segunda-feira, abril 30, 2012

Girimunho









CRÍTICA PUBLICADA ORIGINALMENTE NO PORTAL CINECLICK

Girimunho é representante de um tipo de cinema nacional recente que faz a alegria do “público de festival”, mas não entusiasma distribuidores e exibidores. Prova disso está no reconhecimento que recebeu em festivais e o fato de entrar em cartaz em uma única sala de cinema em São Paulo.

Como outros de sua geração, o longa busca diálogo muito mais com a imagem do que com a narrativa, fazendo da contemplação da vida seu objeto de estudo. A vida que contempla é de Bastú (Maria Sebastiana Alves), uma senhora de avançada idade que vive em São Romão, no sertão de Minas Gerais. Após o falecimento de seu marido Feliciano, resta a ela a companhia dos netos e da vizinha tocadora de batuque. Um universo estreito que passa a se desdobrar em suaves tonalidades de sons e silêncios pertencentes a um cotidiano particular.

Assim, o filme caminha pela indefinição entre o documental e o ficcional, outra característica que vem se repetindo neste cinema “autoral” que desponta pelo país. Bastú interpreta a si mesma e a seu dia-a-dia. Entre o simulado e o espontâneo – que também afeta a todos os outros personagens do filme – ela é condutora e objeto da tênue narrativa que se monta a partir de seu olhar sobre a vida.

Em Girimunho, que quer dizer redemoinho, os diretores Helvécio Marins e Clarissa Campolina buscam a poesia da passagem de tempo em um lugar onde o tempo passa num ritmo diferente. Metáforas com o rio e com a morte, despedidas que simbolizam o luto e a cadência da continuidade do mundo fazem parte do jogo de sentidos que o filme traz. É poético na sua construção e apresenta uma fotografia que consegue captar a beleza delicada desse processo.

Dentro de sua proposta autoral, de busca por uma revelação de lugar e tempo, de engrenagens intangíveis que movem o cotidiano de um espaço atemporal, o filme dialoga com delicada poesia. Tem na prosódia de seus diálogos um flerte com o sertão mítico de Guimarães Rosa, mas sem a parte da aventura. Por outro lado, Girimunho é o que se chama de “filme miúra”, cujo principal problema é encasular-se dentro de si, restringindo-se a um público supostamente iniciado e que está antecipadamente predisposto a absorvê-lo e digeri-lo. Não é feito para grandes plateias, apesar da beleza que desponta de suas imagens.
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Girimunho
Helvécio Marins e Clarissa Campolina
Brasil, 2011
90 min.

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quinta-feira, abril 26, 2012

As Idades do Amor





Terceiro filme de uma franquia do cinema italiano, As Idades do Amor é o título em português para Manuale D’Amore 3. Mas se você não viu os filmes anteriores – de 2005 e 2007, respectivamente – nada perde, pois as tramas são independentes. Na verdade, fragmentadas, uma vez que todos os filmes são compostos por episódios, histórias curtas que se sucedem.

Nesta terceira investida, a premissa é de contar três histórias de amor, vividas em três tempos da vida. Amarrando as três histórias, um cupido, na figura de um taxista. Não apenas desnecessário, mas também sem nexo. Melhor fingir que ele não existe.

Primeiro, o amor na juventude. Jovem casal prestes a se casar. Mesmo apaixonados, no ar aquela dúvida. Coisa certa a fazer? Advogado em início de carreira, o rapaz quer ascender. É incumbido por sua firma de resolver uma pendenga no interior da Itália, numa pequena e peculiar cidade. Assunto delicado, interesses pouco nobres e um punhado de tipos estranhos.

Depois, o amor na maturidade. Jornalista bem sucedido, conhecido e respeitado nacionalmente. Casado. De repente, a sedutora promessa de sexo casual. Mas a coisa se complica. Por fim, o amor na terceira idade. Americano vivendo em Roma. Professor de história aposentando. Conhece a filha do seu melhor amigo italiano, companheiro de toda hora. Em pouco tempo, um novo sentimento o fará rejuvenescer.

