“A sick fascination”. Um fascínio doentio. Esta pode ser uma
boa forma de descrever como o mundo das celebridades, da moda e do luxo afeta
algumas pessoas que se sentem irresistivelmente atraídas por esse universo.
Em Bling Ring: A
Gangue de Hollywood, a diretora Sofia Coppola lança sua câmera para uma
juventude contaminada por essa irresistível atração. Uma juventude que tenta ostensivamente
mimetizar um estilo de vida glamoroso sem se preocupar com os limites entre o
artificialismo, a banalidade e a atividade criminosa.

Mas o que começa como uma aventura na casa de Paris Hilton
(que autorizou as filmagens em sua mansão verdadeira), logo passa a se tornar
um hábito inconsequente e sem medida.
O filme se baseia em acontecimentos reais para traçar um
perfil desolador de um tipo de juventude que age sob o efeito anestesiante do
deslumbramento e da futilidade. Funciona, então, como uma narrativa que desconstrói o vazio encoberto pelo artificial e apresenta personagens tão descolados da realidade quanto os de filmes
anteriores da diretora.

Se em seu filme anterior, Um Lugar Qualquer, Sofia nos imergia em um tipo de tempo dilatado
pelo vazio na vida de um astro do cinema (com sua rotina desenganada de sentido,
com sua simpatia letárgica e autômata), agora ela nos lança ao vazio que há
também no outro lado do espelho.
Aqui, porém, o tempo não se dilata, ele é veloz, preenchido pela
rotina entre escola, drogas, compras, festas, baladas e poses para fotos que serão
postadas nas redes sociais.

Contudo, mais que exibir a valorização estúpida de símbolos
de consumo de luxo e celebridades fúteis dispensáveis, o que este retrato traz é mais uma vez o aterrador vazio existencial de seus
personagens. Há neles uma letargia diante da vida real, como se existissem em
câmera lenta mesmo quando “vivem rápido e morrem jovens” como diz a letra de
uma canção do filme.
No universo glorificado pelo supérfluo está a incapacidade de criar vínculos, de estabelecer amizades ou relações
familiares sinceras, ou mesmo de serem autênticos.
Comparado com o viés contemplativo de outros filmes da
diretora, há menos tempos mortos em Bling
Ring. Fala-se mais, move-se mais. De forma inteligente, toda essa agitação não é mais que uma película que muito fragilmente cobre o devastador
vazio. Aqui os personagens estão presos a uma artificialidade que pensam ser vida,
mas que é outra coisa.
Sofia, contudo, não emite juízo sobre esses personagens. Evita
um didatismo moralista, julgador e, consequentemente, simplificador. Sua
narrativa explora apenas a idiossincrasia, uma existência
cotidiana que revela o ridículo da superficialidade vaidosa e obsessiva. Uma narrativa de construção sem artifícios indutores para apontar e julgar.
Como em outros de seus filmes, a diretora estabelece sempre uma distância
entre a intimidade e o caricato, uma distância segura e honesta ante seus
personagens. Parte da solidez crescente de seu cinema está nesta qualidade de
nos deixar entrever sem precisar apontar. Um recurso que aposta na inteligência do espectador e em sua capacidade de pensar.
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Bling Ring: A Gangue de Hollywood
Sofia Coppola
EUA/Reino Unido/França/Alemanha/Japão, 2013
90 min.
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