The Ides of March
George Clooney
EUA, 2011
101 min.
Com um elenco de primeiro time - e não um primeiro time de
celebridades, mas de talento - George Clooney volta à direção em um filme contundente
sobre o caráter da lealdade e a dissolução da integridade. Conhecido por seu
engajamento político, Clooney mergulha nos bastidores de uma campanha eleitoral
e nos apresenta um retrato pessimista das entranhas da política e dos desvios a que
o feroz jogo pelo poder é capaz de levar.
Dentro do partido Democrata, durante a campanha pelas
eleições primárias (nas quais se define quem do partido será nomeado candidato a
presidente), a disputa está polarizada entre dois nomes. Um deles é o
governador Morris (George Clooney), político exemplar e íntegro, conhecido por
sua determinação em seguir seus princípios. É ele quem lidera as pesquisas,
ainda que com uma vantagem pequena.
O chefe da campanha de Morris é Paul Zara (Philip Seymour
Hoffman), um experiente estrategista que preza, acima de tudo, pela lealdade.
Seu braço direito é o brilhante assessor de imprensa Stephen Meyers (Ryan
Gosling), um jovem talento que acredita com veemência na sinceridade de Morris
e em sua competência para governar e mudar o país.
Na coordenação da campanha adversária está o manipulador Tom
Duffy (Paul Giamatti). É ele quem tentará desfalcar o time adversário atraindo
para seu lado o jovem Meyers. Para isso, usará de lisonjas e de informações
sigilosas que podem mudar o rumo dos acontecimentos. Será o encontro furtivo
entre Duffy e Meyers que desencadeará uma série de acontecimentos que revelarão
o tamanho da perfídia do jogo político e a inevitável deterioração da
integridade e do caráter.
Baseado na peça Farragut
North, de Beau Willimon, Tudo Pelo
Poder consegue se despir do cinismo que frequentemente contamina filmes
sobre os bastidores da política. É uma obra franca e alcança essa franqueza por
seu ritmo afinado, construído na fluência de uma montagem eficiente. Sua
fluidez de thriller não diminui sua aderência de reflexão sobre a condição humana.
Em especial quando movida pela vingança, pela vaidade e pelo poder.
A articulação clara de seu roteiro reserva surpresas, mas
não manipulações do público. Se não chega a ser cru na ilustração da queda,
tampouco é condescendente com a natureza medonha da corrupção do caráter. Trata
do completo esfacelamento dos princípios, do tipo de queda de quem ascende
erguido pela coerção, mas também pela decepção atroz diante da constatação do
meio, sua realidade mais cristalina e a mancha que não se pode mais limpar.
Através da política, Clooney filma o homem. Suas
articulações de bastidores eleitorais não são diferentes do cotidiano mundano.
O reflexo é cristalino. A diferença é que ali está emoldurado pela ilusão de
ser político; a ilusão de algo inerente e exclusivo das entranhas desse jogo.
Mas não é. Se olharmos bem, também estamos refletidos nela.
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