O que este ator mediano tem exibido como diretor é algo raro:
competência. Um atributo escasso na Hollywood dos últimos anos. Se o brilhantismo é ainda
mais raro e a baixa mediocridade impera nas produções do cinema americano, ver
um filme realizado com competência já é motivo suficiente para celebração.
Especialmente quando ela surge de onde menos se espera.
Argo é baseado em
uma história real. Uma operação da CIA, realizada em 1980, que ficou arquivada
como ultrassecreta até 1997, quando o presidente Bill Clinton autorizou sua
desclassificação sigilosa. Trata-se do resgate de seis funcionários da
embaixada americana no Irã, logo após a revolução dos aiatolás, em 1979.
Na ocasião, a embaixada foi invadida pelos radicais da
revolução, que fizeram 52 norte-americanos reféns. O episódio ficou conhecido
como a crise dos reféns no Irã e durou mais de um ano. Mas o filme não é sobre
isso. É sobre um grupo de seis funcionários que conseguiram fugir durante a
invasão da embaixada e ficaram escondidos na casa do embaixador canadense. Por
diversas razões, era preciso tirar esses seis refugiados do país o mais rápido
possível. Daí nasceu a operação “Argo”.
Ben Affleck interpreta o especialista em “exfiltração” (o oposto
de infiltração) Tony Mendez. Entre planos absurdos sugeridos pela CIA, como fazer
os refugiados saírem do país em bicicletas, pedalando 500 km em pleno inverno,
a sugestão de Mendez foi a mais absurda. Ele quis simular a realização de um
filme de ficção científica e tirar os refugiados norte-americanos fazendo-os se
passarem por integrantes da produção do filme.
Para dar certo, o plano exigia uma montagem convincente de
uma produção, com participação de produtores reais de Hollywood, com a imprensa
acreditando que um filme estava sendo feito e com um roteiro de verdade, além
de todo material publicitário. Mais uma vez, a realidade mostra que pode ser
mais estranha que a ficção.
A grande competência mostrada em Argo por seu diretor está em orquestrar e fazer transitar as duas
metades muito distintas do filme. Na primeira, há um tom de graça, tanto no
modo como os oficiais da CIA se autorrecriminam pelos erros de avaliação, quanto
no mundo do cinema, com piadas autodepreciativas sobre o meio artístico. Na
segunda metade, o clima é de tensão, com a operação em pleno andamento em território
iraniano.
O modo como o filme transita de um tom para outro, sem
solavanco ou suspensão da credibilidade, é consequência de uma montagem
afinada, de um bom roteiro e da condução sem excessos de Affleck. O resultado
diverte e tensiona o público numa medida correta, eficaz. Sua engrenagem funciona,
e funciona muito bem.
Pode-se sempre se dizer que a história real em si, com tudo
que tem de absurda, seja suficientemente boa para segurar um filme. Mas ela não
funcionaria sozinha. Para servir como cinema é preciso mais do que uma boa
história, é preciso saber desenvolvê-la e mesmo desembaraçá-la.
Nesse aspecto, Argo
e seu diretor merecem reconhecimento. Pois com uma trama tão absurda como esta,
o pantanoso da situação improvável poderia facilmente fazer o filme atolar. Em
vez disso, o que se vê é uma narrativa que desliza com segurança, alternando de
forma bem dosada seus momentos de riso e de risco. É essa segurança de pulso,
livre de excessos, que faz de Ben Affleck um diretor bastante convincente.
--
Argo
Bem Affleck
EUA, 2012
120 min.
Trailer
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1 comentários:
Assisti ao filme ontem. Muito eletrizante! Difícil acreditar que seja baseado numa história real. A vontade de um homem, a VERDADEIRA vontade, pode conduzir todo um grupo.
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