Os suspiros, os gemidos baixos, a respiração ofegante; o
farfalhar de um lençol, o som do manuseio da vagina úmida da protagonista;
todos estes sons, ruídos de intimidade ou não, fazem de Movimento Browniano um filme cuja textura quase nos toca. Ouvi-lo é
sentir a cena, é se deixar levar pelo tato do que se ouve e, sem tocar, quase
se sentir tocando. O efeito é aplicado com sensibilidade pelo filme,
concatenado com sua estética clean,
de ambientes iluminados e limpos numa assepsia contraditória. Assim como a
pele, os olhos, o riso e o distúrbio psicológico de Charlotte (Sandra Hüller).

O termo “movimento browniano” vem da física e, grosso modo, é o estudo do movimento
aleatório realizado por certas partículas em determinados meios. Como as
partículas em movimento e a própria ideia de aleatoriedade, Charlotte escolhe
seus parceiros anônimos pelo acaso, ainda que neles exista a semelhança pelo
estranho e incomum.

Do prazer com estranhos à leitura de uma história infantil para
o filho, tudo transcorre sem sobressaltos. Até que uma coincidência a
surpreende, e isso destrava um mecanismo que a desnorteia completamente, e seu
segredo é descoberto pelo marido.
Na segunda parte vem o tratamento. Na terceira, uma mudança.
Movimento Browniano
pode ser uma antítese da crise conjugal como a conhecemos. No lugar dos
diálogos insistentes, de discussões ou explicações exasperadas, o que temos é o
silêncio, que ocupa a maior parte do filme. Mas o pouco dito não significa
ausência de significados ou de sentidos.

Se respostas ficam abertas, se a dúvida ou a imprecisão ficam
como resultado do filme, vale lembrar da necessidade que deveríamos ter hoje –
em dias de um cinema mastigado ao limite da estupidez – de reaprender a sair da
sessão sem certezas. A ausência de respostas não deve ser problema, apenas a
preguiça de tentar desvendá-las deveria ser. Neste sentido, Movimento Browniano arrisca-se, sai da
mesmice e pode desagradar ou frustrar. Mas para quem ainda tem coragem e gosto,
fica o desafio e o prazer de se sentir desafiado.
--
Brownian Movement
Nanouk Leopold
Holanda, 2010
97 min.
Trailer
0 comentários:
Postar um comentário