Primeiro, avalie o elenco formado por Hugh Jackman, Anne Hathaway, Russel Crowe, Amanda Seyfried, Sacha Baron Cohen e Helena Bonham Carter. Em seguida, pondere: são eles que vão preencher, sempre cantando, as duas horas e trinta e sete minutos de duração do filme.

Na esteira dos fatos, cabe lamentar que o livro homônimo de Victor Hugo, obra máxima da literatura ocidental do século 19, seja mais conhecido como o musical de extraordinário sucesso da Broadway do que como o importante romance que é. Nada em demérito aos 25 anos de merecido sucesso do musical, mas a real grandeza de uma obra literária só se alcança lendo-a. De preferência, sem música.
É como melhor se poderá conhecer a história de Jean Valjean
(Hugh Jackman), condenado a 19 anos de prisão por roubar um pão que tenta
reconstruir sua vida. Ou a prostituta Fantine (Anne Hathaway), mulher que cai
em desgraça por ser mãe solteira. E o oficial de polícia Javert (Russel Crowe),
implacável perseguidor de párias, não importando seu estado de fome e miséria. Assim
vai-se à doce e apaixonada Cosette (Amanda Seyfried) e ao idealista e bravo Marius
(Eddie Redmayne). Todos eles e mais outros presentes, fielmente ao livro, no longo
musical de Hooper.

Esse arrasto das horas acontece porque, ao contrário do que
pode parecer num primeiro momento, essa adaptação sofre de uma cansativa
pobreza de recursos visuais. Não que a direção de arte seja ruim. Ao contrário,
o trabalho foi bastante bem feito, ainda que não de forma brilhante.

Essa opção de aproximação empobrece o cenário e empobrece
também o inevitável tom operístico do musical. Ao exceder-se no modo como
aproxima os atores do público, deixa-os descontextualizados na cena, o que
acaba por burocratizar a narrativa e o dinamismo das cenas. Perde-se com isso a
fluidez, algo indispensável para um musical, mesmo que a opção tenha sido por
pouquíssimas cenas de dança e coreografia.

Figurando entre os candidatos ao Oscar de melhor filme, mas
sintomaticamente, não ao de melhor direção, Os
Miseráveis é um musical que se pretende grandioso (e a primeira cena do
filme até faz crer que assim será), de épicas emoções. Mas fica mais na
pretensão. De grandeza mesmo, o mais perto que chega é no tempo de sua duração.
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(*) expressão francesa
que, grosso modo, diz respeito à
câmera em relação aos atores e ao cenário, os movimentos dentro do
enquadramento ou do próprio enquadramento, a composição do plano etc.
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Les Misérables
Tom Hooper
Reino Unido, 2012
157 min.
Trailer