quinta-feira, dezembro 01, 2011

Isto Não é Um Filme




In Film Nist
Jafar Panahi e Mojtaba Mirtahmasb
Irã, 2010
75 min.

O título deste filme não é uma figura de linguagem, é uma verdade. Isto Não é um Filme não é um filme porque seu idealizador, o premiado diretor iraniano Jafar Panahi, está condenado em seu país, proibido de fazer filmes.

Panahi foi condenado a seis anos de prisão, cumpridos até a realização deste filme em regime domiciliar, e proibido de filmar ou escrever roteiros por 20 anos. Jafar é vítima da ditadura iraniana, que vê em seus filmes propagandas subversivas contra o regime do presidente Mahmoud Ahmadinejad.

É com o desejo de resistir que o diretor de obras como O Círculo e O Balão Branco usa de um artifício para dar voz a seu dilema. Ele está proibido de filmar, mas não de ser filmado; ele está proibido de escrever novos roteiros, mas não de ler roteiros já escritos.

Convida então o amigo e também diretor Mojtaba Mirtahmasb para filmar um dia de sua vida. Mas não é apenas sobre um dia em sua prisão domiciliar que trata o filme. Jafar usa um roteiro seu, escrito antes da condenação, e passa a elaborar uma leitura/montagem improvisada. A certa altura, desanima. Constatada a impossibilidade de fazer um filme. Deprime-se. Sabe que não há filme ali. “Se pudéssemos contar um filme para que fazer um filme”, diz.

Difícil não se comover com a sinceridade de seu lamento por não poder mais filmar. Isto Não é um Filme, tem uma relevância imensa como protesto e resistência (segundo a mítica em torno dele só está sendo divulgado porque foi contrabandeado para o Festival de Cannes 2011 escondido dentro de um bolo). Contudo, dada sua natureza, poderia ser uma obra monótona. Não é.

A narrativa flui, alterna-se. São ótimos os momentos em que o diretor mostra trechos de seus filmes anteriores e conta detalhes interessantes dos bastidores e do ofício de fazer filmes. Neste cotidiano forçado, o filme expõe o drama de Panahi e nos transmite seu desalento com intensidade verdadeira. Torna-se, no seu desenrolar, uma busca e um escape. Uma saída sem saída. Transforma-se, enfim, numa honesta constatação da impotência e do absurdo. Mas também uma declaração de amor ao cinema dentro de um ato de desobediência.

No final, faz um jogo de espelhos. Enquanto é filmado pelo amigo, saca seu smartphone e passa a filmá-lo também. Neste momento, com uma simplicidade emocionante, deixa claro seu amor pela arte que está impedido de exercer e o quanto ela está arraigada dentro dele.

Ao filmar e ser filmado, diz ao amigo diretor: “quando duas cabeleireiras não têm o que fazer, cortam o cabelo uma da outra”.
--

0 comentários:

 

Eu, Cinema Copyright © 2011 -- Powered by Blogger