Exatamente por ser um filme de super-herói – e, portanto, um
filme de ação – Wolverine: Imortal surpreende
por conseguir evitar a afobação que outras produções do gênero têm em começar logo
a pancadaria e os malabarismos destrutivos. Aqui, o filme se preocupa antes em
criar um cenário e dar vigor aos personagens da trama.
Por uma questão de gênero, naturalmente que a trama e os
personagens não terão um desenvolvimento sofisticado, nem é o que se espera
desse tipo de filme. Mas é evidente que há um cuidado maior em se criar dúvidas
e ambiguidades, evitando o pastiche absolutamente oco tão comum em outros
exemplos do mesmo gênero.
É assim que a trama se monta a partir de uma dívida de vida
que Wolverine (Hugh Jackman) deixou no Japão durante a Segunda Guerra. É por
essa dívida que ele é levado ao país oriental para encontrar seu credor que, à
beira da morte e sendo dono de um imensurável império tecnológico, faz a ele
uma inesperada oferta.
Há em todo esse primeiro terço do filme um bom cuidado em
representar aspectos da cultura japonesa que, mesmo tratados a partir de
conhecidos clichês do cinema pop, ainda assim surtem um significativo efeito de
atmosfera e, principalmente, de propósitos que alimentam o desenrolar da
história.
Mais do que a ambientação local, esse princípio consegue
estabelecer certas dúvidas e indefinições, se aproximando até de num bom mistério
com elementos do gênero policial, quase um filme dentro do filme, ao menos na
atmosfera. É no desenvolvimento desses mistérios e na relação entre Wolverine e
jovem Mariko (Tao Okamoto) que a produção exibe suas melhores qualidades. E
mesmo a ação não se apresentando apressada e urgente, quando surge corresponde
à expectativa.
Contudo, mesmo com tantos acertos, Wolverine: Imortal não escapa de algumas bobagens do gênero. Estão
lá os vilões quase sem falas, cuja vilania não se sustenta pelas motivações,
além daqueles constrangedores diálogos em que o vilão explica didaticamente seu
plano antes de “terminar” com o herói.
Há ainda o ligeiramente repetitivo trauma do herói com a
morte de sua amada Jean Grey (Famke Janssen), uma repetição que passa um pouco
da conta, mas acaba servindo como uma boa conexão com o histórico do
personagem, além de limpar o caminho para que a franquia siga adiante.
Como estrutura narrativa, o filme sofre uma queda
considerável de qualidade a partir do último terço, especialmente a partir de
uma cena em que Wolverine realiza uma tomografia em si mesmo e que é o ponto de
virada da ação. Mas a partir daí o que conta é a ação e esta tem uma boa medida
em ritmo, reservando até uma surpresa a respeito da mutação de Wolverine. Uma
surpresa até óbvia, mas daquelas obviedades que só merecem esse nome depois que
as notamos, daí ser uma boa surpresa e nem tão óbvia assim.
Wolverine: Imortal
se mostra, portanto, muito superior ao primeiro filme solo do personagem. Seu
roteiro, com elementos tirados de histórias clássicas dos quadrinhos pode até desagradar
aos fãs mais exigentes quanto à fidelidade, já que o filme toma diversas
liberdades em mudar aspectos das tramas originais. Mas a produção dá conta do
essencial e, mais importante, faz o personagem dar um passo adiante na sua
evolução dramática.
--
The
Wolverine
James
Mangold
EUA, 2013
128 min.
Trailer
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