Billi Pig é o nome do porquinho de brinquedo de Marivalda
(Grazi Massafera). Ele a acompanha desde a infância e é seu maior confidente e
também voz de sua consciência, com quem ela conversa regularmente. Casada com
Wanderley (Selton Mello), ela sonha em se tornar atriz e ter uma vida de
glamour e estrelato, embora não tenha nenhum talento para atuar. Seu marido, um
fracassado e gaiato vendedor de seguros que monta um escritório na garagem de
casa, não sabe o que fazer para dar à esposa a vida que ela sonha. É quando ele
vê em um falso padre milagreiro (Milton Gonçalves) a possibilidade de aplicar
um golpe em um desequilibrado e desesperado traficante local, interpretado por
Otávio Muller.
A falta de um roteiro consistente, indispensável mesmo em
uma comédia popular que se pretende anárquica, como é o caso de Billi Pig, está na base dos problemas do
filme. No apanhado, Billi Pig parece
uma colagem de situações, tão fraca é a amarração que liga as cenas e os personagens.
É pelas brechas dessa falta de consistência que qualquer tentativa de humor se
esvai. O clássico timing, tão
indispensável ao riso, dilui-se justamente porque a trama não se constrói com
firmeza suficiente para sustentá-lo. É por isso que talentos como Milton
Gonçalves, Selton Mello e, sim, Grazi Massafera (que embora esteja visivelmente
em processo de amadurecimento se mostra com brilho suficiente para surgir como
promessa de boa atriz, nem que seja pelo extraordinário carisma que carrega),
não funcionam dentro da trama.
Agrava esse quadro a presença inteiramente deslocada de
alguns personagens, que não apenas se apresentam completamente fora de contexto,
num paralelo absolutamente desconectado do todo, como também não criam qualquer
situação digna de riso ou escracho. É o caso dos personagens de Preta Gil e Milhem
Cortaz. Ela, dona de uma funerária quase falida; ele, seu funcionário. Suas inserções
na trama não acrescentam nada ao enredo. Eles surgem e desaparecem do filme sem
qualquer explicação e sem que qualquer de suas ações influam no desenrolar dos
fatos. Há também as secretárias da seguradora de fundo de quintal de Wanderley.
Duas personagens que estão ali como tentativa de um humor arriscado por brincar
com aspectos físicos. Um humor que quando não funciona pode caminhar para algo
ofensivo. Não chega a ser o caso em Billi
Pig, mas o risco está ali, latente.
Mesmo com toda essa engrenagem funcionando mal, com peças
girando em falso, o filme apresenta alguns lampejos que, se explorados melhor,
poderiam salvá-lo da falta de graça. É onde faltou enfiar o pé na jaca e assumir
o nonsense total. Alguns desses lampejos estão nas duas sequências de musical. Ao
introduzir na narrativa o elemento inesperado, a desconexão total com o
plausível, ao menos se tem a chance de justificar todas as coisas entregando-se
a uma anarquia verdadeira e plena. Com mais números musicais, embora estes serviriam
apenas como muleta para manter de pé uma trama sem sustentação, haveria uma
saída agradável, divertida e sempre aceitavelmente desorientadora. Daí se
extrairia, provavelmente, alguma graça pontual no decorrer do filme e também se
abririam novas possibilidades para que a colagem de mais elementos funcionassem
em favor do riso. Como está, Billi Pig
soa disfuncional demais. Recortes mal tramados de situações cuja possibilidade
do riso se dilui numa tentativa de escracho que nunca se realiza inteiramente.
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José Eduardo Belmonte
José Eduardo Belmonte
Brasil, 2012
98 min.
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