Un
amour de jeunesse
Mia Hansen-Løve
França,
2010
110
min.
A diretora francesa Mia Hansen-Løve não nega a forte influência que a Nouvelle Vague (movimento renovador do cinema francês, surgido nos
anos 60) tem em sua obra. Nem poderia. Os traços dessa influência são claros em
seus filmes. Adeus, Primeiro Amor, o
mais recente, confirma isso. Mas não com uma submissão mecânica, e sim com uma
fluência delicada muito própria, atual e sensível.
O filme se passa em
Paris. Camille (Lola Créton) tem 15 anos e namora Sullivan (Sebastian
Urzendowsky), de 19. Ela experimenta dessa relação o amor incontido, cheio de
um arrebate incondicional. Como é natural, aos 15 se crê que todo sentimento é
eterno e que sem o objeto desse amor não se pode viver. Sullivan também ama
Camille, mas ao contrário dela acredita que precisa amadurecer, conhecer o
mundo, vivenciar experiências. Para isso ele pretende viajar por dez meses pela
América do Sul, junto com dois amigos.
Sem compreender ou
aceitar, Camille resiste e se afunda em uma melancolia que ela mesma assume
como parte de sua personalidade. Antes dele partir, se despedem longamente em
tardes de amor e finais de semana na casa de campo da família dela. Com o
ressentido da perda iminente, Camille oscila entre o drama da recusa e o amor
imenso. Depois que Sullivan parte, só resta a ela as cartas, enviadas sempre de
lugares diferentes. Aos poucos, as cartas vão rareando, até cessarem
totalmente.
Os anos passam e
Camille sobrevive à depressão e à tristeza ao se dedicar ao estudo da
arquitetura. Ela considera a beleza desse trabalho o estímulo que a fez
encontrar algo de alegre em sua vida. Não a felicidade - sempre distante de seu
rosto melancólico sem sorriso -, mas a poesia de um sentimento que pode ser
traduzido nas formas e disposições de objetos. No caso de Camille, reflexo de
sua introspecção, que afasta e rejeita o passado, como ficará sempre marcado em
seus projetos.
Surge então Lorenz (Magne
Håvard Brekke), professor de arquitetura. De origem norueguesa, ele se
apresenta para a primeira aula com uma provocação sobre o “lume” como elemento
de arranjo interior. Instiga a sala a definir seu significado e função.
Coloca-o não apenas como uma fonte para iluminar um ambiente, mas também para
moldá-lo a partir da escuridão; em favor de um sentimento, em favor de uma
memória. Será esse o primeiro encantamento de Camille com o professor, com quem
adiante passará a viver. Até que Sullinvan reaparece.
Composta de largos silêncios, a narrativa de Adeus, Primeiro Amor desliza com uma
textura sóbria e consistente. Seus silêncios, no entanto, não significam
contemplação ou estagnação. São antes o reflexo da passagem do tempo em
amplitudes diversas.
Modulam essa amplitude - com uma intensidade suave, mas
precisa - canções como Volver aos 17 e Gracias a La Vida, na voz da cantora chilena Violeta Parra. Elas fazem parte da trilha sonora, que em
sua eclética mistura – inclui Frank Sinatra e Johnny Flynn – traduz sentimentos
de forma envolvente.
Em sua passagem pela vida, pelo amor, pela perda; com a
partida e o regresso, o renascimento e o desapego, Adeus, Primeiro Amor toca em um sentido particular do sentimento. É
represa em alguns momentos e água livre noutros. Simples, linear. Preenche
lacunas com quietude e esta quietude pode até cansar em alguns momentos.
Contudo, carrega na sua narrativa um frescor, uma energia muito própria.
É melancólico, não melodramático; triste, não pesaroso. Faz
em sua construção uma prece de graças á vida; tem na sua luminosidade quieta um
regresso aos 17; entrega em seu final a plenitude delicada de quem compreende
que a metáfora da vida é um rio. Entre as margens do rio, tudo é possível, mas
nada permanece.
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