Entre estas três historietas, nada se encaixa. Não há sintonia entre uma e outra e o conjunto não é apenas irregular, é sofrível. O primeiro episódio funciona mal. Vai para o romantismo mais enjoativo, do tipo que faz mal a hiperglicêmicos. O humor que tenta fazer não engrena, emperra. Tudo é artificial e forçado.

Boa e divertida é a segunda história, que poderia até render um filme inteiro. Nela, deixa-se de lado o romantismo e vai-se sem medo para a comédia de situação. A mistura cômica dos trejeitos do ator Carlo Verdone com a sensualidade agressiva da atriz Donatella Finocchiaro dão em cenas engraçadas. Únicas que realmente salvam o filme.

Na última história, a total falta de gancho deixa tudo solto. Tem-se a impressão de um improviso de roteiro para encaixar Robert De Niro e Monica Bellucci. Não se vai ao cômico, nem se entrega ao romântico demais. De trama frouxa, resta apostar nos atores-chamarizes e seu carisma. Neste quesito, inevitavelmente, chama atenção a exuberância de Monica Bellucci e sua sensualidade absurda.

Mostrando-se bem acima da linha de magreza exigida hoje pelos ditames da estética da anorexia, tira daí uma sensualidade autêntica, natural. Visivelmente sem esforço, consegue mesmo assim sintetizar o erotismo buscado nos outros segmentos de modo tão falho.

Entretanto, mesmo esses atributos não são suficientes para dar ao filme o mínimo de substância. Sua fórmula é esquemática, disfuncional e entediante. Pode servir como telefilme numa ocasião qualquer. Mas como cinema é um desperdício de atores e de tempo.
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Manuale d'am3re
Giovanni Veronesi
Itália, 2011
125 min.

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domingo, abril 22, 2012

Diário de um Jornalista Bêbado



CRÍTICA PUBLICADA ORIGINALMENTE NO PORTAL CINECLICK

Hunter S. Thompson (1937-2005) foi um controverso escritor e jornalista norte-americano. Considerado pai do que ficou conhecido como jornalismo gonzo (quando quem relata os fatos também se mistura à narrativa), seus personagens funcionam como alter egos, relatando aventuras pelas quais o próprio autor passou.

Em 1998, Johnny Depp deu vida a um desses personagens em Medo e Delírio, encarnando um jornalista que vai a Las Vegas cobrir um evento esportivo e acaba mergulhado numa lisérgica viagem de alucinações. Agora, em Diário de um Jornalista Bêbado – outra adaptação de um livro de Thompson -, Depp assume o papel de Paul Kemp, repórter que, nos anos 50, sai de Nova York para trabalhar em Porto Rico.

Na cidade de San Juan, ele é contratado pelo jornal local The San Juan Star. Logo na chegada, percebe que há uma intensa agitação popular contra a publicação e algumas figuras poderosas da região.

Kemp assume a seção de horóscopo do periódico enquanto batalha para conseguir uma reportagem importante. Ao mesmo tempo, arrastado pelo consumo desenfreado de álcool, passa a se envolver com figuras decadentes e desajustadas. Tipos como Moberg (Giovanni Ribisi, de Inimigos Públicos e Avatar), um alcoólatra admirador de Hitler; e Sala (Michael Rispoli, de Kick Ass – Quebrando Tudo), experiente e desajeitado repórter do jornal.

O contraponto desse universo decadente vem na figura sedutora do ex-jornalista Sanderson (Aaron Eckhart, de Batman – O Cavaleiro das Trevas). Envolvido com os poderosos locais, Sanderson articula projetos de especulação imobiliária em ilhas paradisíacas da região. Ele tenta convencer Kemp a participar indiretamente desses projetos, escrevendo artigos favoráveis no jornal. Mas o recém-chegado jornalista fica mesmo é obcecado pela esposa de Sanderson, a bela e sensual Chenault (Amber Heard).

