Em dezembro de 2010, fiz uma entrevista exclusiva com
o diretor José Eduardo Belmonte para o Eu, Cinema. Na época, estava prestes a ser
lançado seu filme Billi Pig, estrelado por Selton Mello, Grazi
Massafera e Milton Gonçalves. Para entrevistá-lo, visitei o set de filmagens
de O Gorila, filme que estava rodando, baseado no conto homônimo de
Sérgio Sant’Anna. No elenco, Otávio Muller, Mariana Ximenes, Alessandra Negrini
e Luíza Mariani. A seguir, o relato desta entrevista, dividido em duas partes.
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Billi Pig marca também a estreia de Grazi Massafera como protagonista no cinema. Sua única experiência anterior na telona foi uma participação em Didi - O Caçador de Tesouros, de 2006. A atriz e modelo conquistou fama ao participar da quinta edição do reality show Big Brother Brasil, em 2005. Desde então, vem trabalhando como atriz em novelas e minisséries.
Billi Pig marca também a estreia de Grazi Massafera como protagonista no cinema. Sua única experiência anterior na telona foi uma participação em Didi - O Caçador de Tesouros, de 2006. A atriz e modelo conquistou fama ao participar da quinta edição do reality show Big Brother Brasil, em 2005. Desde então, vem trabalhando como atriz em novelas e minisséries.
Por ser uma ex-BBB, Grazi sofreu com o preconceito de
parte da classe artística quando começou a atuar. Por outro lado, dona de um
carisma monumental, a atriz vem recebendo elogios pela dedicação com que se
entrega aos trabalhos e também pelo talento demonstrado. "A Grazi é uma
estrela de grandeza infinita, extremamente carismática", rasga-se em
elogios Belmonte. Sobre a inexperiência da atriz, enfatiza que nunca foi um
problema. Diz que para ele interessa não apenas o ator e sua técnica, mas
principalmente a pessoa e sua bagagem de vida. "De certa forma, eu me
aproprio muito da pessoa, do ser humano, e aí todo mundo joga igual, não tem
essa de inexperiência", afirma o diretor, que revela já querer trabalhar
com ela há algum tempo, desde seu filme anterior. "Queria dar a ela um
papel dramático."
Foi durante a preparação para Se Nada Mais der Certo que ele a conheceu, por intermédio de seu
marido, o ator Cauã Reymond, que atua no filme. "Acabou não rolando por
uma série de questões de agenda. Por fim, entrou a Luíza Mariani, que se
encaixou perfeitamente no papel."
Sobre as críticas à Grazi por ela não ter formação
e ser uma ex-BBB, Belmonte diz não ter preconceitos desse tipo e que críticas
assim partem muitas vezes de pessoas com visão estreita e reacionária, além de
uma certa preguiça intelectual. "São pessoas que tem uma postura muito
dogmática com a vida e as coisas não podem ser assim."
Esta também é a primeira vez que o diretor trabalha
com Selton Mello. Ao falar da experiência de dirigir o ator, resume em uma
frase: "Selton Mello é um Pelé". Belmonte afirma que ele é um dos
melhores de sua geração e que também é uma figura de grande generosidade.
"Ele não entrou nessa de preconceito com a Grazi. Muito pelo contrário, se
mostrou interessado e foi extremamente atencioso".
Recentemente, na coletiva de imprensa para o
lançamento do filme, o ator declarou toda sua admiração pelo trabalho da
colega. "Acho a Grazi extraordinária. O que ela faz é algo de muita
coragem, de muita humildade e não é qualquer pessoa que tem essa disposição.
Nós ainda vamos vê-la fazendo coisas muito boas", enfatizou Selton.
Faz-se silêncio no set. No ar, apreensão e
expectativa. Já está valendo. Otávio Muller e Luíza Mariana se abraçam
longamente. Separam-se em seguida revelando a profunda consternação de seus
personagens. Quando começam a dizer suas falas, um som de motor de carro da
Fórmula 1 irrompe do apartamento ao lado. Corta! Sem precisar dizer nada, o
diretor olha para os assistentes. Batem na porta do vizinho e pedem, com
gentileza, que reduza o volume do videogame. No apartamento, que parece ser
dividido por um grupo de jovens universitários, o rapaz que abriu a porta se
desculpa e baixa o volume. Vamos para mais uma tentativa.
"Billi Pig é também um ato
político muito meu, tanto na anarquia da história quanto na tentativa de
estabelecer um outro tipo de diálogo com o público", assume Belmonte.
"Aliás, se você prestar atenção, verá que a anarquia é algo recorrente nos
meus filmes". Essa anarquia pode ser vista em A Concepção – primeiro
longa do diretor no qual os personagens pregam a morte do ego e a experiência
de ser uma pessoa diferente a cada dia – e mesmo nos primeiros curtas, como o 5
Filmes Estrangeiros, de 1997, em que uma sucessão de acontecimentos
nonsenses acontecem quando um nepalês se revolta por não aguentar mais ser
chamado de japonês.
Antes de retomar a gravação, outra batida na porta
do mesmo vizinho. Desta vez, por ele estar falando alto ao telefone. Para a
equipe, é claramente desconfortável interferir no cotidiano das pessoas do
prédio, mas todos sabem que isso faz parte dos desafios de se fazer um filme.
Quando tudo está novamente pronto, o diretor dá o sinal verde. Os atores se
abraçam novamente, separam-se, conversam. Há tristeza, choro, lamento. Pelo
monitor, fora do cômodo apertado onde a cena é gravada, José Eduardo Belmonte
acompanha tudo com atenção. Quando Otávio Muller sai de cena pela porta,
Belmonte sentencia: "Corta!". Seu entusiasmo com o resultado deste
primeiro take se revela numa breve comemoração em que arrisca uns passos
de twist no meio do set.
"A vida é muito curta para você viver uma
coisa só. Não podemos ficar presos a nós mesmos para sempre", filosofa ao
explicar a mudança abrupta de partir para uma comédia como Billi Pig. "É claro que de alguma forma a gente sempre se
repete, mas eu prefiro me repetir brincando. Não dá para ficar fazendo sempre o
mesmo filme."
Distopia, anarquia, drama existencial, comédia
popular com jeito de chanchada, thriller de humor cáustico. Até agora, Belmonte
já passeou por todas essas formas narrativas em seus filmes, entre os
finalizados e em produção, como é o caso de O Gorila. Qual seria o
próximo?
"Um road movie", revela. "Quero filmar do Recife até a
Patagônia. O longa deve se chamar A Magia do Mundo Quebrado",
conta sem dar mais detalhes
Além desse e outros projetos, um antigo sonho do
diretor é filmar um diário do escritor Oswald de Andrade. "Era para ter
sido feito depois de Se Nada Mais der Certo. Cheguei a escrever o
roteiro, cheguei a negociar os direitos com o Rudá de Andrade [filho de Oswald
de Andrade que faleceu em 2009], mas com a morte dele o espólio da família
virou alvo de ações na justiça e com a indefinição eu não consegui ainda
comprar os direitos", esclarece. "Mas ainda quero fazer esse
filme".
Billi Pig deve
estrear em cerca de 200 salas pelo país. O Gorila ainda não
tem previsão de lançamento. Depois de mais alguns takes gravados – e de mais
outros tantos contratempos – me despeço de Belmonte e da equipe. São quase onze
horas da noite, que segue tão abafada quanto foi o dia. No set, os trabalhos estão
apenas começando.
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