CRÍTICA PUBLICADA ORIGINALMENTE NO SITE CINECLICK
Em A Arte da Conquista,
o jovem George (Freddie Highmore) está quase sempre vestindo sobretudo. Em
determinado momento, justifica o uso insistente do traje dizendo ironicamente
que gosta de camadas. Com esta cena, o diretor estreante – e também autor do
roteiro – Gavin Wiesen entrega involuntariamente a frágil mecânica de seu
filme: uma história conservadora envernizada por uma camada de cinema
norte-americano independente e moderninho.
Cursando o último ano do ensino médio, George prefere
desenhar e fazer reflexões sobre o sentido da vida do que seus deveres
escolares. Diretor e professores sabem que seu grande potencial está perto de
ser desperdiçado pelo desinteresse em relação aos estudos. Como todo jovem
perto do fim da adolescência, ele experimenta a crise existencial da idade, um
sentimento de não pertencimento misturado à percepção de que a vida se desloca
rapidamente rumo ao futuro desconhecido.
É no meio dessa ebulição que conhece Sally (Emma Roberts), aluna
do último ano. Mas, ao contrário dele, ela não potencializa sua crise tão
radicalmente. Cada vez mais próximos, desenvolvem uma amizade espontânea, porém
marcada por um claro descompasso. Ele finge ser apenas um amigo (tentando
ignorar seus sentimentos por ela), e ela finge não perceber seus reais
interesses. Além do sentimento complicado, George ainda precisa lidar com uma
crise familiar e com a possibilidade de não conseguir se graduar.
Para emoldurar esta trama juvenil, o diretor usa alguns
ingredientes de cinema independente. Há a trilha sonora de composições simples,
fotografia sem muitos artifícios e câmera calculadamente vacilante em alguns
planos. São elementos que conferem ao filme um frescor juvenil, de cinema
despojado. E até que funcionam bem, ajudado pelo bom andamento da narrativa
enxuta.
Em seu início, o longa parte de algumas premissas
minimamente interessantes e traz certa contestação nascida da rebeldia juvenil.
Uma resistência ingênua, naturalmente, mas ao menos sincera. Há ali a promessa
de um pouco de inconformismo com o sistema e com os padrões achatados da
sociedade.
No entanto, no desenrolar da trama, A Arte da Conquista se rende àquilo que prometia contestar. Suas
soluções para os conflitos não são apenas de conformação, mas de grande
caretice. Revelam, afinal, que por baixo das camadas moderninhas, escondia-se
um conservadorismo bastante comum.
Confirmando a previsibilidade de algumas ações e contaminado
pela falta de ousadia em seu desfecho, o que sobra é uma história simpática.
Para um filme que prometia ao menos alguma coisa fora da ordem, sua rendição à
essa ordem é, no mínimo, decepcionante.
--
The Art of Getting By (ou Homework)
Gavin Wiesen
EUA, 2011
83 min.
Trailer
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