Apesar das fantásticas imagens e dos excelentes efeitos especiais, o que faz de As Aventuras de Pi um filme encantador é o mais simples em qualquer filme: uma boa história. No caso, a do menino indiano que cresceu no zoológico da família e que sobrevive a um naufrágio ao lado de um tigre feroz. Um menino que “colecionava” religiões por achar ser possível acreditar em mais do que apenas uma.

Depois de conhecermos a natureza singular de Pi, o jovem
filho de pais ateus que crê em muitas religiões – assim como a história não
menos singular de seu nome –, somos levados ao alto mar, em um naufrágio que
não poderia ser mais insólito. Um jovem, um barco e um tigre na imensidão do
oceano pacífico. Dessa improvável combinação, uma história de sobrevivência,
mas também de sublimação da tragédia e da perda.
Como já havia feito em O
Tigre e o Dragão, Lee nos apresenta o intangível particular de personagens
cuja cultura e compreensão da vida se distancia do nosso comum ocidental.
Porém, se no épico de artes marciais os códigos de conduta e
honra serviam de matriz para uma complexa relação entre dever e destino, aqui o
abismo entre visões filosóficas diferentes da nossa ganha uma ponte mais
sólida, mas fácil de ser transposta e compreendida. Esta ponte se chama fábula.
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Para dar cor e forma a essa aventura, Ang Lee capricha nos
efeitos especiais. Criaturas marinhas, a imensidão do nada oceânico, as
tempestades e o tigre, em sua natureza animalesca e ameaçadora, compõem
uma visão épica, quase onírica, dos desafios dessa sobrevivência em alto mar.
Todo esse aspecto visual faz de As
Aventuras de Pi um filme para ser visto no cinema, em tela grande. Essa é a
única forma de experimentar inteiramente sua grandeza visual.
Emocionante sem precisar de grandes gestos dramáticos, parte
do brilho do filme está também nas atuações simples e cheias de sentimento. Em
especial de Suraj Sharma (Pi jovem) e Irrfan Khan (Pi adulto). São essas
atuações que sustentam o filme, que dão sentido a todo aparato visual da
produção. Com uma sensibilidade rara nas recentes produções de grandes efeitos
visuais, aqui se valoriza o gesto do ator, o drama sincero, a expressão do rosto.

Ang Lee faz dos efeitos instrumentos da narrativa, não a
razão dela. Aqui, o que importa, como no mais elementar do cinema, é a história
da vida de Pi. Com toda beleza e simplicidade que isso encerra. Por isso é
cinema grande.
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Life of Pi
Ang Lee
EUA/China, 2012
127 min.
Traier
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