CRÍTICA PUBLICADA ORIGINALMENTE NO PORTAL CINECLICK
Girimunho é representante de um tipo de cinema nacional
recente que faz a alegria do “público de festival”, mas não entusiasma
distribuidores e exibidores. Prova disso está no reconhecimento que recebeu em
festivais e o fato de entrar em cartaz em uma única sala de cinema em São
Paulo.
Como outros de sua geração, o longa busca diálogo muito mais
com a imagem do que com a narrativa, fazendo da contemplação da vida seu objeto
de estudo. A vida que contempla é de Bastú (Maria Sebastiana Alves), uma
senhora de avançada idade que vive em São Romão, no sertão de Minas Gerais.
Após o falecimento de seu marido Feliciano, resta a ela a companhia dos netos e
da vizinha tocadora de batuque. Um universo estreito que passa a se desdobrar
em suaves tonalidades de sons e silêncios pertencentes a um cotidiano
particular.
Assim, o filme caminha pela indefinição entre o documental e
o ficcional, outra característica que vem se repetindo neste cinema “autoral”
que desponta pelo país. Bastú interpreta a si mesma e a seu dia-a-dia. Entre o
simulado e o espontâneo – que também afeta a todos os outros personagens do
filme – ela é condutora e objeto da tênue narrativa que se monta a partir de
seu olhar sobre a vida.
Em Girimunho, que quer dizer redemoinho, os diretores
Helvécio Marins e Clarissa Campolina buscam a poesia da passagem de tempo em um
lugar onde o tempo passa num ritmo diferente. Metáforas com o rio e com a
morte, despedidas que simbolizam o luto e a cadência da continuidade do mundo
fazem parte do jogo de sentidos que o filme traz. É poético na sua construção e
apresenta uma fotografia que consegue captar a beleza delicada desse processo.
Dentro de sua proposta autoral, de busca por uma revelação
de lugar e tempo, de engrenagens intangíveis que movem o cotidiano de um espaço
atemporal, o filme dialoga com delicada poesia. Tem na prosódia de seus
diálogos um flerte com o sertão mítico de Guimarães Rosa, mas sem a parte da
aventura. Por outro lado, Girimunho é o que se chama de “filme miúra”, cujo
principal problema é encasular-se dentro de si, restringindo-se a um público
supostamente iniciado e que está antecipadamente predisposto a absorvê-lo e
digeri-lo. Não é feito para grandes plateias, apesar da beleza que desponta de
suas imagens.
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Girimunho
Helvécio Marins e Clarissa Campolina
Brasil, 2011
90 min.
Trailer
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