Pois serão justamente algumas belas canções desse estilo
musical que irão ilustrar e pontuar a história de amor entre Didier (Johan
Heldenbergh) e Elise (Veerle Baetens) no tocante filme Alabama Monroe.
Didier faz parte de uma banda de Bluegrass e é apaixonado
pelo estilo de vida country. Elise é uma tatuadora profissional que até
conhecer Didier mal sabia do que se tratava a música que ele toca. No entanto,
eles vão se apaixonar, ela vai ser integrada à banda, eles vão se casar e ter
uma filha, Maybelle (Nell Cattrysse). É dessa relação e dos momentos difíceis
que o filme trata, fazendo da música um elemento fundamental de sua natureza.
A música em Alabama
Monroe será algo como uma marcação de andamento, ou uma marca de transição.
Presente o tempo todo, não será nunca protagonista e ao mesmo tempo será sempre
um fundamento na construção dramática. Como se fossem pontos de arremate da
trama, as canções surgem na interpretação e pontuação de momentos de alegria ou
de tristezas e perdas.
Assim, as canções ajudam a compor uma textura que será
desenvolvida em conjunto com um trabalho muito bem realizado de montagem,
edição e construção não linear da narrativa. Uma textura que se apresenta como
uma suave transição entre os diferentes momentos da trama, com avanços e recuos
que jamais rompem a linha constante no andamento e a formação de um tecido de
sentimento que a história tão bem constrói.
Ao contrário do que normalmente acontece com montagens não
lineares, o filme não se apresenta como um quebra-cabeça, cujas peças vão se
encaixando para revelar um todo surpreendente. Suas elipses, suas idas e vindas,
se entrelaçam de forma tão suave e bem amarrada que a textura que se forma é
como algo macio, uma dramaticidade que nos envolve sem pressa, nos conduzindo
sutilmente para a comoção.
Esta desapressada cadência, contudo, não se confunde com
lentidão. Por isso o grande destaque do filme é o modo como encontra um afinado
ponto de equilíbrio em seu andamento. Não se nota nenhum desperdício de tempo.
Cada cena tem a duração precisa para levar a história adiante sem perder sua
capacidade de ambientar, de dar atmosfera e contornos para o sentimento de cada
momento.
Sem tempos mortos, o filme prefere a agilidade: conduz
sempre adiante sem fazer disso sobressalto ou pressa.
Pontuando tudo isso, estão as canções. Elas se integram bem
encaixadas no tecido da história, e se por algum momento esbarram nalgum
artificialismo, este se dilui no modo como elas funcionam dentro de uma
dinâmica própria e consistente da proposta narrativa.
Assim, as lágrimas que Alabama
Monroe termina por extrair do público não se apresentam com a imposição
forçada ou a insistência artificial comum em melodramas ruins ou dramalhões
exagerados. Em vez disso, a comoção se monta como algo até esperado, mas cuja pouca
surpresa faz nos atingir com uma força particular, sem desespero.
Sua força dramática, emoldurada pela música e por um imenso
carisma de seus personagens (mérito da dupla de atores e da ótima química que
constroem), pode até ser fruto de algum artificialismo estético que tem na
música e na montagem artifícios de encantamento. Mesmo que seja assim, o filme
tem o definitivo mérito de sua grande capacidade de encantar e comover sem
forçar limites, sem apelar para o mais fácil, fazendo de sua construção
narrativa um suave ritmo de amor e sofrimento, como suas próprias canções.
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The Broken Circle Breakdown
Felix Van Groeningen
Bélgica/França, 2012
111 min.
1 comentários:
Assisti este filme ainda nos EUA. Divertido, engraçado e sensível. Ideal para uma tarde de domnigo.
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