O leve tom de anarquia e a falta de rumo certo para o andamento da narrativa são dois elementos que temperam e, ao mesmo tempo, enfraquecem o filme. Se for encarado como uma viagem, que às vezes beira o insólito, pode até ser uma experiência divertida. Por outro lado, a trama costurada pelo roteiro é demasiadamente frouxa. Quase sem conflitos e com personagens um tanto à deriva, a história parece nunca deslanchar, chegando a deixar algumas subtramas soltas pelo meio do caminho.

Nesta jornada etílica, Kemp vive por algum tempo a dúvida entre aceitar servir aos poderosos ou denunciá-los em uma reportagem. Mas, no meio de toda turbulência que o envolve, outras questões se apresentam e o levam a mais encruzilhadas.

Mesmo irregular, o filme apresenta divertidos momentos de deboche, além de pincelar interessantes provocações quanto ao exercício do jornalismo. Mas tudo se dilui na fraca amarração da história. Depp, mesmo sem parecer inspirado, dá conta do personagem, apesar de repetir mecanicamente alguns trejeitos já conhecidos. O destaque, contudo, fica para Michael Rispoli. Sua caracterização de Sala, um jornalista cético e irremediavelmente desiludido, é uma das melhores coisas do filme. O restante fica à deriva, entre altos e baixos.
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The Rum Diary
Bruce Robinson
EUA, 2011
120 min.
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sexta-feira, abril 20, 2012

Os Vingadores




A Marvel apostou alto. Antes de trazer às telas Os Vingadores (principal equipe de super-heróis do universo Marvel), fez um filme solo para cada um dos principais membros da equipe. Assim, o público pouco entrosado com histórias em quadrinhos pôde conhecer antes Homem de Ferro, O Incrível Hulk, Thor e Capitão América em aventuras solo. A estratégia gerou expectativa e temor. Com exceção de Homem de Ferro, nenhum dos outros filmes convenceu inteiramente. A chegada de Os Vingadores poderia redimir isso ou decepcionar de vez.

Pois a verdade é que a Marvel guardou o melhor para o final. Os Vingadores é um filme que consegue de forma muito eficaz traduzir o espírito da equipe das HQs, trazê-la para a tela grande e entusiasmar fãs e espectadores de ocasião. Como filme de aventura, ação e fantasia garante diversão na dose certa, principalmente porque regula corretamente elementos que, quando mal administrados, podem ser a derrocada de uma saga. 

Narrativa crescente, tensão calculada, embates épicos e ação explosiva. São esses os elementos que o filme apresenta na medida e na hora certa. O roteiro é simples, como convém a um filme que precisa apresentar, reunir e colocar em ação uma boa meia-dúzia de egos superpoderosos. Para não dar spolier, basta dizer que a Terra corre perigo porque alguém quer dominar o mundo e tem bala na agulha para isso. Para defender o planeta, a S.H.I.E.L.D. (agência ultra secreta e ultra bem equipada do governo) articula a criação de um grupo de super seres. Mas não será simples convencê-los a trabalhar juntos.

Timing é o grande achado de Os Vingadores. É a dosagem bem aplicada entre andamento da história e cenas de ação que faz dele uma ótima experiência de cinema dentro de seu gênero. Justamente por evitar a estupidez de simplesmente “empilhar” cenas de ação uma atrás da outra. Mesmo com um roteiro simples, consegue diversificar o tempo da cada coisa. Pontua os embates que os fãs sempre quiseram ver entre seus super-heróis favoritos e garante movimentação enquanto o eixo principal da trama se desenvolve. Na hora certa, a batalha final colocará o público no olho do furacão de uma sequência de ação envolvente e inspirada.

No meio tempo, o filme apresenta ainda um pequeno trunfo. Desenvolve um sutil filete de tensão e suspense em paralelo. Esta tensão diz respeito ao “mostro” que todos temem e anseiam ao mesmo tempo, mas que reluta em aparecer pela primeira vez. Trata-se do Hulk, que na figura do Dr. Bruce Banner (Mark Ruffalo) cria uma apreensão e curiosidade crescente.

