quarta-feira, março 20, 2013

Jovens Adultos

Mavis Gary (Charlize Theron) é o tipo de pessoa que se sente ameaçada com a felicidade dos outros. Um incômodo que vem da sensação de que ser feliz é algo fácil para qualquer um, menos para ela. Mas a compreensão desse fato não surgirá facilmente. Antes, Mavis terá de percorrer um constrangedor caminho até conseguir enxergar isso.

O título original do filme, Young Adult, cuja tradução mais correta seria Adultos Jovens, faz uma referência tanto à vida quanto ao trabalho de Mavis. Ela é uma escritora de aluguel para uma série decadente de livros voltada para o tipo de público que acaba de entrar na vida adulta, mas sem ter ainda se desligado completamente da adolescência.

Aos 37 anos e com um casamento rompido, ela poderia ser considerada um exemplar bastante tardio e problemático desse tipo de público. Mora em Minneapolis (maior cidade do estado de Minnesota) e acha que as pessoas de sua adolescência, que ainda vivem em Mercury, a pequena cidade onde nasceu, são fracassadas e infelizes. Enxerga a si mesma como alguém melhor do que aqueles que deixou para trás, embora termine quase todas as noites alcoolizada e dormindo vestida.

Mas quando ela recebe por e-mail a foto do filho recém-nascido de um antigo namorado, fica simplesmente obcecada. Decide, então, que precisa salvá-lo daquela vida medíocre de cidade pequena e mostrar para ele que foram feitos um para o outro. Mesmo que para isso tenha de destruir uma família.

A escritora e roteirista Diablo Cody repete com o diretor Jason Reitman a bem sucedida parceria que fizeram em Juno (2007). Mais uma vez, criam um personagem que segue códigos paralelos aos considerados socialmente aceitos, dando à história uma estranheza que não busca necessariamente empatia com o público.

Se a personagem-título em Juno era uma adolescente grávida que tomava uma decisão questionável dentro dos padrões sociais normalizadores – mas com a qual se poderia simpatizar e até entender – o mesmo não acontece com Mavis. Em sua atitude doentia, determinada a destruir conscientemente um casamento, há algo de maldade que a excelente atuação de Charlize Theron revela. Mas por trás dessa maldade há o claro desespero da solidão.

Na volta à sua cidade, Mavis reencontra também Matt Freehauf (Patton Oswalt), um sujeito que foi violentamente espancado no tempo do colégio por acharem que ele era homossexual. Tendo ficado com sérias sequelas nas pernas e no pênis, Matt funcionará como uma voz da consciência de Mavis ao descobrir seu plano diabólico.

A amoralidade determinada da protagonista de Jovens Adultos gera uma antipatia cômica, mas que o filme trabalha de forma não caricata, gerando um desconforto maior que qualquer riso. Além de não ser caricato, o filme também evita o maniqueísmo ou o moralismo. Se a visão que Mavis tem das pessoas de sua cidade é preconceituosa e arrogante, esta visão não chega a ser desmentida pelo filme, que revela de fato uma atmosfera que flerta com o tédio e a conformação.

Não se trata, porém, de julgamentos, mas de criar um filme em que as situações e os personagens não sejam esquemáticos. Nesse sentido, Jovens Adultos funciona muito bem. Dentro do desconforto de seguirmos a constrangedora determinação de Mavis, há o estranhamento da protagonista sem caráter, mas que no mau-caratismo desconhece que há apenas desespero e melancolia em si mesma.

Com um ritmo muito bem ajeitado, o filme vai desfolhando as camadas desse caráter, revelando aos poucos o que Mavis não quer admitir. Nem comédia, nem drama, nem moralismo. Jovens Adultos é uma peça de pequena reflexão sobre a insatisfação e o amadurecimento. Não entrega redenções e perdões hipócritas, fecha-se tão somente na dureza de assumir-se diante de um espelho, mas sem falsas elevações morais depois disso.
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Young Adult
Jason Ritman
EUA, 2011
94 min.

Trailer

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