Quando o drama de Flores
do Oriente finalmente nos fisga, já se passaram mais de uma hora e quarenta
de filme e outros 40 minutos ainda estão por vir. É tempo demais para uma
história engrenar ou dizer a que veio, mesmo se tratando de trazer à tona um fato
histórico: o massacre promovido pelo exército japonês contra a população de Nanquin,
na China, em 1937.
Historicamente, a invasão da cidade pelo exército japonês é
conhecida por alguns como “estupro de Nanquin”, título que basta para ilustrar
o tamanho da bestialidade cometida pelos soldados nipônicos às mulheres da cidade.
No filme, durante a invasão, um convento para meninas órfãs é um dos poucos
refúgios contra a barbárie dos invasores. Com o padre que cuidava do local
morto, as meninas esperam, aterrorizadas, a chegada de um coveiro que enterre o
corpo do padre. Este coveiro é John Miller, aqui interpretado por Christian
Bale (que em 2011 levou um merecido Oscar pela sua atuação em O Vencedor).
À parte à péssima atuação que Bale entrega a este filme, a
presença de seu personagem é um remendo de roteiro difícil de engolir. Ele é um
sujeito mau caráter, beberrão e ganancioso que quer apenas fazer seu trabalho,
receber por ele e dar o fora. Mas acaba ficando mais tempo no convento quanto
um grupo de prostituas também busca refúgio no lugar. Neste microcosmo, um
inevitável conflito entre as órfãs pudicas e as mulheres da vida surgirá, com o
indiferente Miller no meio. Em paralelo, um soldado chinês faz de tudo para
manter o convento livre da invasão bestial dos japoneses, enquanto tenta dar
uma morte “confortável e aquecida” para seu companheiro de armas, mortalmente
ferido.
Não é preciso muito tempo para perceber que o roteiro de Flores de Oriente é uma colcha de
retalhos. Entre uma costura e outra, Yimou não se preocupa em ao menos dar
algum estofo a qualquer personagem da trama. Nem Miler, nem qualquer menina órfã,
nem qualquer prostituta demonstra alguma coisa além de estereótipo unidimensional
Mas o filme ainda abusa da não verossimilhança, fazendo com que Miller, quase
que por epifania, se torne numa pessoa altruísta, disposto a se esforçar na
tentativa de ajudar o próximo.
Esquemático, o filme se arrasta até chegar ao ponto em que
quer chegar. No caminho, abusa do melodrama, sem com isso comover de verdade. O
tom sombrio e desolador do filme não basta para criar atmosfera e a figura de
Christian Bale soa tão deslocada na trama e nas cenas, que torna ainda mais
difícil entrar no clima. Claro que pela mão do diretor, algumas sequências são
bem filmadas, exibindo sua virtuose para a intensificação do momento através da
plasticidade do jogo cênico, ainda que siga abusando também da câmera lenta.
Se Flores do Oriente
serve para alguma coisa, é para trazer à memória o vergonhoso fato histórico no
qual o filme é ambientado. Tirando-se isso, fica apenas as costuras à mostra de
uma mal remendada trama de melodrama e guerra, com um personagem fora de lugar
em meio à superficialidade de personagens caricatos e padronizados.
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The Flowers of War
Zhang Yimou
China/Hong
Kong, 2011
146 min.
Trailer
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