Mais até que seus companheiros de geração, Arnold Schwarzenegger
é ícone de um tipo de filme de ação que rareia hoje em dia, atropelado por
efeitos digitais e heróis de rosto delicado.
Pois é dobrando o cabo dos 65 anos de idade, e com o rosto
ainda menos delicado, que o austríaco volta a protagonizar o tipo de filme que
ele próprio simboliza.
Em O Último Desafio,
tiros e pancadaria colocam Schwarzenegger no seu lugar natural: a ação. Mas o
filme também o coloca, graças à articulação cinematográfica do diretor sul-coreano
Kim Jee-Woon, em um subgênero inédito para o ator: o western spaghetti.
Isso porque, embora o filme seja ambientado no tempo atual,
toda uma carga de “bang-bang à italiana” preenche parte da ação. Esta é a mão
de Jee-Woon, notadamente devoto do cineasta Sergio Leone – também ele um ícone
de gênero – como se pode ver pela filmografia do diretor.
Xerife de uma pacata cidadezinha que faz fronteira com o
México, Ray Owens (Schwarzenegger) trocou a vida de policial na cidade grande pela
tranquilidade do interior. Comanda uma equipe de policiais que beiram a
ingenuidade, conhece as pessoas pelo nome e passeia de bermuda pela cidade em
seu dia de folga.
A paz só é quebrada quando um poderoso narcotraficante em
fuga para o México, perseguido pelo FBI e apoiado por um “exército de capangas”,
terá de passar pela cidade.
Para impedir a travessia, o xerife e seu limitado efetivo
será acrescido de um colecionador de armas meio fora do eixo (Lewis Dinkum) e o
namorado de uma policial local, que estava preso por bebedeira e baderna
(Rodrigo Santoro).
Com um roteiro primário, situações sem muita explicação e
personagens rasos, a primeira metade de O
Último Desafio é pobre e quase sem nexo. Amontoam-se cenas de fuga e
perseguição mal tramadas, culminando com o fugitivo pilotando um Corvette ZR1 (!)
como se não houvesse amanhã.
Ao que parece, toda precariedade de roteiro e trama servem
unicamente para a segunda parte do filme, quando a produção finalmente ganha
contornos de estilo, atmosfera, ação bem dirigida e humor eficiente.
Recria-se então um gênero dentro de gênero, do cinema de
ação dos anos 80 ao faroeste macarrônico. É onde o filme cresce. Está lá a
cidadezinha deserta, assim como os bandidos forasteiros que vêm perturbar a
ordem, o xerife altivo que se dispõe, mesmo com menor poder de fogo, a
enfrentar os fora da lei.
Tiroteios, telhados, metralhadora gatling, colt 45, saloon e até um corpo a corpo com jeito
de lucha libre compõem, de modo real
ou figurativo, um estilo que o filme trabalha com vigor e comicidade bem colocados.
Mesmo carregado de problemas, O Último Desafio revive
durante uma parte de sua duração – e com bastante força – não apenas gêneros
entrelaçados, mas também o carisma e o espírito do cinema que fizeram de Arnold
Schwarzenegger um ícone. Atributo que, por ora, nem mesmo a idade conseguiu
apagar.
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The Last Stand
Kim Jee-Woon
EUA, 2013
107 min.
Trailer
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