O título original do filme, Young Adult, cuja tradução mais correta seria Adultos Jovens, faz
uma referência tanto à vida quanto ao trabalho de Mavis. Ela é uma escritora de
aluguel para uma série decadente de livros voltada para o tipo de público que
acaba de entrar na vida adulta, mas sem ter ainda se desligado completamente da
adolescência.
Aos 37 anos e com um casamento rompido, ela poderia ser
considerada um exemplar bastante tardio e problemático desse tipo de público.
Mora em Minneapolis (maior cidade do estado de Minnesota) e acha que as pessoas
de sua adolescência, que ainda vivem em Mercury, a pequena cidade onde nasceu,
são fracassadas e infelizes. Enxerga a si mesma como alguém melhor do que
aqueles que deixou para trás, embora termine quase todas as noites alcoolizada
e dormindo vestida.
Mas quando ela recebe por e-mail a foto do filho
recém-nascido de um antigo namorado, fica simplesmente obcecada. Decide, então,
que precisa salvá-lo daquela vida medíocre de cidade pequena e mostrar para ele
que foram feitos um para o outro. Mesmo que para isso tenha de destruir uma
família.
A escritora e roteirista Diablo Cody repete com o diretor
Jason Reitman a bem sucedida parceria que fizeram em Juno (2007). Mais uma vez, criam um personagem que segue códigos
paralelos aos considerados socialmente aceitos, dando à história uma estranheza
que não busca necessariamente empatia com o público.
Se a personagem-título em Juno era uma adolescente grávida que tomava uma decisão
questionável dentro dos padrões sociais normalizadores – mas com a qual se
poderia simpatizar e até entender – o mesmo não acontece com Mavis. Em sua
atitude doentia, determinada a destruir conscientemente um casamento, há algo
de maldade que a excelente atuação de Charlize Theron revela. Mas por trás
dessa maldade há o claro desespero da solidão.
Na volta à sua cidade, Mavis reencontra também Matt Freehauf
(Patton Oswalt), um sujeito que foi violentamente espancado no tempo do colégio
por acharem que ele era homossexual. Tendo ficado com sérias sequelas nas
pernas e no pênis, Matt funcionará como uma voz da consciência de Mavis ao
descobrir seu plano diabólico.
A amoralidade determinada da protagonista de Jovens Adultos gera uma antipatia
cômica, mas que o filme trabalha de forma não caricata, gerando um desconforto
maior que qualquer riso. Além de não ser caricato, o filme também evita o
maniqueísmo ou o moralismo. Se a visão que Mavis tem das pessoas de sua cidade é
preconceituosa e arrogante, esta visão não chega a ser desmentida pelo filme,
que revela de fato uma atmosfera que flerta com o tédio e a conformação.
Não se trata, porém, de julgamentos, mas de criar um filme
em que as situações e os personagens não sejam esquemáticos. Nesse sentido, Jovens Adultos funciona muito bem.
Dentro do desconforto de seguirmos a constrangedora determinação de Mavis, há o
estranhamento da protagonista sem caráter, mas que no mau-caratismo desconhece
que há apenas desespero e melancolia em si mesma.
Com um ritmo muito bem ajeitado, o filme vai desfolhando as
camadas desse caráter, revelando aos poucos o que Mavis não quer admitir. Nem
comédia, nem drama, nem moralismo. Jovens
Adultos é uma peça de pequena reflexão sobre a insatisfação e o
amadurecimento. Não entrega redenções e perdões hipócritas, fecha-se tão
somente na dureza de assumir-se diante de um espelho, mas sem falsas elevações
morais depois disso.
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Young Adult
Jason Ritman
EUA, 2011
94 min.
Trailer
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