Até o momento, apenas três filmes usaram o recurso do efeito 3D de forma verdadeiramente relevante para o que pretendiam mostrar. São eles: As Aventuras de Hugo Cabret, de Martin Scorsese, As Aventuras de Pi, de Ang Lee, e o filme-homenagem Pina, de Wim Wenders, dedicado á coreógrafa alemã Pina Baucsh (1940-2009). Em todos esses casos, a qualidade e o apuro das imagens tridimensionais levaram o espectador a uma experiência que não seria a mesma sem o 3D.
O quarto a filme a poder figurar nesta lista estreia em São
Paulo, exclusivamente no Cinesesc, na próxima sexta-feira (25). Chama-se Caverna dos Sonhos Esquecidos e faz da
tridimensionalidade virtual uma experiência que vai além da imagem e nos
reflete na temporalidade da existência humana.
Realizado pelo diretor alemão Werner Herzog, o filme
documenta o interior da caverna Chauvet-Pont-d’Arc, no sul da França. Nesta
caverna, cujo acesso é restrito a pouquíssimos estudiosos (poucas horas por dia
e poucos dias por ano), estão as pinturas rupestres mais antigas conhecidas
pela humanidade.
Descobertas em 1994, estas figuras datam de aproximadamente 32
mil anos, mais que o dobro de qualquer outra pintura conhecida do gênero. Nos
desenhos, diversos animais estão registrados com uma qualidade técnica
surpreendente.
Agora, graças ao 3D, estas figuras podem ser vistas com uma
nitidez rara e um poder de imersão assombroso. Uma experiência visual riquíssima
em detalhes, repleta de uma textura cintilante e com uma profundidade de campo
poucas vezes proporcionada pelo cinema. Herzog nos transmite um realismo que
impressiona não apenas pela qualidade, mas pela importância e grandiosidade do
que mostra.
Contudo, o diretor não se limita ao registro documental, que
por si só já valeria a ida ao cinema. Ele quer mais que mostrar, quer também
contextualizar e nos aproximar mais ainda da experiência de adentrar na
caverna.
Através da narração, feita pelo próprio diretor, e com
auxílio de alguns efeitos, ele propõe e instiga uma reflexão a respeito da dimensão
da humanidade. Cria nessa reflexão uma perspectiva e uma conexão com o passado
que se avoluma à medida que tomamos consciência de uma força que remete à nossa
ancestralidade enquanto espécie humana. É mais que História ou Antropologia, é
um ensaio que passa pelo filosófico e pelo metafísico, mas sem o pedantismo ou
o hermetismo do discurso acadêmico.
Herzog foge da armadilha do discurso enfadonho não apenas
por preencher suas reflexões com as imagens incríveis da caverna e com
depoimentos de estudiosos. Mas também por não partir de afirmações ou certezas,
e sim de especulações inteligentes e sensíveis a respeito do que vemos e do que
somos.
Mais que um documentário e mais que uma experiência de
imersão visual, Caverna dos Sonhos
Esquecidos é um filme que trata de dimensão. A intensidade visual de suas
imagens serve de suporte para uma investigação cheia de questionamentos a respeito
de outras dimensões; a dimensão histórica, a dimensão do tempo, a dimensão da
humanidade e até mesmo a dimensão do cinema enquanto registro dessa atemporalidade
instigante.
Um filme que parte de incríveis imagens de uma incrível
descoberta para refletir e nos instigar a pensar sobre nossa incrível
existência ancestral.
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Cave of Forgotten
Dreams
Werner Herzog
Canadá/EUA/França/Alemanha/Reino Unido, 2010
90 min.
Trailer
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