Ruffalo não encarna um Dr. Banner frágil e delicado, como o fizeram anteriormente Edward Norton (O Incrível Hulk, de 2008) e Erik Bana (Hulk, de 2003). Em vez da franzina figura que serve de antítese ao gigante esmeralda, o Banner de Ruffalo contrasta com seu “outro” através da fala suave, da voz sempre modulada, da tranquilidade monástica. Sua fragilidade se apresenta no olhar e nos gestos, não no físico. De todo o elenco, talvez apenas ele e Robert Downey Jr. atuem de verdade, no sentido sério da palavra.

Muito de Os Vingadores se apoia na criatura Hulk. É em torno dele, de suas possibilidades terríveis, que se cria um suspense e uma promessa. No seu poderio devastador pode estar a salvação, o elo mais poderoso da corrente. Mas para isso ele precisa estar sob certo controle, o que no caso da fera verde é sempre algo temerário.

Já no quesito aparência – um detalhe técnico fundamental para sua composição digital e grande calcanhar de Aquiles dos filmes anteriores – o resultado é muito mais satisfatório. Talvez pela sua representação de fera indomesticável, pela cor, tamanho e textura, seja mesmo muito difícil encontrar um equilíbrio na sua criação digitalizada. Mas o que se fez foi honesto e cuidadoso o bastante para não desagradar. (*)

Por fim, o que pode vir a incomodar aos fãs mais exigentes com fidelidade, talvez seja justamente o que mais vai agradar ao grande público. O senso de humor exibido pelo filme, tanto em diálogos como em situações, às vezes passa um pouco do limite e beira o nonsense. Faz-se piada o tempo todo, desde referências para nerds até situações de humor físico. Vai muito além de um alívio cômico pontuando a história, embora nunca chegue à comédia declarada. Quem buscar gravidade e solenidade no filme, certamente vai se decepcionar. Mas quem se deixar levar, certamente vai se divertir muito.

Como finalização do primeiro estágio de um grande e arriscado projeto da Marvel, Os Vingadores é um acerto raro. Ao assisti-lo, me diverti – rejuvenescidamente – como há muito tempo não me divertia num filme de ação. E, num filme desse tipo, diversão é sempre o que realmente importa.

(*) A exibição para a imprensa foi realizada em 2D, mas o filme foi feito para 3D. A questão da textura e aparência do Hulk pode sofrer mudança radical graças ao efeito em três dimensões, para melhor ou para pior. É algo a ser conferido.
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The Avengers
Joss Whedon
EUA, 2012
142 min.

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segunda-feira, abril 16, 2012

Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios


Renato Ciasca, um dos diretores de Eu Receberia..., afirma que ele e Beto Brant (com quem coassina a direção) fizeram um filme sobre o amor incondicional. Beto Brant, por sua vez, ressalta o aspecto sensorial da obra, muito mais que o narrativo. O sensorial e o amor incondicional são, de fato, dois importantes aspectos do livro homônimo de Marçal Aquino, no qual o filme é baseado. E para traduzir em imagens duas forças tão abstratas, os diretores apostaram menos na narrativa formal e mais na força das cenas. O resultado é uma entrega intensa, personificada na interpretação que Camila Pitanga faz de Lavínia, a personagem que é o eixo arrebatador na vida de dois homens.

Após um primeiro plano enigmático, introdução para a sensualidade e o mistério que o filme pretende construir, conhecemos Lavínia. Sua primeira aparição revela um desconcerto. Depois, o fogo inconsumível. Em uma cidade no interior do Pará, ela se entrega ao forasteiro Cauby (Gustavo Machado). Ele é fotógrafo profissional, do tipo que não fica muito tempo no mesmo lugar. Ela é esposa do pastor Ernani (Zécarlos Machado), o líder religioso da comunidade cuja pregação traz um discurso sincretista e fortemente político, de veemente crítica à exploração da região pelas madeireiras. Este é o pano de fundo do triângulo amoroso.

