Les Émotifs Anonymes
Jean-Pierre Améris
França/Bélgica, 2010
80 min.
A delicada simplicidade, a boa química entre os atores e até
mesmo alguns clichês de gênero são os elementos que dão sabor a esta comédia
romântica francesa. Um dos gêneros mais pobres de Hollywood, mas que quando
realizado com boa sintonia e franca despretensão pode resultar em algo pelo
menos simpático.
Em uma entrevista de emprego, a tímida Angélique (Isabelle
Carré) explica que o segredo de um bom chocolate está em seu tanto de amargor,
não em sua doçura. Uma explicação que não deixa de ser metáfora para a vida.
Ela está diante de seu futuro chefe, o austero Jean-René (Benoît Poelvoorde),
dono de uma fábrica de chocolates que já foi uma das melhores, mas que tem
experimentado a decadência.
Ouvindo a apaixonada explicação de Angélique sobre
chocolates, Jean-René a contrata de imediato como representante comercial.
Acontece, porém, que ela achava que a vaga era para chocolateira, não vendedora.
No entanto, ela aceita, porque simplesmente é incapaz de dizer não.
Angélique sofre de transtorno de personalidade esquiva, que no
filme é chamado de “transtorno emotivo”. Trata-se de uma timidez aguda que a
faz evitar a todo custo ser o centro das atenções e que a impede de se
relacionar socialmente com naturalidade. O que ela não sabe é que seu novo
chefe sofre do mesmo mal, especialmente em relação às mulheres.
Naturalmente, como manda a cartilha do gênero, eles irão se
apaixonar. Será então a problemática de seus transtornos o complicador dessa
relação. Suas barreiras psicológicas, as tentativas de contornar ou superar
essas barreiras, é o que garante o riso durante a trama. É de onde também brota
o que o filme tem de terno e simpático.
Ambos buscam um alívio para seus transtornos. Jean-René faz
sessões de psicanálise. Angélique frequenta um grupo de apoio, os emotivos
anônimos (que é o título original do filme em francês). São infelizes em suas
condições emotivas, ressentem-se da solidão de suas vidas.
A aproximação entre eles, a proximidade efetiva, será como a
receita de chocolate. A doçura da atração, do carinho e do afeto estará sempre
permeada pelo amargo da dificuldade que sentem em estabelecer contato sem
sofrerem as reações de seus transtornos. Nasce disso um companheirismo
improvável, repelente e atrativo ao mesmo tempo. Uma graça doce e amara, um
humor de cadência melancólica.
São essas pequenas sutilizas que contribuem para diminuir o
incômodo do roteiro esquemático, fadado à repetição previsível do gênero. É da
singularidade dos protagonistas, do carisma contagioso dos dois atores e de sua
afinada sintonia que vem o sabor diferente de um formato quase sempre igual.
Assim é Românticos Anônimos.
A boa diversão dosada de afetividade, princípio desvirtuado
do gênero inicial, tornado gênero caça-níquel do cinema americano, é o bom
diferencial deste filme. Um respiro agradável, sem pretensões e com alguma
graça. Raridade cada vez maior em filmes de comédia romântica.
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