sábado, novembro 05, 2011

Submarino


 

Submarino
Thomas Vinterberg
Dinamarca, Suécia, 2010
105 min.

Estar mergulhado no limbo. A sensação de imobilidade, preso aos laços negros do passado; preso aos laços negros da família. O presente em Submarino, novo filme do dinamarquês Thomas Vinterbeg, é sempre um reflexo incurável do passado, marcado pela solidão e pela culpa. Seus personagens se cercam - ou são cercados – de vítimas e algozes de um mundo maléfico, cheio de desvios melancólicos e sujos. Buscam uma redenção na vontade, mas seus gestos ou os afundam mais no erro ou os levam a andar em círculos. Sobre eles, sempre paira a família.

O filme abre com a vida impiedosa de dois irmãos, ainda jovens, cuidando de outro irmão recém-nascido. Há no plano uma luz angelical de afeto e carinho imensos. A luz que será talvez a última pureza de suas vidas. Fora dela, o apartamento sujo, a mãe drogada e alcoólatra. Ódio, desprezo, revolta. Quando se é jovem, é preciso externar. A consequência é a tragédia, sujeitada à uma banalidade do descuido.

Adultos, os dois irmãos tem vidas imersas no vazio. Trazem as marcas do que viveram na feição e no limbo que estão imersos. O mais velho, tem no álcool seu conforto precário. Tentou ser reto na vida, mas não conseguiu. O outro cuida sozinho do filho de seis anos. A mãe do garoto morreu atropelada. Seu conforto precário é a heroína. Também não pôde se livrar do peso do passado.

Separados, os dois irmãos evitam-se. Mas também se buscam, como numa inconsciente vontade de reverter o passado, de corrigir o rumo, de acertar na vida. Quando finalmente se encontram, desencadeiam consequências duras em suas vidas, como se o amor fraterno e o desejo de reparar os erros não fossem suficientes para salvá-los de si mesmos.

Vinterberg explora o vazio inescapável de seus dois personagens sem sentimentalismo. É frio nessa construção de uma realidade amarga, na composição dos enquadramentos, nas feições. Em cada gesto cabe sempre o peso da culpa. Não é uma amargura que viceja, mas um sentimento que resseca. Cada um a seu modo busca uma redenção, um reparo. E é nesse desejo de redenção que, involuntariamente, destroem-se mais ainda.

Submarino guarda, sim, alguma redenção. Mas a um preço tão alto, física e sentimentalmente, que não se pode dizer ao certo se ela realmente chegou. Em sua catarse da culpa é cruel, mas guarda nas intenções uma beleza de espelho distorcido, um reflexo amorfo da fé e da boa vontade. Seus personagens não são maus, apenas não conseguem evitar a maldade em suas vidas.
 
Vinterberg cria um drama pesado e honesto. Não lança mãos de artificialismos, nem apela para as lágrimas fáceis do público. Seu cenário é seco e frio. Sem espaços para uma melancolia poética. Nessa frieza esmagadora, o futuro de seus personagens é sempre um risco. Mas que de alguma forma vale correr. Se a esperança é rala, não deixa de ser também um credo. Sem altares ou orações, mas com um dever de seguir sempre adiante.
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