In Film Nist
Jafar Panahi e Mojtaba Mirtahmasb
Irã, 2010
75 min.
O título deste filme não é uma figura de
linguagem, é uma verdade. Isto Não é um
Filme não é um filme porque seu idealizador, o premiado diretor iraniano
Jafar Panahi, está condenado em seu país, proibido de fazer filmes.
Panahi foi condenado a seis anos de prisão,
cumpridos até a realização deste filme em regime domiciliar, e proibido de
filmar ou escrever roteiros por 20 anos. Jafar é vítima da ditadura iraniana,
que vê em seus filmes propagandas subversivas contra o regime do presidente
Mahmoud Ahmadinejad.
É com o desejo de resistir que o diretor de
obras como O Círculo e O Balão Branco usa de um artifício para
dar voz a seu dilema. Ele está proibido de filmar, mas não de ser filmado; ele está
proibido de escrever novos roteiros, mas não de ler roteiros já escritos.
Convida então o amigo e também diretor Mojtaba
Mirtahmasb para filmar um dia de sua vida. Mas não é apenas sobre um dia em sua
prisão domiciliar que trata o filme. Jafar usa um roteiro seu, escrito antes da
condenação, e passa a elaborar uma leitura/montagem improvisada. A certa
altura, desanima. Constatada a impossibilidade de fazer um filme. Deprime-se.
Sabe que não há filme ali. “Se pudéssemos contar um filme para que fazer um
filme”, diz.
Difícil não se comover com a sinceridade de seu
lamento por não poder mais filmar. Isto
Não é um Filme, tem uma relevância imensa como protesto e resistência (segundo
a mítica em torno dele só está sendo divulgado porque foi contrabandeado para o
Festival de Cannes 2011 escondido dentro de um bolo). Contudo, dada sua natureza, poderia ser uma obra
monótona. Não é.
A narrativa flui, alterna-se. São ótimos os
momentos em que o diretor mostra trechos de seus filmes anteriores e conta
detalhes interessantes dos bastidores e do ofício de fazer filmes. Neste
cotidiano forçado, o filme expõe o drama de Panahi e nos transmite seu
desalento com intensidade verdadeira. Torna-se, no seu desenrolar, uma busca e
um escape. Uma saída sem saída. Transforma-se, enfim, numa honesta constatação
da impotência e do absurdo. Mas também uma declaração de amor ao cinema dentro
de um ato de desobediência.
No final, faz um jogo de espelhos. Enquanto é
filmado pelo amigo, saca seu smartphone e passa a filmá-lo também. Neste
momento, com uma simplicidade emocionante, deixa claro seu amor pela arte que
está impedido de exercer e o quanto ela está arraigada dentro dele.
Ao filmar e ser filmado, diz ao amigo diretor:
“quando duas cabeleireiras não têm o que fazer, cortam o cabelo uma da outra”.
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