Há muito que não é segredo a reverência que o diretor americano Brian De Palma rende a seu mestre Alfred Hitchock. Nos filmes de De Palma, as referências são muitas, quase sempre misturadas a uma atmosfera particular que é como uma assinatura do diretor. Uma atmosfera que não é Hitchcock, mas leva o seu tempero de mistério, suspense e estranheza. O problema é que só tempero não basta.
Em Passion, novo filme
de De Palma (refilmagem do francês Crime
de Amor [2010], de Alain Corneau), o tempero que é sua assinatura de pouco
serve para dar substância a um roteiro frágil.
Contudo, mais até do que a fragilidade do roteiro e de suas
pretensões – de ser uma crítica à competitividade corporativa e à vaidade – é
justamente essa assinatura, com os maneirismos típicos do diretor, que dá ao
filme e à sua atmosfera um gosto de repetido.
Rachel McAdams interpreta a loira e cínica Christine, uma alta
executiva de uma agência de publicidade internacional. Entre seus subordinados,
a executiva demonstra atenção especial à promissora Isabelle (Noomi Rapace), uma
morena com algo de inocente e que admira sua chefe, apesar de manter um caso
com seu marido. Mais abaixo nessa hierarquia entra a ruiva Dani (Karoline
Herfurth), a dedicada assistente de Isabelle.
No jogo de poder e sedução que se estabelece desde o início,
o diretor deixa pouco espaço para sutilezas. Desenha o perfil das
personagens não apenas pela cor do cabelo, mas também pelas roupas que vestem,
desfazendo parte da ambiguidade proposta nas relações que as entrelaça.
Uma ambiguidade feita menos de nuances de caráter e mais por tentativas de nuances homoeróticas. Aqui o diretor parece se esquecer que sem sutileza não há nuances, pois o erotismo exibido vai do asséptico comportado ao óbvio anunciado. Nesse quadro, as atuações das boas atrizes cai num artificialismo que pode até ser proposital, mas que não deixa de ser apenas mais um ruído no tecido dramático do filme.
Uma ambiguidade feita menos de nuances de caráter e mais por tentativas de nuances homoeróticas. Aqui o diretor parece se esquecer que sem sutileza não há nuances, pois o erotismo exibido vai do asséptico comportado ao óbvio anunciado. Nesse quadro, as atuações das boas atrizes cai num artificialismo que pode até ser proposital, mas que não deixa de ser apenas mais um ruído no tecido dramático do filme.
A verdade, porém, é que De Palma se repete. Repete-se na
criação de uma atmosfera de sensualidade artificial (agora comportada e careta),
repete-se na criação de personagens ambíguos que existem claramente apenas em
função de um suspense esquemático e repete-se na articulação de um crime que se
pretende perfeito, mas que no seu desvendamento não deixa de passar por um longo
flashback explicativo.
Nas repetições, estão ali a tela dividida (Carrie, a Estranha, Femme Fatale), a perspectiva em primeira pessoa para ocultar o
autor do crime (Missão Impossível, Olhos de Serpente) e os disfarces ou
máscaras quase como um sintomático fetiche (Síndrome
de Caim, Missão Impossível). Até
mesmo o susto final é uma repetição exata do susto final de outro filme do
diretor, que não mencionarei para evitar um spoiler involuntário.
Além de toda essa repetição de maneirismos próprios, pontuam
a narrativa as típicas referências a Hitchcock, em especial, neste caso, a Um Corpo Que Cai.
Vaidade, fetichismo, voyerismo, assassinato. Também na
temática o diretor se repete. Sem inovação, o único refresco é uma tentativa de
fazer de Passion uma crítica à
ambição desmedida e ao vespeiro cínico das altas cúpulas corporativas, além da
questão da imagem na sociedade moderna com sua ultraconectividade e vídeo-dinâmica.
O resultado dessa crítica fica apenas na superfície, fazendo
de Passion uma simples história de
crime e obsessão, articulado com as mesmas ferramentas que o diretor vem usando
há muitos anos. Estas ferramentas até funcionaram bem no passado, mas seu
desgaste deixa este novo filme com cara de mais do mesmo, mais uma vez.
--
Passion
Brian De Palma
Alemanha/França, 2012
102 min.
Trailer
1 comentários:
Vale assistir por ser um filme do DePalma e por ter 2 atrizes desse calibre no filme! Qualquer coisa com Rachel McAdams vale a pena ser assistido!
Postar um comentário