Amigos Inseparáveis – mais um exemplar de péssimo título em português – é um filme que alterna de lado o tempo todo. Ora vai para o lado de um filme que constrói com muita correção o peso de seus personagens, assentados na amizade de velhos tempos, na velhice e nas consequências de suas escolhas; ora cruza a fronteira para o lado do filme previsível, com piadas óbvias e desfecho condescendente.

Do reencontro amistoso, logo surgem as contas do passado que
ainda não foram pagas. Uma questão de vingança e ameaça, que Doc se viu
obrigado a carregar por 28 anos. Por ordem de um implacável e vingativo chefão
do crime, ele deve matar Val até a manhã do dia seguinte. E Val não demora a
perceber isso.
Com um saudosismo que vai do elegante para o superficial,
ambos passarão as últimas horas que lhes restam juntos numa noite de roubo de
carros, justiçamento de valentões, acertos familiares e despedida dos velhos
tempos.
A direção de Fisher Stevens (ator de rosto conhecido em
séries e filmes menores que vem se aventurando na direção) aproveita muito bem
o charme e a experiência de seu elenco, que conta ainda com Alan Arkin no papel
do antigo piloto de fuga. O filme mantém uma cadência sem pressa, boa parte
dela ambientada como uma notívaga aventura irresponsável.
Sem abusar de maneirismos, Stevens salpica a narrativa com
referências pontuais. A mais clara é a Quentin Tarantino, presente na
participação de Vanessa Ferlito. Ela, que protagonizou em À Prova de Morte (2007) a ótima cena da lap dance (ver aqui), faz uma moça violentada por uma gangue local que
terá sua “justiça” com a ajuda dos velhinhos nem tão aposentados assim.
Por outro lado, o filme não deixa de caminhar com frequência
para um tipo de registro que passa pela obviedade de situações e pelo
subaproveitamento do drama dos personagens. Parece sempre hesitar entre ser uma
aventura de “velhinhos batutas” e uma história de redenção com peso e
responsabilidade. Não cabe aqui apontar o caminho certo, ainda que o segundo
seria mais proveitoso dramaticamente. O problema é a indefinição, que prejudica
a boa atmosfera que se cria em alguns momentos.

Na onda de produções sobre aposentadoria (ou o adiamento
dela) de velhos durões, Amigos
Inseparáveis é mais um a rondar o tema do peso do tempo. Com esperado
saudosismo melancólico, coloca seus personagens com as rugas claras e os vincos
dos rostos expostos. Tem momentos autênticos muito bons, mas perde-se na falta
de equilíbrio entre ser legal e divertido ou apresentar uma esfera dramática
com peso mais sólido. Paira então no superficial, com momentos de brilho
espontâneo e outros de total desperdício.
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Stand Up Guys
Fisher Stevens
EUA, 2012
95 min.
Trailer
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