Filmes com muitos personagens e histórias fragmentadas são
sempre um desafio para o diretor. Amarrar todas as microtramas, conectar os
personagens e ainda causar empatia no público é algo difícil. Talvez dependa
até de uma química intangível, impossível de ser explicada, mensurada ou
relacionada numa fórmula. É tentativa e erro. Além de sorte.
Em 360, novo filme
de Fernando Meirelles, não foi dessa vez que a química ou a sorte funcionaram.
E a se ver pelo elenco, a promessa era grande. Jude Law, Anthony Hopkins,
Rachel Weisz fazem linha de frente como estrelas internacionais. O filme ainda tem
os brasileiros Maria Flor e Juliano Cazarré, ambos jovens talentos. O elenco,
numeroso como se vê, é completado por outros nomes menos conhecidos por aqui,
mas bastante comuns na Europa, como o russo Vladimir Vdovichenkov, definido por
Fernando Meirelles como “o Wagner Moura da Rússia”.
Ao longo do roteiro de Peter Morgan (de A Rainha), esses personagens vão cruzar como estranhos. Em meio a
viagens, desencontros e decepções, todos carregam alguma amargura. Passam por
momentos de conflito, desolação ou infelicidade. A cada encontro casual, uma
bifurcação se abrirá em suas vidas. E a escolha do caminho poderá ser a guinada
que eles precisam para se reencontrarem consigo mesmos. Um reencontro íntimo
através do casual encontro com um desconhecido.
A premissa, baseada na clássica peça de teatro “La Ronde”,
do austríaco Arthur Schnitzler, é boa. Mas na tela, algo não encaixa. O mais
óbvio para que o filme não nos capture é a falta de aprofundamento dos
personagens, que se alternam continuamente. Embora esse seja claramente um dos
problemas, não é suficiente para justificar sua falta de fervura, que resulta
num filme morno e sem grandes emoções. Não justifica porque outras experiências
nesse formato já funcionaram melhor antes, a exemplo da comédia romântica “Simplesmente
Amor”, de 2003.
Apesar de certa frieza, o filme tem alguns momentos
brilhantes. Um deles é protagonizado por Anthony Hopkins, cujo personagem faz
um breve monólogo em uma sessão de grupo de autoajuda. Segundo o diretor
Fernando Meirelles, a maior parte desse monólogo é um improviso do ator; as
histórias que ele conta são reais, acontecidas com ele mesmo. Outro destaque
está na atuação de Ben Foster, que faz o papel de um criminoso sexual em
condicional que precisa viajar sozinho e resistir às “tentações” em seu
caminho.
Contudo, mesmo esses momentos inspirados não salvam o filme
do tédio e da apatia com que suas histórias se desdobram. Apenas a trilha
sonora fica como mais um ponto positivo, um alívio bem encaixado para um filme que
beira o insosso.
No apanhado geral, a maior parte dos personagens de 360 valeriam um filme solo. Suas
histórias são interessantes, assim como a maneira como cada um lida com a sua.
Nota-se uma franqueza nas interpretações, um esforço genuíno do elenco.
Isoladamente, cada história e personagem acende uma promessa de bom drama. Mas
no conjunto, tanta fragmentação funciona mal. A essência se perde.
Em consequência, perde-se a empatia. Esta até ensaia brotar,
mas logo morre na cena seguinte, no drama seguinte. Quando eventualmente
retorna ao filme, já esfriou. Não tem mais a mesma força. O resultado final é frio
e sem graça. O oposto do que cada personagem parece prometer – e nunca
alcançar.
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360
Fernando Meirelles
Reino
Unido/Áustria/França/Brasil, 2011
110 min.
Trailer
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