Beastly
Daniel Barnz
EUA, 2011
86 min.
A Fera surge na
esteira de uma nova onda: a das adaptações modernas de contos de fadas
atualizadas para adolescentes. Esse parece ser um efeito colateral do sucesso
da Saga Crepúsculo, que adolesceu (e
também idiotizou) o universo dos vampiros, dando-lhe uma roupagem romântica e
anacrônica. É nessa chave romântica e adolescente que uma história clássica
como Chapeuzinho Vermelho se
transforma em A Garota da Capa Vermelha;
ou que Branca de Neve e os Sete Anões
se torna Mirror, Mirror, com Julia
Roberts no papel da Rainha Má.
Nessa linha, vem este A
Fera. Emulando o conto A Bela e a
Fera para os dias atuais, o filme parte de um argumento fraco para
construir sua narrativa. Kyle (Alex Pettyfer) é um jovem narcisista e
egocêntrico. Filho de um milionário, estuda num dos melhores colégios da cidade
e está em campanha pela liderança estudantil. Seu discurso de campanha prega a
beleza estética acima de qualquer coisa. Em suas atitudes, Kyle despreza as
pessoas feias, estranhas, que não se enquadram no padrão de beleza vigente.
Ao humilhar uma das alunas, que se veste e age de forma
estranha, será amaldiçoado por ela, que se revela uma bruxa. A maldição o
transforma numa criatura desfigurada. Para não ficar deformado pelo resto da
vida, tem o prazo de um ano para encontrar alguém que se apaixone por ele,
mesmo com aquela aparência. Obrigado a se afastar da escola e até de seu pai
(que já não lhe dava muita atenção), ele se isola num apartamento da periferia.
É onde encontrará Lindy (Vanessa Hudgens), por quem se apaixonará e tentará de
tudo para fazê-la se apaixonar por ele.
Nos desdobramentos da trama os personagens que aparecem, as
situações que se sucedem e a estrutura narrativa pouco se sustentam. A
inconsistência do roteiro, as atuações pífias, tudo colabora para que o filme
se desmonte numa completa falta de força ou drama. Mas há lago de intangível e
onírico na estética noturna e sombria de seu miolo. É um vislumbre de algo
positivo, de bem realizado, de atmosférico. Poderia, não fossem as incontáveis
fraquezas de sua estrutura fílmica, salvar a obra da irrelevância e da
superficialidade indesculpável.
Dentro dessa nova onda de filmes românticos adolescentes de
contos de fadas, A Fera pode agradar aos
jovens menos exigentes e mais românticos. Em um filme que tem na concessão ao
menos feio (a aparência “deformada” de Kyle não chega a ser tão feia assim) sua
principal proposta estética, não há muito de “fera” na figura de seu
protagonista. Afinal, é preciso que as moçoilas da sala de cinema sejam capaz
de suspirar pelo mocinho regenerado, mesmo quando sua aparência é de fera.
Sendo mais do mesmo, requentado e com pouco sal, A Fera tem ao menos o mérito de ensaiar
alguma substância atmosférica em sua metade. Passa longe de cumprir a promessa,
mas é válida que ela tenha existido. Fica ao menos o consolo de, entre uma
enxurrada de filmes ruins, ser menos ruim do que se podia esperar.
--