Na direção, Robert Redford tem se mostrado um provocador. Com
uma cinquentenária carreira de ator, seu engajamento político fora dos sets de
filmagens tem se refletido em seus últimos projetos como diretor. Foi assim em Leões e Cordeiros (2007) – uma
provocação reflexiva sobre a invasão do Afeganistão através de 3 perspectivas:
soldados na frente de batalha, imprensa e poder, juventude politicamente desinteressada.
Agora, em Conspiração Americana, Redford
reconstitui o drama histórico do quase desconhecido julgamento de Mary Surratt,
a primeira mulher executada pela justiça norte-americana.
Logo após o fim da guerra civil americana (Guerra de
Secessão – 1861-1865), os EUA era um país em frangalhos. Apesar do fim da
guerra, sua unidade enquanto nação ainda era frágil. Foi nesse clima de
incerteza, misturado ao alívio pelo fim da guerra, que aconteceu o assassinato
do presidente Abraham Lincoln, morto com um tiro na cabeça, disparado por John
Wilkes Booth durante uma apresentação teatral.
O trauma de um crime tão duro em um momento tão delicado, faz
o governo iniciar uma intensa caçada pelo assassino e por todos os envolvidos na
suposta conspiração que levou ao atentado fatal. Entre os suspeitos, está o então
foragido John Surratt (Johnny Simmons), amigo de Booth. Mas será sua mãe, a
viúva Mary Surratt (Robin Wright), proprietária de uma pensão, quem mais
sofrerá as consequências disso. Isso porque era na pensão de Surrat que
aconteciam as reuniões conspiratórias, frequentadas pelo próprio assassino do
presidente.
Por conta disso, Mary Surrat é presa, acusada de fazer parte
do plano que matou Lincoln. Ela alega inocência, mas se for condenada será
levada à forca. Entra aí a figura do senador Reverdy Johnson (Tom Wilkinson).
Ele solicita ao advogado e herói de guerra Frederick Aiken (James McAvoy) que
assuma a defesa da acusada.
Aiken tenta recusar, pois não vê como pode defender alguém
que conspirou contra aquilo que ele lutou e que custou a vida de tantos amigos.
Mas acaba convencido pelo senador, que evoca os princípios constitucionais a
que a acusada tem direito. Ele também diz temer que o julgamento se desdobre de
forma injusta, resultando em vingança sumária no lugar de justiça.
Cria-se então uma interessante relação ambígua entre o
advogado e a acusada. A força e a determinação da mulher em se dizer inocente –
ao mesmo tempo que reafirma seus ideais sulistas – afetam o advogado,
confrontado com aquilo que acredita e aquilo que é seu dever. Um dever que ao
ser cumprido afetará intensamente sua vida pessoal, atingida pela
impopularidade em se defender alguém que a opinião pública execra.
Através de uma história real ocorrida há quase 150 anos, Robert
Redford traça um estimulante paralelo com o presente. Ao demonstrar como a
fragilidade de uma nação diante de um ato de terror pode levar a ações
antidemocráticas e a graves injustas na busca de culpados, faz uma provocativa
analogia com os EUA pós-11 de setembro de 2001 e a política da era Bush.
Conspiração Americana
pode parecer um filme de interesse restrito, por tratar da história
norte-americana. Mas um olhar mais atento verá no julgamento de Mary Surratt
mais que uma passagem nebulosa da justiça dos EUA. Está ali o estereotipo do
linchamento popular, da necessidade de se dar à opinião pública a vingança que
turbas consternadas desejam. Não raro, ao largo da verdadeira justiça. Uma
história que se repetiu nos EUA contemporâneo, e se repete constantemente
também por aqui.
--
The
Conspirator
Robert
Redford
EUA, 2010
122 min.
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