Arrisca-se, pela segunda vez, a cantora Madonna na direção
de um longa-metragem. A primeira, em 2008, foi com a comédia Filth and Wisdom, que nem chegou a ser
lançada por aqui e não obteve sucesso nas bilheterias. Desta vez, a pop star ataca com uma história verídica
narrada em paralelo com outra ficcional; duas histórias que se passam em épocas
totalmente diferentes.
A primeira, se passa nos anos 30 do século passado. Madonna recria
à sua maneira o romance que levou um rei a abdicar de seu trono. É a história
de Edward, (James D'Arcy), Príncipe de Gales, herdeiro do trono da Grã Bretanha,
e Wallis Simpson (Andrea Riseborough), uma mulher duas vezes divorciada. Após
assumir o trono, em 1936, Edward não abre mão de se casar com Wallis, algo que
a Igreja Anglicana e a família real nunca tolerariam. Sofrendo pressões de
diversos lados, o rei abdica do trono em favor de seu irmão George - o rei gago
cuja história foi contada em O Discurso
do Rei (2010).
A segunda história se passa nos anos 90, quando conhecemos Wally
Winthrop (Abbie Cornish), uma mulher sofisticada cujo casamento com um renomado
médico de Nova York não vai bem. Infeliz com o marido sempre ausente e com a
dificuldade em conseguir engravidar, todos os dias ela passa horas em uma
exposição para leilão de objetos pertencentes à Wallis e Edward. Fascinada pela
história do casal e fragilizada por suas insatisfações pessoais, ela conhece o
charmoso segurança da exposição Evgeni (Oscar Isaac), com quem passa a
conversar frequentemente.
Ao contrário do que ocorre em filmes que usam o recurso de
contar histórias paralelas no tempo, o filme de Madonna é exemplar em seguir a
definição do termo paralelo. Isso porque em nenhum momento as histórias ganham
algum ponto de contato ou aproximação, exceto pelo expediente forçado da
obcessão de uma das protagonistas uma com a história da outra.
A transferência por identificação que ocorre da mulher dos
anos 90 para a mulher que ela imagina ter sido a Wallis dos anos 30 é um ponto
frágil demais para sustentar o contato entre as histórias, que nunca se
conectam de verdade. Dessa forma, o recurso soa artificial e forçado, criando
um ruído toda vez que a narrativa se alterna.
Isoladas, ambas histórias são também frágeis. Madonna
romantiza em excesso a relação de Edward e Wallis. Distorce fatos históricos
para criar um drama no qual a figura feminina é a grande vítima, aquela que
carrega o maior peso de toda a renúncia do casal. Mas é a segunda história o
elo verdadeiramente fraco da narrativa. Sua protagonista e seu drama carecem de
um conflito construído de forma convincente. Na forma como é apresentado, a
inconsistência das situações revela a fraca sustentação dramática, necessária
para convencer como drama e criar empatia.
Na direção, Madonna abusa de alguns maneirismos que não
acrescentam nada ao filme e servem apenas como um exercício estético cafona.
Isto transforma W. E. – O Romance do
Século em um filme pretensioso, cuja fotografia e direção de arte bem
trabalhados tentam esconder a falta de substância da narrativa. Falta conflito,
falta construção de personagem, falta convencer.
Em vez disso, o que se vê é uma produção arrastada, com uma
total falta de ritmo, cheia de passagens que não levam a narrativa adiante,
tornando a experiência monótona e cansativa. Longo demais, é excessivo na
resolução das tramas, acrescentando, perto do fim, uma série de camadas
enfadonhas para amarrar o desfecho. Para quem já foi casada com um diretor
bastante bom (Guy Ritchie), Madonna parece longe de um amadurecimento como
diretora.
--
W.E.
Madonna
Reino Unido, 2011
119 min.
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