Para o papel principal, o diretor escala seu filho – e bom
ator – Louis Garrel. Ele interpreta Frédéric, um pintor francês que vive em
Roma com sua esposa e atriz de cinema Angèle (Bellucci). A história é narrada por
Paul (Jérôme Robart), melhor amigo de Frédéric. Ele é um aspirante a ator que
faz pequenas participações em filmes e vive com Élisabeth (Céline Sallette),
que conheceu num set de filmagens. Ao viajarem para visitar o amigo pintor em
Roma, acabam todos morando na mesma casa, a convite de Frédéric.
A proximidade dos dois casais não tem interferência no
desgaste que ambos relacionamentos irão sofrer. Mas todos serão afetados por
esse desgaste. Durante o processo, vê-se o amor imenso que cada um dedica, à
sua maneira, ao seu par. E há também uma tediosa narrativa, na qual a
construção do distanciamento dos personagens é refletida no distanciamento da
câmera.
É justamente esse distanciamento que nos mantém, a nós
espectadores, também distantes. E como todo esse sentimento não nos afeta,
resta apenas a observação. Uma observação afastada, barreira criada entre filme
e espectador.
Garrel filma sempre a certa distância. Predomina no filme
planos médios. Esse distanciamento parece refletir o mesmo distanciamento que
se cria entre os personagens, quase nunca próximos demais, apesar do grande
amor. É dessa mesma forma que o diretor nos mantém em relação a seu filme,
criando um vácuo entre sentimento e público, impedindo qualquer empatia com os
dramas retratados.
Um efeito proposital, pensado, mas que articulado com uma
trama de conflitos escassos, cai na monotonia, tornando-se irregular.
Uma dança discretamente sensual de Monica Bellucci, em plano
sequência, fecha o primeiro ato e ilustra o modo como os personagens às vezes
se veem: com intensidade, mas a certa distância. Desse ponto até o segundo
marco, o filme decresce. Entra numa dinâmica lenta e espiralada que traz
arremates de ciúme, desconforto, rompimento e adultério.
Pontuado novamente por música, abre-se o terceiro ato e o
filme volta a crescer. Entra na dinâmica a vida e a morte. Entre elas, o amor.
Não sem certa pieguice. O afastamento persiste e, no último plano, é um gesto
de afastamento que encerra a narrativa. Um
Verão Escaldante está cheio de sentimento, mas este nunca chega até nós.
Sem senti-lo, também nós nos afastamos e acabamos por ter como experiência um
certo vazio. O mesmo vazio que os personagens temem tanto e não conseguem evitar.
Articulado em seu cinema, Philippe Garret propõe um
interessante exercício de observar os sentimentos sem senti-los com empatia.
Mas desliza no tédio colateral desse exercício e no vazio exagerado que ele
proporciona.
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Un Été Brûlant
Philippe Garrel
França/Itália/Suíça, 2011
95 min.
Trailer
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