Felipe Bragança e Marina Meliande
Brasil, 2010
106 min.
Não espere ver em A
Alegria um cinema fácil, de sabor conhecido e digestão rápida. Este é um
filme que pode demorar muito a ser digerido, ou talvez nunca o seja. É cinema
de invenção, expressão que já colou em algumas produções nacionais recentes,
obras de uma geração novíssima que se coloca atrás da câmera para revelar um olhar
complexo, às vezes pedante, às vezes hermético, mas nunca apático ou
conformista. Entre citações mil e narrativas desconstruídas, arriscam. Se
acertam ou não, o tempo - talvez a maturidade - dirá.
É nesse cinema que se insere A Alegria de Felipe Bragança e Marina Meliande. Uma alegria
fabular, de juventude exposta a estímulos desconcertantes, que reverbera esses
estímulos em uma fantasia distópica. A obra se propões geracional, caminha á
margem de uma narrativa convencional, explora o que seria extra-óbvio em um
olhar adolescente do mundo.
Este mundo filtrado é um Rio de Janeiro sem adereços,
filtrado de sua beleza natural, observado - e absorvido - na sua crueza
intrínseca. Mas poderia ser qualquer outro lugar em que reine o descompasso da
violência, do medo, da opressão experimentada no cotidiano. Qualquer lugar em
que o bizarro conviva com a normalidade farsesca da vida comum.
Aqui os diretores constroem esta fábula por caminhos de
risco. Admitem o filme estranho que colocaram de pé, sabem da resistência que
ele terá nas plateias, acostumadas à narrativas menos fechadas.
A proposta, o risco, são sempre válidos. Mas a ausência de
ganchos condutores de uma comunicação entre espectador e obra, o fechamento em
si mesmo provocado por citações em excesso, a tentativa de autolegitimação de
um grupo específico de cineastas em obras de autoreferência prejudicam demais o
filme.
Se você sair da sessão sem entender nada, não se ressinta de
si. É o normal após uma sessão de A
Alegria. Pode-se amá-lo e odiá-lo. Às vezes ao mesmo tempo. É, talvez, a
consequência do curioso modo como o filme se encerra. Depois de um arrastado
discurso pontuado por referências de um cinema particular, ainda pouco visto,
explorado e compreendido, vem o mais belo, o mais sublime, a simplicidade da
beleza.
No final, sabemos do filme de super herói que quis fazer
seus diretores. É no fim, na cena mais linda, mais fácil de ser amada, que a
catarse se realiza, talvez pela primeira vez em todo o filme. E isso poderia,
em sua beleza e simplicidade, nortear toda a narrativa anterior. Pena que não é
assim.
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