Uma série de imagens pontua as transições da narrativa de O Retorno de Antígona. Em quase todas,
paisagens imóveis. A mais sintomática revela as hélices paradas em uma usina de
energia eólica, como se nem o vendo se movesse naquela parte do interior da
Grécia. É esta estagnação a metáfora que o filme utiliza para nos antecipar o
que logo se percebe no desenrolar da história.
Antígona (Marina Symeou) é essa mulher que volta à sua cidade
depois de anos vivendo na capital Atenas. Ao descer do trem, um velho, única
figura humana na plataforma deserta, pergunta se ela não cometeu um engano ao
desembarcar ali. Ninguém desembarca naquela cidade, diz ele, pouco depois de
avisar que uma tempestade estava a caminho. O velho, aqui, faz as vezes de
oráculo.
Do nome da protagonista aos elementos que logo se
apresentam, incluindo o fato elementar de ser um filme grego, não há dúvida sobre
como a obra quer dialogar com a figura de Antígona, personagem da clássica
mitologia grega cuja tragédia foi interpretada na peça escrita pelo por
Sófocles, há 2.500 anos.
Entre as muitas interpretações desse mito, pode-se dizer que
Antígona representa uma força feminina que se rebela contra o poder dos homens.
Este é um paralelo que o filme faz, numa tentativa de sutileza para construir
sua tragédia, mas que não oferece nada de muito sutil.
A sociedade que a Antígona do filme encontra não está
simplesmente estagnada. Vive em num limbo de cinismo, covardia, omissão, acomodação
e submissão. Um estado de letargia que é estranho à protagonista, tanto pela
sua natureza contestadora como pela sua vivência cosmopolita.
Neste contexto, ela se vê incomodada com arbitrariedades e
violências presentes na postura dos homens que detém algum poder na cidade. Um
incômodo que ela estende sobre os outros que vivem lá, acomodados na inanição
que permite o exercício desse poder machista e misógino.
Não se trata, contudo, de um choque o que ela experimenta em
seu retorno. Ao menos não de imediato. Se o principal problema do filme é trabalhar
com metáforas pobres em sutilezas, sua qualidade está em não promover o choque
logo de partida. A construção desse enfrentamento leva tempo para surgir, e as
relações que o filme estabelece já prenunciam a tensão.
Contudo, é na costura dessa tensão que mais se fragiliza a
narrativa. Ao optar por uma montagem que adia informações na tentativa de criar
suspense e curiosidade, o que se consegue é apenas desperdiçar o bom material
explosivo presente na trama. Isso faz com que o crescente do agravamento da situação
dos personagens só ganhe a dimensão de sua gravidade e perigo perto do fim.
Como não é incomum no cinema grego construir-se em torno do
conflito velado entre o arcaico e o moderno, O Retorno de Antígona estabelece este conflito na independência que
a protagonista exercita e no contraste disso com a quase nula independência dos
demais personagens.
Nesta construção, o filme cresce nos minutos finais, quando
a tragédia se aproxima. Mas é um efeito que não deixa de se apresentar diluído
pelo caminho frágil que conduziu as coisas até ali, o que afeta não apenas o
resultado final, mas a própria experiência da narrativa.
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Na kathesai kai na koitas
Giorgos Servetas
Grécia, 2013
98 min.
Trailer