Rainha-bruxa-má misândrica, incestuosa e fetichista? Não,
Hollywood jamais iria tão longe. Mas que a ótima personificação que Charlize Theron
faz da vilã famosa pela frase “espelho, espelho, meu...” dá margem a ilações,
isso dá. Em Branca de Neve e o Caçador,
que chega na próxima sexta aos cinemas, a atriz é a melhor razão para se ver o
filme.
Na onda das releituras de clássicos infantis, transmutados
em aventuras cheias de ação direcionadas ao público adolescente, o filme
estrelado por Kristen Stewart (a Bella de Crepúsculo),
cumpre seu papel com um mínimo de dignidade. Engrossando o elenco – e o apelo
juvenil feminino – Chris Hemsworth (o Thor de Os Vingadores), faz as vezes do caçador do título.
Da trama, cabe dizer que a Rainha-bruxa-má chama-se Ravenna.
Traiçoeira figura que vive sob um feitiço através do qual perpetua sua beleza e
seu poder. Ajudada pelo irmão, parte desse feitiço só tem efeito enquanto não
houver outra mulher mais bela dando sopa por aí. Ela seduz o rei viúvo, pai de Branca
de Neve, para logo assumir seu lugar e jogar a inocente garotinha na masmorra.
A certa altura, por imposição do roteiro, o espelho mágico
se vê obrigado por contrato a dizer que Branca de Neve é mais bela que Ravenna;
algo um tanto sem cabimento, mas que se tolera para não deixar a história
perder a graça. O resto segue como esperado, Branca de Neve foge, a Rainha
manda um caçador trazer o coração da moça, o caçador afrouxa, sentimos todos
etc.
Mas o filme não vai pelo caminho clássico. Os tais sete
anões, por exemplo, demoram a aparecer e não são nada amáveis. São na verdade
salteadores brutos, ex-mineradores afetados pela crise sombria que o reinado de
Ravenna trouxe para o reino. É somente após estarem todos reunidos que a trama
deslancha para algum lugar. Antes disso, o filme vai se arrastando de um lado a
outro sem muita direção.
Percebe-se em Branca
de Neve e o Caçador um esforço quase bem sucedido de se levar a sério. Este
esforço só funciona em parte graças à malévola Ravenna, que dá um bom estofo
sombrio para o clima da aventura. Prejudica este esforço a velha preguiça de
roteiro, quando remendos são inseridos na trama e não levam a lugar algum, como
é o caso de um personagem que faz parte da infância de branca de Neva. O modo
como ela atravessa o filme é grotescamente mal costurado.
Apesar de tudo, esta releitura do conto de fadas alcança um
bom brilho. Tem uma direção de arte bem acabada, uma fotografia redonda, apesar
de óbvia, e uma atriz que dá segmento à tradição na qual muitas vezes é o vilão
da história quem rouba a cena e faz o filme valer o ingresso.
--
Snow White and the
Huntsman
Rupert Sanders
EUA, 2012
127 min.
Trailer
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