CRÍTICA PUBLICADA ORIGINALMENTE NO SITE CINECLICK
Enquadrando-se naquele gênero de filme difícil de ser
enquadrado em algum gênero de filme, Kaboom
exige um grande esforço para ser apreciado ou, pelo menos, aturado. Isso porque
sua estrutura, roteiro e dinâmica servem a um projeto de provocação e cinismo
nada fácil de ser digerido. Tudo fruto da mente do diretor e roteirista Gregg
Araki, conhecido por seus filmes independentes de temática gay e qualidade
duvidosa.
Smith (Thomas Dekker) é um jovem gay, estudante de cinema,
que tem fantasias eróticas com seu colega de quarto hétero. Mas ele também
transa com garotas e é ao voltar para seu dormitório após fazer sexo com uma
delas que presencia uma estarrecedora e surreal cena de assassinato, cometido
por homens usando máscaras de animais. Ao menos é o que ele pensa, já que
desmaia logo em seguida e ao acordar tem dúvidas sobre o que viu. Especialmente
porque a garota assassinada é idêntica a uma que aparece em um sonho recorrente
seu.
Intrigado com o mistério, Smith pede ajuda à sua melhor
amiga, Stella (Haley Bennett), uma lésbica que está saindo com uma feiticeira
com poderes sobrenaturais. Enquanto busca pistas sobre o que ocorreu, Smith
experimenta o sexo casual com homens e mulheres. Também passa a ser perseguido
por sujeitos com máscaras de animais, ao mesmo tempo que ajuda a amiga Stella a
fugir da obsessiva lésbica-bruxa. Em meio a tudo isso, descobre os planos de
uma seita secreta que planeja o fim do mundo e que está ligada à seu passado e
a seu pai, morto num acidente de carro quando ainda era criança.
Este resumo da ópera dá uma ideia do que esperar de Kaboom e sua insana espiral de tipos e
situações. Mas é preciso acrescentar que o diretor tempera tudo isso com um
visual e ritmo de seriado televisivo. Além de um pouco de escatologia e algumas
cenas de sexo. A mistura não é exatamente digestiva, já que alguns excessos e a
ausência de uma boa amarração no andamento da trama fazem enjoar rapidamente.
Portanto, o risco de abandono da sala é grande, como se viu em 2010, quando o
filme foi exibido (fora de competição) no Festival de Cannes.
Cabe reforçar, no entanto, que o diretor caminha pelas vias
da provocação e da desconstrução de seus temas recorrentes. Claro que nem
sempre acerta, mas vale dizer que o surrealismo faz parte de suas referências,
como fica claro em uma cena do filme que faz referência ao cinema de Luis
Buñuel. Além da temática gay – aqui tratada muitas vezes de forma banal e rasa
– está também presente sua sátira às séries televisivas de comédia e dramas adolescentes.
O resultado de tudo é um filme esquisito, criado dentro de
um propósito que parece claro para o diretor, mas muito confuso para quem o
assiste. Não se pode, porém, dizer que o filme é irregular, já que a
irregularidade é o elemento principal da construção do filme. Ou seja, é
proposital. Mesmo sendo o espírito provocativo algo desejável em qualquer
cinema, no caso deste exemplar de Gregg Araki a mão pesada fez o molho azedar.
Por isso, a digestão de Kaboom não é nada fácil.
--
Kaboom
Gregg Araki
EUA/França, 2010
86 min.
Trailer
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