrio perfeito entre a frieza de sua fala mansa e a perversidade de suas intenções. Ele representa um tipo de cinismo perturbado que sufoca e amedronta. Um calmo devorador da inocência.

Joe faz dos membros da família joguete e de Dottie sua presa. A menina é o elemento mais estranho da narrativa. Nota-se nela um grau de consciência aparentemente muito acima dos demais. Uma noção da verdade sempre disfarçada por sua ingenuidade autêntica. Ainda que conivente com tudo que percebe em torno, resta nela um desprendimento, uma pureza atravessada que resiste a toda sordidez em que está envolvida.

Sem espaço para esperança, redenção, humanidade ou laços de família, Friedkin arma o desfecho dessa trama de desalentada estupidez e ganância mesquinha com uma sequência antológica. Uma explosão de violência, sordidez e covardia. Entre o repulsivo e o desconcertante, será Joe a se arvorar em elemento de punição. Uma punição amoral e implacável, da qual emerge o mais doentio e sarcástico de toda situação construída pela trama. Um final de incômodo sem escape, feito de grossa, indigesta e brilhante ironia.
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Killer Joe
William Friedkin
EUA, 2011
102 min.

Trailer

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