domingo, dezembro 02, 2012

Argo

A se levar em conta Ben Affleck como ator, pode ser uma surpresa que como diretor ele tenha realizado um filme muito bom. Mas isso não é inédito, já que esta não é a primeira aventura de Affleck na direção. Em 2007 ele realizou Medo da Verdade e em 2010, Atração Perigosa. Em nenhum deles se mostrou brilhante, mas tampouco realizou filmes ruins.

O que este ator mediano tem exibido como diretor é algo raro: competência. Um atributo escasso na Hollywood dos últimos anos. Se o brilhantismo é ainda mais raro e a baixa mediocridade impera nas produções do cinema americano, ver um filme realizado com competência já é motivo suficiente para celebração. Especialmente quando ela surge de onde menos se espera.

Argo é baseado em uma história real. Uma operação da CIA, realizada em 1980, que ficou arquivada como ultrassecreta até 1997, quando o presidente Bill Clinton autorizou sua desclassificação sigilosa. Trata-se do resgate de seis funcionários da embaixada americana no Irã, logo após a revolução dos aiatolás, em 1979.

Na ocasião, a embaixada foi invadida pelos radicais da revolução, que fizeram 52 norte-americanos reféns. O episódio ficou conhecido como a crise dos reféns no Irã e durou mais de um ano. Mas o filme não é sobre isso. É sobre um grupo de seis funcionários que conseguiram fugir durante a invasão da embaixada e ficaram escondidos na casa do embaixador canadense. Por diversas razões, era preciso tirar esses seis refugiados do país o mais rápido possível. Daí nasceu a operação “Argo”.

Ben Affleck interpreta o especialista em “exfiltração” (o oposto de infiltração) Tony Mendez. Entre planos absurdos sugeridos pela CIA, como fazer os refugiados saírem do país em bicicletas, pedalando 500 km em pleno inverno, a sugestão de Mendez foi a mais absurda. Ele quis simular a realização de um filme de ficção científica e tirar os refugiados norte-americanos fazendo-os se passarem por integrantes da produção do filme.

Para dar certo, o plano exigia uma montagem convincente de uma produção, com participação de produtores reais de Hollywood, com a imprensa acreditando que um filme estava sendo feito e com um roteiro de verdade, além de todo material publicitário. Mais uma vez, a realidade mostra que pode ser mais estranha que a ficção.

A grande competência mostrada em Argo por seu diretor está em orquestrar e fazer transitar as duas metades muito distintas do filme. Na primeira, há um tom de graça, tanto no modo como os oficiais da CIA se autorrecriminam pelos erros de avaliação, quanto no mundo do cinema, com piadas autodepreciativas sobre o meio artístico. Na segunda metade, o clima é de tensão, com a operação em pleno andamento em território iraniano.

O modo como o filme transita de um tom para outro, sem solavanco ou suspensão da credibilidade, é consequência de uma montagem afinada, de um bom roteiro e da condução sem excessos de Affleck. O resultado diverte e tensiona o público numa medida correta, eficaz. Sua engrenagem funciona, e funciona muito bem.

Pode-se sempre se dizer que a história real em si, com tudo que tem de absurda, seja suficientemente boa para segurar um filme. Mas ela não funcionaria sozinha. Para servir como cinema é preciso mais do que uma boa história, é preciso saber desenvolvê-la e mesmo desembaraçá-la.

Nesse aspecto, Argo e seu diretor merecem reconhecimento. Pois com uma trama tão absurda como esta, o pantanoso da situação improvável poderia facilmente fazer o filme atolar. Em vez disso, o que se vê é uma narrativa que desliza com segurança, alternando de forma bem dosada seus momentos de riso e de risco. É essa segurança de pulso, livre de excessos, que faz de Ben Affleck um diretor bastante convincente.
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Argo
Bem Affleck
EUA, 2012
120 min.

Trailer

1 comentários:

Nadia disse...

Assisti ao filme ontem. Muito eletrizante! Difícil acreditar que seja baseado numa história real. A vontade de um homem, a VERDADEIRA vontade, pode conduzir todo um grupo.

 

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