sexta-feira, dezembro 28, 2012

Destaques do Ano



Nada de lista com hierarquia de melhores. Embora sirvam ao gosto eletivo em geral, acho listas de finais do ano, assim como rankings em geral, uma coisa meio boba. Nada demais, caso algumas pessoas não levassem essa brincadeira muito a sério. E levar-se a sério demais é dar passo firme rumo a um bom papel de tolo.

Assim, o que segue abaixo é uma lista, sem hierarquia ou critério de valor numérico, de filmes que merecem serem destacados, na minha modesta opinião. Fazem parte do que pude ver ao longo do ano e ficam como meus destaques de 2012. A ordem em que aparecem é a ordem em que os vi. Nada mais que isso.


Drive
 Dizem que é muita espuma e pouco filme. Pode ser, mas é uma espuma com estilo e personalidade. Não é qualquer diretor que produz espuma tão bem e isso já é motivo para destaque.  A sequência de abertura é memorável e o filme recupera um estilo de filme que já não se vê. De uma forma ou de outra, disparado um dos melhores do ano.


Tudo Pelo Poder
George Clooney na direção mostra confiança e vigor. Neste filme, revela entranhas do poder com uma trama cheia de cinismo. Articula com inteligência e deixa a história bem amarrada. Mas não seria tão bom sem as excelentes atuações de Ryan Gosling, Paul Giamatti e o próprio Clooney.


A Separação
A expressão “cinema iraniano” virou piada-pronta-clichê de quem não conhece nada de cinema. Azar desses. O diretor Asghar Farhadi constrói uma dinâmica irretocável ao expor o Irã e sua cultura como elemento anacrônico da vida. De quebra, trabalha com brilhantismo questões como culpa e responsabilidade, especialmente quando derruba qualquer traço de maniqueísmo com personagens absolutamente humanos.


Precisamos Falar Sobre o Kevin 
Uma interpretação magnífica de Tilda Swinton e uma direção inteligente da diretora Lynne Ramsay. Uma combinação que na tela revela o mal em seu estado puro e humano, mas não através dos atos, mas através da dor de uma mãe vítima das consequências dos atos.


Os Descendentes
 A direção de Alexander Payne e a atuação de George Clooney são outro exemplo de uma combinação que chegou a um resultado excelente. Neste caso, serve para dar ao drama sua natural condição de ridículo. Assim, apresenta o patético natural em nós quando passamos por momentos difíceis.


Pina 3D
Wim Wenders usa o 3D para homenagear Pina Bausch, uma das maiores coreógrafas da Alemanha e que nos anos 70 redesenhou muito do que a dança viria a ser como expressão artística. Wenders faz do 3D um artifício que nos arrasta para o movimento e para o sentimento do movimento. Cria imagens impressionantes, insólitas e tocantes.


Jovens Adultos
Passou bastante despercebido, mas merece destaque por apresentar personagens disfuncionais, física e emocionalmente. Apresenta-se como filme de humor politicamente incorreto, mas se desenvolve como drama sobre maturidade que traz certo incômodo. Deveria ter sido melhor visto.


Luz nas Trevas - A Volta do Bandido da Luz Vermelha
Helena Ignês dá seguimento à herança do clássico absoluto do cinema marginal de Rogério Sganzerla. Mas o faz com personalidade própria, sustentando o caótico subversivo do espírito da obra primeira, mas apresentando uma atualização de pulso e assinatura. É coerente com o original sem ser servil a este.


Os Vingadores
Diversão, pura e simplesmente. Sem pretensões, sem grande conteúdo, sem elastificar trama, roteiro e personagens. Ao conseguir coordenar ação e tempos mortos com equilíbrio e por ter um aparato digital de efeitos irrepreensíveis, agradou todo mundo. É uma grande bobagem, claro. Mas uma bobagem muito divertida.


Deus da Carnificina
Roman Polanski filma teatro. Como dizem, é cinema falado. Mas o diretor consegue transformar essa peça de teatro, passada quase inteiramente dentro de um apartamento, em algo ironicamente perturbador. Apega-se, sim, ao texto original, mas sabe como poucos colocar sua câmera e aproveitar o espaço reduzido da ação.


Fausto
Do diretor russo Aleksandr Sokurov, esta adaptação da obra de Goethe para o cinema (entre tantas outras já realizadas), apresenta um apuro visual raro. As cores, a luz e os planos são motivo a parte para ver o filme e se impressionar. Mas, além disso, o diretor também disseca a culpa, a ganância e a maldade. Não é um filme fácil de atravessar. Exige muito do espectador com seu tom monocórdico de falatório. A travessia, no entanto, compensa o sacrifício.


Cosmópolis
David Cronenberg realiza uma tradução, em atmosfera e disfunção, dos dias de nossa economia global e abstrata. Num mundo onde o dinheiro circula, brota e some sem nunca ser visto, e as riquezas se constroem sem que nada se produza, o diretor transfere para a tela a personificação desse mundo e de seus arautos. Como não poderia deixar de ser, faz-se perturbador e desconfortável.


Um Alguém Apaixonado
Abbas Kiarostami, mais uma vez, nos coloca em dúvida. A incerteza é peça fundamental desse e de seu filme anterior, “Cópia Fiel”. Aqui, no entanto, há menos dúvida sobre o que é fato ou dissimulação. Mas o simulacro ainda é o motivo que revela dramas. Não há propriamente uma história. Apenas personagens. Para este brilhante diretor iraniano, isso é mais que o suficiente para dizer algo. E diz, com segurança e uma capacidade de criar sentimento incrível.


Gonzaga: De Pai para Filho
Cinemão nacional dos bons. Do tipo necessário, não apenas para resgate de nossa cultura e história, mas para a preservação da memória de figuras tão importantes como foi Luiz Gonzaga. O diretor Breno Silveira acerta em fugir da óbvia cinebiografia e vai em busca do conflito entre pai e filho. Emociona e elucida uma história pouco conhecida de dois nomes importantes da nossa música.


Holly Motors
Desconcertante. A melhor qualidade desse filme é nos arrancar da zona de conforto e propor um jogo de simulação. É a retórica pela imagem fragmentada, pelo abrupto desconcerto. O diretor Leos Carax apresenta tudo isso com uma beleza emocionante e vibrante. Não acerta o tempo todo, mas tem a ousadia de não se fazer entender sempre. Para alguns, isso é a morte. Para outros, o estímulo.
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