O amor de Lavínia e Cauby só pode ser traduzido pelo sensorial. Brant e Ciasca entenderam isso muito bem. No livro, a construção dessa relação perpassa tempos mortos intercalados pela efervescência das horas de sexo. Isso também foi entendido pelo filme, que traz cenas quentes com a nudez de Camila Pitanga. Uma nudez e um calor sensual que nunca se torna vulgar. Ao invés, amplifica-se de delicadeza graças à fotografia afinada com a narrativa. E também graças à beleza dos corpos dos amantes e, principalmente, graças a uma interpretação de rara intensidade por parte da atriz Camila Pitanga.

Com uma experiência de sete filmes em parceria com o escritor Marçal Aquino, Beto Brant não cai no equívoco de uma adaptação que se perde no caminho da literalidade. Para tentar traduzir o intangível da relação dos amantes, os diretores arriscam uma construção que distende e ao mesmo tempo fragmenta o tempo. O efeito funciona, ainda que o excesso do recurso de fade out (efeito de desaparecimento gradual da imagem) separando as cenas fragmente também a tensão, importante elemento da história.

O resultado é que o perigo iminente, que em certo momento cerca os envolvidos, nunca é percebido em sua gravidade, e quando se desdobram acontecimentos trágicos o efeito (e até a recepção de alguns personagens) acaba enfraquecido. Como o que há de mais sólido na aventura desses amantes é o perigo iminente e as consequências inesperadas, o filme perde vigor nesse sentido.

Por outro lado, a obra alcança um acerto de altíssima qualidade na construção de Lavínia, verdadeiro ponto de emanação de toda desventura da trama. Ela é mais que a mulher-desejo e a contradição desse desejo. Ela é o mistério, a provocação, a esfinge que te devora; quer você a decifre ou não. Para tornar possível essa Lavínia de múltiplas faces e perigos, Camila Pitanga se travestiu de enigma ao incorporar com vasto repertório as fases dessa personagem. Da ardente paixão ao desespero profundo, Pitanga ilumina cada cena em que aparece.

Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios é acima de tudo um filme de entrega. Sua história de amor incondicional e sua narrativa se assentam nas sensações. Na amarração dessa aventura, acerta no tom e na intensidade. Com isso, torna-se uma experiência que afaga e castiga, que acaricia e machuca. É cinema feito não apenas para a cabeça, mas para o corpo inteiro.
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Beto Brant e Renato Ciasca
Brasil, 2011

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sábado, abril 14, 2012

12 Horas



Depois de Nina, O Cheiro do Ralo e À Deriva – três produções nacionais que mostravam um constante amadurecimento de seu diretor –, o cineasta pernambucano Heitor Dhalia entra para o grupo de diretores brasileiros a trabalhar em Hollywood. Ele topou o desafio, mesmo sabendo das amarras que isso implicaria. Afinal, diferente do que estava acostumado no Brasil, o diretor não teve a mesma liberdade e sentiu na pele a pressão de se trabalhar em um ambiente como o da indústria de cinema norte-americana.

O resultado disso é 12 Horas, estrelado por Amanda Seyfried (de A Garota da Capa Vermelha e Mamma Mia). Um filme quase correto, sem qualquer brilho ou inventividade. Trata-se de um thriller de suspense e como filme de gênero segue a cartilha e faz a lição de casa. Nada mais.

Seyfried é Jill, uma garota que vive em uma pequena cidade do Oregon. Ela divide a casa com a irmã Sharon (Jennifer Carpenter, de O Exorcismo de Emily Rose) e trabalha a noite em uma lanchonete. Jill sofre de um forte trauma, resultado de fatos acontecidos dois anos atrás. No episódio, ela fora encontrada em uma floresta nos arredores da cidade. Dizia ter escapado de um serial killer que a levara de casa no meio da noite e a jogara em um buraco no meio da floresta. Como ela não apresentava sinais de violência ou abuso sexual e o buraco nunca fora encontrado, todos passaram a duvidar de sua história.

