Renato Ciasca, um dos diretores de Eu
Receberia..., afirma que ele e Beto Brant (com quem coassina a direção)
fizeram um filme sobre o amor incondicional. Beto Brant, por sua vez, ressalta
o aspecto sensorial da obra, muito mais que o narrativo. O sensorial e o amor
incondicional são, de fato, dois importantes aspectos do livro homônimo de
Marçal Aquino, no qual o filme é baseado. E para traduzir em imagens duas
forças tão abstratas, os diretores apostaram menos na narrativa formal e mais
na força das cenas. O resultado é uma entrega intensa, personificada na
interpretação que Camila Pitanga faz de Lavínia, a personagem que é o eixo arrebatador
na vida de dois homens.
Após um primeiro plano enigmático, introdução para
a sensualidade e o mistério que o filme pretende construir, conhecemos Lavínia.
Sua primeira aparição revela um desconcerto. Depois, o fogo inconsumível. Em
uma cidade no interior do Pará, ela se entrega ao forasteiro Cauby (Gustavo
Machado). Ele é fotógrafo profissional, do tipo que não fica muito tempo no
mesmo lugar. Ela é esposa do pastor Ernani (Zécarlos Machado), o líder
religioso da comunidade cuja pregação traz um discurso sincretista e fortemente
político, de veemente crítica à exploração da região pelas madeireiras. Este é
o pano de fundo do triângulo amoroso.
O amor de Lavínia e Cauby só pode ser traduzido
pelo sensorial. Brant e Ciasca entenderam isso muito bem. No livro, a
construção dessa relação perpassa tempos mortos intercalados pela efervescência
das horas de sexo. Isso também foi entendido pelo filme, que traz cenas quentes
com a nudez de Camila Pitanga. Uma nudez e um calor sensual que nunca se torna
vulgar. Ao invés, amplifica-se de delicadeza graças à fotografia afinada com a
narrativa. E também graças à beleza dos corpos dos amantes e, principalmente,
graças a uma interpretação de rara intensidade por parte da atriz Camila
Pitanga.
Com uma experiência de sete filmes em parceria com
o escritor Marçal Aquino, Beto Brant não cai no equívoco de uma adaptação
que se perde no caminho da literalidade. Para tentar traduzir o intangível da
relação dos amantes, os diretores arriscam uma construção que distende e ao
mesmo tempo fragmenta o tempo. O efeito funciona, ainda que o excesso do
recurso de fade out (efeito de
desaparecimento gradual da imagem) separando as cenas fragmente também a
tensão, importante elemento da história.
O resultado é que o perigo iminente, que em certo
momento cerca os envolvidos, nunca é percebido em sua gravidade, e quando se
desdobram acontecimentos trágicos o efeito (e até a recepção de alguns
personagens) acaba enfraquecido. Como o que há de mais sólido na aventura
desses amantes é o perigo iminente e as consequências inesperadas, o filme
perde vigor nesse sentido.
Por outro lado, a obra alcança um acerto de
altíssima qualidade na construção de Lavínia, verdadeiro ponto de emanação de
toda desventura da trama. Ela é mais que a mulher-desejo e a contradição desse
desejo. Ela é o mistério, a provocação, a esfinge que te devora; quer você a decifre
ou não. Para tornar possível essa Lavínia de múltiplas faces e perigos, Camila
Pitanga se travestiu de enigma ao incorporar com vasto repertório as fases
dessa personagem. Da ardente paixão ao desespero profundo, Pitanga ilumina cada
cena em que aparece.
Eu
Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios é acima de tudo um filme de entrega. Sua história
de amor incondicional e sua narrativa se assentam nas sensações. Na amarração
dessa aventura, acerta no tom e na intensidade. Com isso, torna-se uma
experiência que afaga e castiga, que acaricia e machuca. É cinema feito não apenas para a cabeça, mas para o corpo inteiro.
--
Beto Brant e Renato Ciasca
Brasil, 2011
Trailer
2 comentários:
Só esqueceram de depilar a Camila, pois na região atéas piriguetes vivem preparadas para o sexo, raspadinhas, qunato mais "ex-prositutas".
No final fiquei em dúvida se ela era bipolar (maníaco-depressiva) ou uma psicopata que fez um trabalho de umbanda para matar o velho, ficar com o dinheiro e claro com o garotão....
Adorei seu blog. Ótimas críticas, estarei sempre por aqui. Gostaria que visitasse meu blog cinemapelaarte.blogspot.com, seria um prazer.
Postar um comentário