Seja essa angústia de cunho claramente violento, como em Violência Gratuita (1997); seja de terror psicológico, como em Caché (2005); seja na exploração na natureza de um mal atávico, como em A Fita Branca (2009).

Indicado duplamente ao Oscar de melhor filme (concorre ao
mesmo tempo ao prêmio de melhor filme e de melhor filme estrangeiro), Amor retrata um processo degenerativo na
vida desse casal, quando um deles adoece irremediavelmente.
Na estrutura narrativa, o diretor concentra-se na intimidade, aprofundando o tempo por elipses que transmitem o agravamento da doença. Cria uma evolução dinâmica, mas que preserva a tensão do drama experimentado pelos personagens.
Dentro do apartamento onde vive o casal, cresce um tipo de aprisionamento por sobre outro aprisionamento. Naquele espaço de convivência em comum - de toda uma vida em comum - a relação afetuosa que se desdobra pelo cuidado, porém sem esconder o transtorno de quem sofre e o de quem assiste sofrer.
Dentro do apartamento onde vive o casal, cresce um tipo de aprisionamento por sobre outro aprisionamento. Naquele espaço de convivência em comum - de toda uma vida em comum - a relação afetuosa que se desdobra pelo cuidado, porém sem esconder o transtorno de quem sofre e o de quem assiste sofrer.

Jean-Louis Trintignant, Emmanuelle Riva e Isabelle Huppert são, respectivamente, marido, esposa e filha. Esta última, com aparições pontuais, que mais enfatizam a solidão do casal do que a possibilidade de compartilhamento do fardo. Mas são as atuações de Trintignant e Riva que dão ao filme sua intensidade precisa, algo de assombro dolorido, preenchido pela sensibilidade crua, típica do cinema de Haneke.
Um tipo de cinema, aliás, que não evita a polêmica, aqui representada
pela discussão da eutanásia. Mas como a obviedade é fator escasso na obra do
diretor, essa discussão se apresenta pela surpresa, construída de forma
delicada, sem deixar de ressaltar os traços de certa brutalidade humana.

Amor é filme que
fala do fim da vida, da dignidade que merecemos ao chegar perto desse fim e que
nem sempre nos é reservada. Seu sentimento de mundo é a solidão inevitável da
velhice, um aprisionamento do corpo ante o descompasso de querer liberdade, ou de querer libertar.
Por isso o amor de Haneke não é idílico, como também não é
cínico. É, antes, feito de verdade, com sentimentos que vão além da beleza
simples e traduzem a complexidade do que é real e humano. Um amor de afeto e dedicação, como nos relega a condição humana, mas também cruel e brutal, como parte dessa mesma condição humana.
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Amour
Michal Haneke
França/Alemanha/Áustria, 2012
127 min.
Trailer
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