Obcecada em provar que dizia a verdade, desde então ela tem vasculhado a floresta em busca de pistas. Até que um dia, ao voltar para casa do trabalho, descobre que a irmã desapareceu. Certa de que o assassino voltou, tenta alertar a policia, que mais uma vez duvida dela. Sem alternativa, passa a procurar pela irmã sozinha enquanto foge dos policiais, que passam a considerá-la perigosa por estar armada.

Desse ponto em diante, o filme se desenrola nos termos da cartilha desse gênero. Pena que escolhe pôr em prática as lições mais básicas ao invés de buscar pelas avançadas ou criativas. Perde muito, por exemplo, em não explorar ao máximo a ambiguidade de sua protagonista. Sua obsessão poderia render um bom gancho para manter acesa a dúvida e o suspense a respeito de suas motivações serem reais ou fruto de sua paranoia.

Mas nada é pior do que o desfecho decepcionante e apressado. Com um anticlímax mal arranjado, deixa a impressão de roteiro remendado, de serviço feito às pressas. Assim, o que já vinha medíocre termina tedioso.

Por seguir certos passos da cartilha, 12 Horas até funciona em alguns momentos, mas muito pouco para o que se poderia esperar do gênero. Desse resultado, pouco se pode culpar o diretor, sempre atado a contratos e produtores, além de neófito em um mundo cheio de armadilhas. Mas tampouco se pode isentá-lo, uma vez que está lá, assinado por ele.
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Gone
Heitor Dhalia
EUA, 2012
94 min.

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sexta-feira, abril 13, 2012

Como Agarrar Meu Ex-Namorado



CRÍTICA PUBLICADA ORIGINALMENTE NO PORTAL DE CINEMA CINECLICK

O título e o cartaz de Como Agarrar Meu Ex-Namorado podem nos levar a crer que se trate apenas de mais uma comédia romântica. E de fato é. Mas neste caso há ingredientes que fazem alguma diferença. Além do misto de humor e romance, o que se vê na tela é um “policial soft”, uma trama de investigação com pegada de série televisiva que torna a experiência até agradável.

Boa parte desse resultado positivo vem da atriz Ketherine Heigl (de Ligeiramente Grávidos), que dá à sua personagem um equilibrado tom que vai da ingenuidade voluntariosa a uma inadvertida valentia. Ela interpreta Stephanie Plum, jovem endividada que precisa urgentemente de trabalho. Sua última experiência foi como atendente da seção de lingerie de uma loja de departamentos, atividade nada parecida com a que pretende encarar por pura falta de opção: caçadora de recompensa. Sua tarefa é localizar e prender foragidos da justiça em troca de um pagamento oferecido pelo Estado.

Mais que dinheiro, o que a leva a aceitar seu primeiro trabalho é uma antiga questão pessoal. O sujeito que tem que “caçar” é Joe Morelli (Jason O’Mara), ex-namorado dos tempos de colégio que a abandonou sem dar explicações. Ele agora é um policial acusado de matar um traficante desarmado. Foragido, tenta provar sua inocência.

Como Agarrar Meu Ex-Namorado é a primeira adaptação para o cinema de uma longa série de livros que tem como protagonista a personagem Stephanie Plum. Criação da escritora norte-americana Janet Evanovich, a publicação é sucesso de vendas nos EUA e conta com mais de 15 títulos (os quatro primeiros foram lançados no Brasil pela editora Rocco). Nesta adaptação, a direção coube a Julie Anne Robinson, que tem longa experiência dirigindo episódios de séries na TV. Isto certamente explica a levada de seriado que o filme muitas vezes tem. E é justamente essa levada que o torna divertido, desde que, claro, se releve alguns exageros de certas situações.

