CRÍTICA PUBLICADA ORIGINALMENTE NO PORTAL CINECLICK
Hunter S. Thompson (1937-2005) foi um controverso escritor e
jornalista norte-americano. Considerado pai do que ficou conhecido como
jornalismo gonzo (quando quem relata os fatos também se mistura à narrativa),
seus personagens funcionam como alter egos, relatando aventuras pelas quais o
próprio autor passou.
Em 1998, Johnny Depp deu vida a um desses personagens em
Medo e Delírio, encarnando um jornalista que vai a Las Vegas cobrir um evento
esportivo e acaba mergulhado numa lisérgica viagem de alucinações. Agora, em
Diário de um Jornalista Bêbado – outra adaptação de um livro de Thompson -,
Depp assume o papel de Paul Kemp, repórter que, nos anos 50, sai de Nova York
para trabalhar em Porto Rico.
Na cidade de San Juan, ele é contratado pelo jornal local
The San Juan Star. Logo na chegada, percebe que há uma intensa agitação popular
contra a publicação e algumas figuras poderosas da região.
Kemp assume a seção de horóscopo do periódico enquanto
batalha para conseguir uma reportagem importante. Ao mesmo tempo, arrastado
pelo consumo desenfreado de álcool, passa a se envolver com figuras decadentes
e desajustadas. Tipos como Moberg (Giovanni Ribisi, de Inimigos Públicos e
Avatar), um alcoólatra admirador de Hitler; e Sala (Michael Rispoli, de Kick
Ass – Quebrando Tudo), experiente e desajeitado repórter do jornal.
O contraponto desse universo decadente vem na figura
sedutora do ex-jornalista Sanderson (Aaron Eckhart, de Batman – O Cavaleiro das
Trevas). Envolvido com os poderosos locais, Sanderson articula projetos de
especulação imobiliária em ilhas paradisíacas da região. Ele tenta convencer
Kemp a participar indiretamente desses projetos, escrevendo artigos favoráveis
no jornal. Mas o recém-chegado jornalista fica mesmo é obcecado pela esposa de
Sanderson, a bela e sensual Chenault (Amber Heard).
O leve tom de anarquia e a falta de rumo certo para o
andamento da narrativa são dois elementos que temperam e, ao mesmo tempo,
enfraquecem o filme. Se for encarado como uma viagem, que às vezes beira o
insólito, pode até ser uma experiência divertida. Por outro lado, a trama
costurada pelo roteiro é demasiadamente frouxa. Quase sem conflitos e com
personagens um tanto à deriva, a história parece nunca deslanchar, chegando a
deixar algumas subtramas soltas pelo meio do caminho.
Nesta jornada etílica, Kemp vive por algum tempo a dúvida
entre aceitar servir aos poderosos ou denunciá-los em uma reportagem. Mas, no
meio de toda turbulência que o envolve, outras questões se apresentam e o levam
a mais encruzilhadas.
Mesmo irregular, o filme apresenta divertidos momentos de deboche,
além de pincelar interessantes provocações quanto ao exercício do jornalismo.
Mas tudo se dilui na fraca amarração da história. Depp, mesmo sem parecer
inspirado, dá conta do personagem, apesar de repetir mecanicamente alguns
trejeitos já conhecidos. O destaque, contudo, fica para Michael Rispoli. Sua
caracterização de Sala, um jornalista cético e irremediavelmente desiludido, é
uma das melhores coisas do filme. O restante fica à deriva, entre altos e
baixos.
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The Rum
Diary
Bruce
Robinson
EUA, 2011
120 min.
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Trailer
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