terça-feira, agosto 20, 2013

Flores Raras




Considerada um dos grandes nomes da literatura norte-americana, a poeta Elizabeth Bishop foi por 16 anos companheira da arquiteta brasileira Maria Carlota Costallat de Macedo Soares, conhecida como Lota.

Quando chegou ao Brasil, em 1951, Bishop pretendia ficar apenas alguns dias, antes de seguir num giro pela América do Sul. Mas um incidente envolvendo uma reação alérgica após morder um caju resultou em uma permanência de anos, motivada não pela alergia, mas por uma relação afetiva e poética com Lota.

É a história dessa relação que o diretor Bruno Barreto reconta neste belo e sensível Flores Raras. Um filme de desenvolvimento narrativo afinado e que deve grande parte de seu feliz resultado ao embate cênico de duas atrizes inspiradas.

Glória Pires faz Lota, uma mulher decidida, segura e de pulso firme. Gosta de falar de seu trabalho como arquiteta sem qualquer timidez ou falsa modéstia. A pedido de sua então companheira, Mary (Tracy Middendorf), ela recebe em sua casa Elizabeth Bishop, interpretada por Miranda Otto.

Bishop é quase o oposto de Lota. É tímida, não se sente a vontade para ler seus próprios poemas e reage com certa retração ao imediato choque cultural. Sua atitude é interpretada como esnobismo por Lota, mas logo a antipatia se transformará em paixão.

Na composição dos personagens, Glória Pires realiza uma interpretação de firmeza magnética. Mantém o tempo todo um tom de audácia que representa o destacado papel que a figura real de Lota teve em sua época. Mas o faz sem excessos ou mimetismos caricatos.

Já Miranda Otto compõe sua Bishop com uma fragilidade enviesada, entre o medo de si mesma, a insegurança quanto à sua poesia e a inescapável necessidade de escrever. Há nesta personagem algo de uma força inevitável (a poesia, certamente, mas algo mais) que a fragilidade encobre, mas não esconde.

Esse amálgama é desenvolvido com a sutileza de uma interpretação que até comete pequenos excessos, mas que no todo se humaniza imensamente, auxiliada por flashbacks que remontam a história sofrida da poeta. Mérito da atriz e mérito também da direção.

Bruno Barreto faz de Flores Raras uma peça exemplar de narrativa clássica, redonda e azeitada. Não há solavancos nem artificialismos dramáticos e a música nunca se excede para forçar o drama.

O resultado é uma beleza complicada em que o amor não é tratado como objeto ideal de superações de crises e dificuldades. Em Flores Raras o amor é real e o amor real é, antes de tudo, imperfeito. A condensação dessa imperfeição e desses personagens está na cadência precisa do filme, no seu timing bem executado.

Barreto filma na convenção. Enquadramentos e sequências são ordenados e montados sem exercício dialético, com a precisão narrativa que não subtrai demais nem se estende além. Como a saber que o que interessa são duas mulheres, o Rio de Janeiro de outros tempos, o amor imperfeito e a desventura de uma história a ser contada. No caso, muito bem contada.
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Flores Raras
Bruno Barreto
Brasil, 2013
118 min.

Trailer

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