Nada de lista com hierarquia de melhores. Embora sirvam ao
gosto eletivo em geral, acho listas de finais do ano, assim como rankings em
geral, uma coisa meio boba. Nada demais, caso algumas pessoas não levassem essa
brincadeira muito a sério. E levar-se a sério demais é dar passo firme rumo a
um bom papel de tolo.
Assim, o que segue abaixo é uma lista, sem hierarquia ou
critério de valor numérico, de filmes que merecem serem destacados, na minha
modesta opinião. Fazem parte do que pude ver ao longo do ano e ficam como meus
destaques de 2012. A ordem em que aparecem é a ordem em que os vi. Nada mais
que isso.
Drive
Tudo Pelo Poder
George Clooney na direção mostra confiança e vigor. Neste filme, revela entranhas do poder
com uma trama cheia de cinismo. Articula com inteligência e deixa a história bem amarrada. Mas não seria tão bom sem as excelentes atuações de Ryan Gosling, Paul Giamatti e o próprio Clooney.
A Separação
A
expressão “cinema iraniano” virou piada-pronta-clichê de quem não conhece nada
de cinema. Azar desses. O diretor Asghar Farhadi constrói uma dinâmica
irretocável ao expor o Irã e sua cultura como elemento anacrônico da vida. De
quebra, trabalha com brilhantismo questões como culpa e responsabilidade,
especialmente quando derruba qualquer traço de maniqueísmo com personagens
absolutamente humanos.
Uma interpretação magnífica de Tilda Swinton e uma direção
inteligente da diretora Lynne Ramsay. Uma combinação que na tela revela o mal em
seu estado puro e humano, mas não através dos atos, mas através da dor de uma
mãe vítima das consequências dos atos.
Os Descendentes
Pina 3D
Wim
Wenders usa o 3D para homenagear Pina Bausch, uma das maiores coreógrafas da
Alemanha e que nos anos 70 redesenhou muito do que a dança viria a ser como
expressão artística. Wenders faz do 3D um artifício que nos arrasta para o
movimento e para o sentimento do movimento. Cria imagens impressionantes,
insólitas e tocantes.
Jovens Adultos
Passou
bastante despercebido, mas merece destaque por apresentar personagens
disfuncionais, física e emocionalmente. Apresenta-se como filme de humor
politicamente incorreto, mas se desenvolve como drama sobre maturidade que traz
certo incômodo. Deveria ter sido melhor visto.
Helena Ignês dá seguimento à herança do
clássico absoluto do cinema marginal de Rogério Sganzerla. Mas o faz com
personalidade própria, sustentando o caótico subversivo do espírito da obra
primeira, mas apresentando uma atualização de pulso e assinatura. É coerente com
o original sem ser servil a este.
Os Vingadores
Diversão, pura e simplesmente. Sem pretensões, sem grande conteúdo, sem
elastificar trama, roteiro e personagens. Ao conseguir coordenar ação e tempos
mortos com equilíbrio e por ter um aparato digital de efeitos irrepreensíveis,
agradou todo mundo. É uma grande bobagem, claro. Mas uma bobagem muito
divertida.
Deus da Carnificina
Roman Polanski filma teatro. Como dizem, é cinema falado. Mas o diretor
consegue transformar essa peça de teatro, passada quase inteiramente dentro de
um apartamento, em algo ironicamente perturbador. Apega-se, sim, ao texto
original, mas sabe como poucos colocar sua câmera e aproveitar o espaço
reduzido da ação.
Fausto
Do
diretor russo Aleksandr Sokurov, esta adaptação da obra de Goethe para o cinema
(entre tantas outras já realizadas), apresenta um apuro visual raro. As cores,
a luz e os planos são motivo a parte para ver o filme e se impressionar. Mas,
além disso, o diretor também disseca a culpa, a ganância e a maldade. Não é um
filme fácil de atravessar. Exige muito do espectador com seu tom monocórdico de
falatório. A travessia, no entanto, compensa o sacrifício.
Cosmópolis
David Cronenberg realiza uma tradução, em atmosfera e disfunção, dos dias de
nossa economia global e abstrata. Num mundo onde o dinheiro circula, brota e
some sem nunca ser visto, e as riquezas se constroem sem que nada se produza, o
diretor transfere para a tela a personificação desse mundo e de seus arautos.
Como não poderia deixar de ser, faz-se perturbador e desconfortável.
Um Alguém Apaixonado
Abbas Kiarostami, mais uma vez, nos coloca em dúvida. A incerteza é peça
fundamental desse e de seu filme anterior, “Cópia Fiel”. Aqui, no entanto, há
menos dúvida sobre o que é fato ou dissimulação. Mas o simulacro ainda é o motivo
que revela dramas. Não há propriamente uma história. Apenas personagens. Para
este brilhante diretor iraniano, isso é mais que o suficiente para dizer algo.
E diz, com segurança e uma capacidade de criar sentimento incrível.
Gonzaga: De Pai para Filho
Cinemão nacional dos bons. Do tipo necessário, não apenas para
resgate de nossa cultura e história, mas para a preservação da memória de figuras
tão importantes como foi Luiz Gonzaga. O diretor Breno Silveira acerta em fugir
da óbvia cinebiografia e vai em busca do conflito entre pai e filho. Emociona e
elucida uma história pouco conhecida de dois nomes importantes da nossa música.
Holly Motors
Desconcertante. A melhor qualidade desse filme é nos arrancar da zona de
conforto e propor um jogo de simulação. É a retórica pela imagem fragmentada,
pelo abrupto desconcerto. O diretor Leos Carax apresenta tudo isso com uma
beleza emocionante e vibrante. Não acerta o tempo todo, mas tem a ousadia de
não se fazer entender sempre. Para alguns, isso é a morte. Para outros, o
estímulo.
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