domingo, maio 06, 2012

Conspiração Americana





Na direção, Robert Redford tem se mostrado um provocador. Com uma cinquentenária carreira de ator, seu engajamento político fora dos sets de filmagens tem se refletido em seus últimos projetos como diretor. Foi assim em Leões e Cordeiros (2007) – uma provocação reflexiva sobre a invasão do Afeganistão através de 3 perspectivas: soldados na frente de batalha, imprensa e poder, juventude politicamente desinteressada. Agora, em Conspiração Americana, Redford reconstitui o drama histórico do quase desconhecido julgamento de Mary Surratt, a primeira mulher executada pela justiça norte-americana.

Logo após o fim da guerra civil americana (Guerra de Secessão – 1861-1865), os EUA era um país em frangalhos. Apesar do fim da guerra, sua unidade enquanto nação ainda era frágil. Foi nesse clima de incerteza, misturado ao alívio pelo fim da guerra, que aconteceu o assassinato do presidente Abraham Lincoln, morto com um tiro na cabeça, disparado por John Wilkes Booth durante uma apresentação teatral.

O trauma de um crime tão duro em um momento tão delicado, faz o governo iniciar uma intensa caçada pelo assassino e por todos os envolvidos na suposta conspiração que levou ao atentado fatal. Entre os suspeitos, está o então foragido John Surratt (Johnny Simmons), amigo de Booth. Mas será sua mãe, a viúva Mary Surratt (Robin Wright), proprietária de uma pensão, quem mais sofrerá as consequências disso. Isso porque era na pensão de Surrat que aconteciam as reuniões conspiratórias, frequentadas pelo próprio assassino do presidente.

Por conta disso, Mary Surrat é presa, acusada de fazer parte do plano que matou Lincoln. Ela alega inocência, mas se for condenada será levada à forca. Entra aí a figura do senador Reverdy Johnson (Tom Wilkinson). Ele solicita ao advogado e herói de guerra Frederick Aiken (James McAvoy) que assuma a defesa da acusada.

Aiken tenta recusar, pois não vê como pode defender alguém que conspirou contra aquilo que ele lutou e que custou a vida de tantos amigos. Mas acaba convencido pelo senador, que evoca os princípios constitucionais a que a acusada tem direito. Ele também diz temer que o julgamento se desdobre de forma injusta, resultando em vingança sumária no lugar de justiça.

Cria-se então uma interessante relação ambígua entre o advogado e a acusada. A força e a determinação da mulher em se dizer inocente – ao mesmo tempo que reafirma seus ideais sulistas – afetam o advogado, confrontado com aquilo que acredita e aquilo que é seu dever. Um dever que ao ser cumprido afetará intensamente sua vida pessoal, atingida pela impopularidade em se defender alguém que a opinião pública execra.

Através de uma história real ocorrida há quase 150 anos, Robert Redford traça um estimulante paralelo com o presente. Ao demonstrar como a fragilidade de uma nação diante de um ato de terror pode levar a ações antidemocráticas e a graves injustas na busca de culpados, faz uma provocativa analogia com os EUA pós-11 de setembro de 2001 e a política da era Bush.

Conspiração Americana pode parecer um filme de interesse restrito, por tratar da história norte-americana. Mas um olhar mais atento verá no julgamento de Mary Surratt mais que uma passagem nebulosa da justiça dos EUA. Está ali o estereotipo do linchamento popular, da necessidade de se dar à opinião pública a vingança que turbas consternadas desejam. Não raro, ao largo da verdadeira justiça. Uma história que se repetiu nos EUA contemporâneo, e se repete constantemente também por aqui.
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The Conspirator
Robert Redford
EUA, 2010
122 min.


Trailer


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