Ao final da sessão para imprensa de Anderson Silva: Como Água, alguém disse: “Entrei sem saber nada
dele e saio do mesmo jeito”. Neste documentário sobre o lutador brasileiro, a
falta de dados biográficos talvez seja a “guarda baixa” que mais chama atenção.
Mas quem conhece o histórico de lutas de Anderson Silva sabe que guarda baixa
não é um problema para ele, que gosta de baixá-la e exibir sua ágil esquiva. Como Água não se sai tão bem quanto seu
personagem, mas dá conta do recado por outras vias.
Para quem não sabe, Anderson Silva é campeão dos pesos
médios do UFC (Ultimate Fighting Championship), a entidade mais bem sucedida da
história na organização de eventos com lutas de MMA (Mixed Martial Artes).
Dentre todos os contratados do UFC, Silva é um dos que mais se destaca. Ele vem
ganhando aura de lendário por deter o título de campeão desde 2006 e por já
tê-lo defendido em nove ocasiões, todas com vitória; algumas delas
espetaculares; outras, polêmicas.
No documentário dirigido pelo estreante Pablo Croce, a falta
de um aprofundamento na história e personalidade de Anderson Silva pode
decepcionar alguns. Mas Como Água tem
uma proposta clara e específica. Trata-se do registro da preparação de Silva
para uma luta que se tornaria histórica, contra o americano Chael Sonnen, que
aconteceu em agosto de 2010. Não por acaso, o documentário chega às telas
poucos meses antes da revanche entre os mesmos lutadores, que deve ocorrer em
junho deste ano aqui no Brasil.
Caça-níquel ou não, o filme tem ingredientes para fazer a alegria dos fãs do MMA. E mesmo quem pouco conhece desse universo pode
sair da sessão surpreso pelo quanto de cinematográfico houve no desenrolar dos
fatos. A começar pela polêmica luta anterior de Anderson Silva que abre o
documentário. Por apresentar uma postura desdenhosa em relação a seu oponente,
Damian Maia, e por sua atitude pouca combativa, Silva foi duramente criticado
pela imprensa. Mas seu maior crítico foi Dana White, o poderoso presidente do
UFC, que ameaçou cortá-lo da entidade caso perdesse a próxima luta.
A outra polêmica surgiu justamente de seu próximo adversário:
Chael Sonnen. O americano passou a disparar ofensas e provocações contra
Anderson Silva, criando um forte clima de animosidade. É com um apanhado desses
fatores, mais os bastidores da dura rotina de preparação do atleta para a luta,
que se constrói o documentário. E é justamente por ser um “apanhado” que o
resultado é bastante irregular.
O filme abre com algum impacto e emoção. Nos introduz de
imediato ao fenômeno Anderson Silva logo após uma citação na figura de Bruce
Lee, que justifica o título Como Água.
Segundo o mítico lutador de Kung Fu, um praticante de artes marciais deve ser
como a água, sem forma rígida e adaptável a qualquer situação. Começando com
alta voltagem, mostrando nocautes e golpes de Silva. Depois, passa à polêmica,
em seguida à preparação propriamente dita. Então começa a cair.
Na verdade, a irregularidade de Como Água é bastante regular. Isso porque o filme vai
gradativamente caindo no quesito interesse à medida que vão se inserindo
sequências que não acrescentam nada à narrativa e, possivelmente, estão ali
para dar estofo à duração do filme (que tem apenas 76 minutos), evitando que
saísse como um média-metragem.
O desinteresse que resulta desse miolo do filme é justamente
fruto de uma não abordagem mais próxima da figura de Anderson Silva. Uma opção
que poderia dar uma interessante perspectiva à narrativa. Ao invés disso,
seguem-se rodeios que não levam a nada, passagens que chegam ao ponto da
desconexão com o todo do filme. Chegando ao meio, o filme está em baixa, mas
então começa novamente a se erguer ao voltar-se para a luta, para o desafio
iminente.
Mesmo que o resultado final seja conhecido, a forma como os
fatos se deram garantem emoção e têm, sem dúvida, traços de roteiro de cinema.
A luta entre Sonnen e Silva torna-se histórica e sua dramaticidade é bem
aproveitada pela montagem que culmina com o combate. Neste ponto, Como Água empolga e surpreende.
Para os opositores dessa modalidade de luta, o filme será
visto apenas como um pastiche sobre a barbárie dessa competição. Para fãs – ou
mesmo expectadores esporádicos – o filme poderá despertar emoções e mostrar
como a vida real pode parecer cinema. Nada disso oculta seu oportunismo de
momento, nascido da revanche entre os dois oponentes. E também como mais um esforço
para ampliar mitificação em torno de Anderson Silva, que cada vez mais
extrapola o octógono do MMA para se tornar uma celebridade e um fenômeno
midiático.
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Like Water
Pablo Croce
EUa, 2011
76 min.
Assista ao trailer
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