Em
seu romance Estorvo, Chico Buarque se
sai com essa: “E eu me pergunto, quando ela sobe a escada, se não é um corpo
assim dissimulado que as mãos têm maior desejo de tocar, não para encontrar a
carne, mas sonhando apalpar o próprio movimento". A abstração que Chico
cunhou com as palavras não está distante da abstração que o diretor alemão Wim
Wenders cunhou com as imagens tridimensionais de Pina, filme que estreia nesta sexta-feira (23).
Diferente
do que ocorre com boa parte dos filmes em 3D – cujo efeito pouco ou nada
acrescenta à narrativa e à experiência do filme – em Pina ele faz toda diferença. É a delicada conjunção entre efeito
tridimensional e dança que possibilita ao público uma experiência
sensitiva. Uma inusitada e sensorial oportunidade de “apalpar” os movimentos
concebidos pela coreógrafa alemã Pina Bausch, a quem o filme homenageia.
Falecida
em 2009, aos 68 anos, Pina foi por 36 anos diretora artística do Teatro de
Dança de Wuppertal, uma próspera cidade no interior da Alemanha. Nos anos 70,
Pina Bausch rompeu alguns paradigmas da dança ao incorporar elementos de teatro
a suas coreografias. Desde então, se tornou uma das mais reverenciadas coreógrafas
do mundo.
Fugindo
de qualquer didatismo biográfico, o documentário de Wenders prefere falar de
sentimentos e dança. Ao fazê-lo, usa o idioma de sua homenageada, cuja gramática
está no corpo e no movimento, não nas palavras. Assim, o filme alterna breves
depoimentos dos bailarinos de sua companhia com trechos de apresentações em
teatros, ao ar livre e pela muitas vezes insólita cidade de Wuppertal. O que se
vê são imagens belíssimas, cuja riqueza dos movimentos e das cores são amplificados pelo efeito 3D.
Como
uma declaração de amor do diretor para a coreógrafa, o filme expressa os
diversos sentimentos humanos através da dança, exaltando o brilhantismo e
sensibilidade de Pina em conceber suas coreografias. Mesmo nos momentos de palavras,
quando ouvimos os breves depoimentos dos bailarinos, há uma forte imagem que se
constrói dessa sucessão de falas. A imagem da diversidade, do universal da
dança, traçada pelos múltiplos idiomas, pelas diversas etnias presentes no
corpo da companhia de dança desenhada por Pina.
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Pina
Wim
Wenders
Alemanha/França/Reino
Unido, 2011
103
min.
Assista ao trailer
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