A Marvel apostou alto. Antes de trazer às telas Os Vingadores (principal equipe de super-heróis do universo Marvel), fez um filme solo para cada um dos principais membros da equipe. Assim, o público pouco entrosado com histórias em quadrinhos pôde conhecer antes Homem de Ferro, O Incrível Hulk, Thor e Capitão América em aventuras solo. A estratégia gerou expectativa e temor. Com exceção de Homem de Ferro, nenhum dos outros filmes convenceu inteiramente. A chegada de Os Vingadores poderia redimir isso ou decepcionar de vez.
Pois a verdade é que a Marvel guardou o melhor para o final. Os Vingadores é um filme que consegue de forma muito eficaz traduzir o espírito da equipe das HQs, trazê-la para a tela grande e entusiasmar fãs e espectadores de ocasião. Como filme de aventura, ação e fantasia garante diversão na dose certa, principalmente porque regula corretamente elementos que, quando mal administrados, podem ser a derrocada de uma saga.
Narrativa crescente, tensão calculada, embates épicos e ação
explosiva. São esses os elementos que o filme apresenta na medida e na hora
certa. O roteiro é simples, como convém a um filme que precisa apresentar,
reunir e colocar em ação uma boa meia-dúzia de egos superpoderosos. Para não
dar spolier, basta dizer que a Terra
corre perigo porque alguém quer dominar o mundo e tem bala na agulha para isso.
Para defender o planeta, a S.H.I.E.L.D. (agência ultra secreta e ultra bem
equipada do governo) articula a criação de um grupo de super seres. Mas não
será simples convencê-los a trabalhar juntos.
Timing é o grande
achado de Os Vingadores. É a dosagem
bem aplicada entre andamento da história e cenas de ação que faz dele uma ótima
experiência de cinema dentro de seu gênero. Justamente por evitar a estupidez de
simplesmente “empilhar” cenas de ação uma atrás da outra. Mesmo com um roteiro
simples, consegue diversificar o tempo da cada coisa. Pontua os embates que os
fãs sempre quiseram ver entre seus super-heróis favoritos e garante movimentação
enquanto o eixo principal da trama se desenvolve. Na hora certa, a batalha
final colocará o público no olho do furacão de uma sequência de ação envolvente
e inspirada.
No meio tempo, o filme apresenta ainda um pequeno trunfo.
Desenvolve um sutil filete de tensão e suspense em paralelo. Esta tensão diz
respeito ao “mostro” que todos temem e anseiam ao mesmo tempo, mas que reluta
em aparecer pela primeira vez. Trata-se do Hulk, que na figura do Dr. Bruce
Banner (Mark Ruffalo) cria uma apreensão e curiosidade crescente.
Ruffalo não encarna um Dr. Banner frágil e delicado, como o fizeram anteriormente Edward Norton (O Incrível Hulk, de 2008) e Erik Bana (Hulk, de 2003). Em vez da franzina figura que serve de antítese ao gigante esmeralda, o Banner de Ruffalo contrasta com seu “outro” através da fala suave, da voz sempre modulada, da tranquilidade monástica. Sua fragilidade se apresenta no olhar e nos gestos, não no físico. De todo o elenco, talvez apenas ele e Robert Downey Jr. atuem de verdade, no sentido sério da palavra.
Ruffalo não encarna um Dr. Banner frágil e delicado, como o fizeram anteriormente Edward Norton (O Incrível Hulk, de 2008) e Erik Bana (Hulk, de 2003). Em vez da franzina figura que serve de antítese ao gigante esmeralda, o Banner de Ruffalo contrasta com seu “outro” através da fala suave, da voz sempre modulada, da tranquilidade monástica. Sua fragilidade se apresenta no olhar e nos gestos, não no físico. De todo o elenco, talvez apenas ele e Robert Downey Jr. atuem de verdade, no sentido sério da palavra.
Muito de Os Vingadores
se apoia na criatura Hulk. É em torno dele, de suas possibilidades terríveis,
que se cria um suspense e uma promessa. No seu poderio devastador pode estar a
salvação, o elo mais poderoso da corrente. Mas para isso ele precisa estar sob
certo controle, o que no caso da fera verde é sempre algo temerário.
Já no quesito aparência – um detalhe técnico fundamental
para sua composição digital e grande calcanhar de Aquiles dos filmes anteriores
– o resultado é muito mais satisfatório. Talvez pela sua representação de fera
indomesticável, pela cor, tamanho e textura, seja mesmo muito difícil encontrar
um equilíbrio na sua criação digitalizada. Mas o que se fez foi honesto e
cuidadoso o bastante para não desagradar. (*)
Por fim, o que pode vir a incomodar aos fãs mais exigentes
com fidelidade, talvez seja justamente o que mais vai agradar ao grande público.
O senso de humor exibido pelo filme, tanto em diálogos como em situações, às
vezes passa um pouco do limite e beira o nonsense.
Faz-se piada o tempo todo, desde referências para nerds até situações de humor
físico. Vai muito além de um alívio cômico pontuando a história, embora nunca chegue
à comédia declarada. Quem buscar gravidade e solenidade no filme, certamente vai
se decepcionar. Mas quem se deixar levar, certamente vai se divertir muito.
Como finalização do primeiro estágio de um grande e
arriscado projeto da Marvel, Os
Vingadores é um acerto raro. Ao assisti-lo, me diverti – rejuvenescidamente
– como há muito tempo não me divertia num filme de ação. E, num filme desse
tipo, diversão é sempre o que realmente importa.
(*) A exibição para a
imprensa foi realizada em 2D, mas o filme foi feito para 3D. A questão da
textura e aparência do Hulk pode sofrer mudança radical graças ao efeito em
três dimensões, para melhor ou para pior. É algo a ser conferido.
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The Avengers
Joss Whedon
EUA, 2012
142 min.
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Trailer
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