quinta-feira, março 22, 2012

Pina em 3D


Em seu romance Estorvo, Chico Buarque se sai com essa: “E eu me pergunto, quando ela sobe a escada, se não é um corpo assim dissimulado que as mãos têm maior desejo de tocar, não para encontrar a carne, mas sonhando apalpar o próprio movimento". A abstração que Chico cunhou com as palavras não está distante da abstração que o diretor alemão Wim Wenders cunhou com as imagens tridimensionais de Pina, filme que estreia nesta sexta-feira (23).

Diferente do que ocorre com boa parte dos filmes em 3D – cujo efeito pouco ou nada acrescenta à narrativa e à experiência do filme – em Pina ele faz toda diferença. É a delicada conjunção entre efeito tridimensional e dança que possibilita ao público uma experiência sensitiva. Uma inusitada e sensorial oportunidade de “apalpar” os movimentos concebidos pela coreógrafa alemã Pina Bausch, a quem o filme homenageia.

Falecida em 2009, aos 68 anos, Pina foi por 36 anos diretora artística do Teatro de Dança de Wuppertal, uma próspera cidade no interior da Alemanha. Nos anos 70, Pina Bausch rompeu alguns paradigmas da dança ao incorporar elementos de teatro a suas coreografias. Desde então, se tornou uma das mais reverenciadas coreógrafas do mundo.

Fugindo de qualquer didatismo biográfico, o documentário de Wenders prefere falar de sentimentos e dança. Ao fazê-lo, usa o idioma de sua homenageada, cuja gramática está no corpo e no movimento, não nas palavras. Assim, o filme alterna breves depoimentos dos bailarinos de sua companhia com trechos de apresentações em teatros, ao ar livre e pela muitas vezes insólita cidade de Wuppertal. O que se vê são imagens belíssimas, cuja riqueza dos movimentos e das cores são amplificados pelo efeito 3D.

Como uma declaração de amor do diretor para a coreógrafa, o filme expressa os diversos sentimentos humanos através da dança, exaltando o brilhantismo e sensibilidade de Pina em conceber suas coreografias. Mesmo nos momentos de palavras, quando ouvimos os breves depoimentos dos bailarinos, há uma forte imagem que se constrói dessa sucessão de falas. A imagem da diversidade, do universal da dança, traçada pelos múltiplos idiomas, pelas diversas etnias presentes no corpo da companhia de dança desenhada por Pina.

Com uma rara riqueza no uso da imagem e graças à aplicação inteligente do efeito 3D, em Pina não estão apenas as imagens, as cores e os movimentos concebidos pela coreógrafa. Mas também muito de sua textura e densidade, tão intensas, que é como se pudéssemos apalpá-las.
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Pina
Wim Wenders
Alemanha/França/Reino Unido, 2011
103 min.

Assista ao trailer

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