segunda-feira, junho 11, 2012

Kaboom


 CRÍTICA PUBLICADA ORIGINALMENTE NO SITE CINECLICK

Enquadrando-se naquele gênero de filme difícil de ser enquadrado em algum gênero de filme, Kaboom exige um grande esforço para ser apreciado ou, pelo menos, aturado. Isso porque sua estrutura, roteiro e dinâmica servem a um projeto de provocação e cinismo nada fácil de ser digerido. Tudo fruto da mente do diretor e roteirista Gregg Araki, conhecido por seus filmes independentes de temática gay e qualidade duvidosa.

Smith (Thomas Dekker) é um jovem gay, estudante de cinema, que tem fantasias eróticas com seu colega de quarto hétero. Mas ele também transa com garotas e é ao voltar para seu dormitório após fazer sexo com uma delas que presencia uma estarrecedora e surreal cena de assassinato, cometido por homens usando máscaras de animais. Ao menos é o que ele pensa, já que desmaia logo em seguida e ao acordar tem dúvidas sobre o que viu. Especialmente porque a garota assassinada é idêntica a uma que aparece em um sonho recorrente seu.

Intrigado com o mistério, Smith pede ajuda à sua melhor amiga, Stella (Haley Bennett), uma lésbica que está saindo com uma feiticeira com poderes sobrenaturais. Enquanto busca pistas sobre o que ocorreu, Smith experimenta o sexo casual com homens e mulheres. Também passa a ser perseguido por sujeitos com máscaras de animais, ao mesmo tempo que ajuda a amiga Stella a fugir da obsessiva lésbica-bruxa. Em meio a tudo isso, descobre os planos de uma seita secreta que planeja o fim do mundo e que está ligada à seu passado e a seu pai, morto num acidente de carro quando ainda era criança.

Este resumo da ópera dá uma ideia do que esperar de Kaboom e sua insana espiral de tipos e situações. Mas é preciso acrescentar que o diretor tempera tudo isso com um visual e ritmo de seriado televisivo. Além de um pouco de escatologia e algumas cenas de sexo. A mistura não é exatamente digestiva, já que alguns excessos e a ausência de uma boa amarração no andamento da trama fazem enjoar rapidamente. Portanto, o risco de abandono da sala é grande, como se viu em 2010, quando o filme foi exibido (fora de competição) no Festival de Cannes.

Cabe reforçar, no entanto, que o diretor caminha pelas vias da provocação e da desconstrução de seus temas recorrentes. Claro que nem sempre acerta, mas vale dizer que o surrealismo faz parte de suas referências, como fica claro em uma cena do filme que faz referência ao cinema de Luis Buñuel. Além da temática gay – aqui tratada muitas vezes de forma banal e rasa – está também presente sua sátira às séries televisivas de comédia e dramas adolescentes.

O resultado de tudo é um filme esquisito, criado dentro de um propósito que parece claro para o diretor, mas muito confuso para quem o assiste. Não se pode, porém, dizer que o filme é irregular, já que a irregularidade é o elemento principal da construção do filme. Ou seja, é proposital. Mesmo sendo o espírito provocativo algo desejável em qualquer cinema, no caso deste exemplar de Gregg Araki a mão pesada fez o molho azedar. Por isso, a digestão de Kaboom não é nada fácil.
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Kaboom
Gregg Araki
EUA/França, 2010
86 min.

Trailer

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