Sempre lembrada por seu papel em O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (2001), Audrey Tautou tem um
encanto próprio. Os grandes olhos negros, o sorriso tímido, o jeito sonhador e
um ar sutil de deslocamento, fazem parte desse encanto e contribuem para a que atriz
francesa seja frequentemente chamada para papéis em histórias românticas. É
mais uma dessas histórias que ela protagoniza em A Delicadeza do Amor.
Delicadeza é o termo certo para descrever a forma como Nathalie
(Audrey Tautou) lida com os caminhos inesperados de sua vida. De vendedora de
programas de peças de teatro a um emprego promissor; de um casamento apaixonado
à perda repentina; do luto doloroso a uma tentativa de restauração de seu afeto.
Será este o inconstante trajeto de Nathalie, no qual a delicadeza estará sempre
presente.
Contudo, mesmo recheado de uma beleza romântica bem
colocada, a sinuosidade dos caminhos da personagem fazem enfraquecer o filme,
tornando-o irregular. Alternam-se momentos absolutamente sublimes – como o
belíssimo e poético desfecho – com outros cheios de clichês românticos.
A falha mais evidente está no roteiro, que dá uma série de
voltas que não levam a lugar algum. Há uma intenção de criar um clima de
estranheza, fazendo da história de Nathalie algo inusitado e fora dos padrões.
A intenção é boa, pois desvincula o filme de roteiros previsíveis e personagens
estereotipados. Contudo, pela dosagem exagerada, tem-se em alguns momentos a
impressão de que a história se perdeu.
Porém, o que ameniza esse descompasso no ritmo do filme é a
entrada de Markus (François Damiens). Ele é o estranho colega de trabalho de
Nathalie, um sueco desajeitado que vive na França. É este personagem o grande
achado do filme, que cresce sempre que ele está em cena. Com jeito meio abobado
e compartilhando de uma ingenuidade delicada, surgirá entre ele e a
protagonista uma química improvável. E também as tiradas mais divertidas do
filme.
Sem os rodeios que tanto dispersam a trama, A Delicadeza do Amor poderia ser uma
obra menos irregular e mais consistente. Mas mesmo com tantas falhas, a
presença sempre bem temperada de Audrey Tautou e a espirituosa surpresa da
atuação de François Damiens salvam o filme, impedindo um desastre açucarado e
piegas. Nos momentos que acerta, é divertido, bonito e até poético.
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La Délicatesse
David Foenkinos e Stéphane Foenkinos
França, 2011
108 min.
Trailer
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