Intitulada Se você morrer, eu te mato!, a nova mostra de filmes promovida pelo Centro Cultural Banco do Brasil em São Paulo traz a obra completa do cineasta norte americano Samuel Fuller (1912-1997).
A partir desta quarta (20), o público poderá ver na tela
todos seus 24 filmes, além de dois documentários sobre o diretor, realizados pelo
cineasta francês André S. Labarthe.
Samuel Fuller |
Samuel Fuller é considerado um dos diretores mais influentes
de sua geração. Nomes como Jean-Luc Godard, Wim Wenders, Martin Scorsese e
Steven Spielberg já declararam a força dessa influência em suas obras.
Dono de uma obra autoral de forte teor independente, apesar
de ter trabalhado com grandes estúdios, seus filmes são marcados pela
violência, pelo sarcasmo e pela abordagem de temas indigestos como o racismo, a
guerra, a loucura e o submundo.
Repórter e combatente
Tendo iniciado sua vida profissional como repórter policial
e servido na Segunda Guerra Mundial, Fuller fez dessas duas experiências um tema
recorrente em seus filmes. Além dos filmes de guerra, muitas de suas produções
apresentam uma carga jornalística através de seus personagens e do retrato
feito a partir de “camadas párias” da sociedade.
Agonia e Glória (1980) |
É a partir de sua visão da guerra, por exemplo, que nascem obras
como Capacete de Aço (1951) e Baionetas Caladas (1951), ambos sobre a
guerra da Coreia, além do marcante Agonia
e Glória (1980), que trazia suas memórias da Segunda Guerra.
Da experiência nas ruas como repórter, o gênero noir torna-se uma marca de muitos de seus
filmes, levando para a tela tipos pertencentes a um universo ambíguo de
violência latente. Dessa áspera realidade surgem filmes como A Dama de Preto (1952), Anjo do Mal (1953), O Quimono Escarlate (1959) e A
Lei dos Marginais (1961).
Western sem heroísmo
Fuller também realizou westerns,
como é o caso de seu primeiro longa metragem, intitulado Eu Matei Jesse James (1949). Mas ao abordar o gênero clássico do
cinema americano, o diretor subverte seus elementos para revelar personagens
sem heroísmo, calcados em inseguranças, covardias e contestações da sociedade.
O Beijo Amargo (1964) |
Da mesma forma contestatória, a perturbação mental está
presente em obras como Paixões que
Alucinam (1963) e O Beijo Amargo (1964).
Estes revelam com crueza e perturbadora construção a hipocrisia da sociedade
conservadora norte americana. Nessa perspectiva, trazem um sempre iminente
desvio doentio de comportamento. Desvios que a sociedade oculta sob a máscara
da normalidade, bem guardadas nos porões de seus tabus.
Polêmico, incômodo e corajoso, o cinema de Samuel Fuller é
marcado por uma estética que desmascara e aterroriza uma sociedade que vivia a
dissimulação de um sonho de fortuna e prosperidade pós-guerra. Seus filmes
revelam o outro lado – aquele que nem sempre se deseja ver – e refletem o
descompasso entre aparência e verdade.
O Quimono Escarlate (1959) |
Cru e cruel, brilhante em suas composições cênicas, ácido na
sua indigesta perturbação e franco em dizer o que não era dito.
“Se você morrer,
eu te mato”, frase dita por um sargento em Capacetes
de Aço, serve perfeitamente como metáfora de um diretor provocativo,
roteirista da maior parte de seus filmes, que levou ao cinema não apenas sua
visão de mundo estetizada na crueza perfuradora de sua câmera, mas também o instigante
debate a respeito de nossos instintos estúpidos, estupidificados e dissimulados.
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Serviço:
O quê: Mostra Samuel
Fuller: Se você morrer eu te mato!
Onde: Centro
Cultural Banco do Brasil - Rua Álvares Penteado, 112 –
Centro
Quando: de 20 a
31 de março
Quanto: R$ 4,00
(inteira), R$ 2,00 (meia-entrada)
Mais informações: www.bb.com.br / Tel: (11)
3113-3651/52
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