Feitos os devidos descontos, o que sobra é um longa de humor leve que nos poupa de previsíveis e tumultuadas cenas de ação. No lugar disso, se concentra mais no investigativo e cômico. Seu mérito é ser um filme-pipoca que funciona sem precisar ofender nossa inteligência, ainda que nunca exija muito dela.
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One For The Money
Julie Anne Robinson
EUA, 2012
91 min.
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Assista ao trailer

quinta-feira, abril 05, 2012

Entrevista: Beto Brant

Diretor fala ao Eu, Cinema sobre seu novo filme Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios





Ação entre amigos é o título do segundo longa metragem da carreira de Beto Brant, lançado em 1998. E é também a melhor definição de sua inseparável parceria com o escritor Marçal Aquino. Juntos, já realizaram cinco longas em colaboração; Marçal escrevendo, Beto dirigindo. Até mesmo no filme em que Brant não tem Aquino como parceiro (O Amor Segundo B. Schianberg, de 2010) o projeto acabou nascendo de um personagem secundário de um livro do escritor. “Mais do que parceiros profissionais, nos somos grandes amigos”, afirma Beto Brant, que está lançando Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios, dirigido em parceria com Renato Ciasca e que estreia este mês, no dia 20 de abril.

Mais uma vez, Marçal Aquino coassina o roteiro, adaptado de seu livro homônimo, lançado em 2005. No filme, Camila Pitanga faz uma interpretação visceral e corajosa da personagem Lavínia, uma mulher casada que passa a ter um caso com um fotógrafo forasteiro em uma pequena cidade no interior do Pará. A atriz protagoniza cenas intensas de sexo com o ator Gustavo Machado (de Bruna Surfistinha). “Ela não teve pudor algum em se entregar ao papel”, conta o diretor. Ele revela que a atriz se engajou intensamente no projeto: “A Camila é uma atriz fascinante. Além de todo carisma natural ela é muito dedicada. Durante nosso filme ela se isolou de todo esse mundo de fama que a cerca para entrar de cabeça na experiência de descoberta da personagem Lavínia”.


O resultado pode ser conferido no filme. Lavínia, personagem de Camila, exibe uma grande força sensual, mas também destruidora. De temperamento bipolar, ela será o eixo devastador da vida de Cauby, personagem de Gustavo Machado, e de Ernani, seu marido e líder espiritual da região, interpretado por Zécarlos Machado. “O Gustavo e o Zécarlos são dois atores de calibre muito alto, de olhar muito intenso. Mas a Camila mostrou que tinha para troca, que tinha muita bala na agulha”, elogia Beto Brant. “Nesse filme a Camila é como o Paulo Miklos no Invasor. Ela é arrebatadora”, finaliza o diretor referindo-se à elogiada atuação do integrante da banda Titãs no filme O Invasor (2002).

Marçal Aquino


Mesmo com tantos anos de parceria com o escritor Marçal Aquino, Brant diz que não foi nada fácil fazer esta adaptação. “Esse filme foi o maior desafio de nossas carreiras”, afirma o diretor. “O livro tem um nível muito grande de abstração, de sentimento e até de espiritualidade. O resultado é que este é um filme menos narrativo do que nossos trabalhos anteriores”. Conta ainda que antes mesmo de finalizar o roteiro ele foi conhecer a região onde se passa a história. “Nós rodamos mais de 2 mil quilômetros atravessando o Pará de Fiat Mille. Passamos por Novo Progresso, Castelo dos Sonhos; tudo em estrada chão, no meio de caminhão de madeira e tudo. Foi uma viagem inesquecível”.

Beto Brant
Embora esteja no momento focado em lançar o filme e não tenha nenhum projeto novo em vista, a parceria com Marçal Aquino deve se repetir em breve. “Agora eu quero só cuidar do lançamento do filme, porque sinto que estou com uma pérola na mão e quero fazer uma lançamento legal”, diz o diretor, sem, contudo, deixar de dar pistas sobre um futuro filme. Ele revela que está esperando Marçal Aquino terminar seu novo livro, que deve sair agora em 2012, e conta como funciona o processo e a sintonia entre eles. “Como somos muito amigos, geralmente quando ele está escrevendo eu passo lá na casa dele pra tomar um café. Aí ele fala: ‘pô, vem aqui, olha o capítulo fudido que escrevi’. Então ele lê pra mim e eu já vou criando imagens na minha cabeça para um possível filme”.
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Assista ao trailer de Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios

 

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