Anocha Suwichakornpong
Tailândia, 2009
82 min.
Nem atmosfera, nem narrativa. O que se impõe como marca
desse sedutor e tocante filma tailandês é a ausência, os espaço vazios a serem
preenchidos de vida ou de sofrimento. O tempo, numa dimensão cósmica, e o ciclo
de todas as coisas; humanas e estelares.
Pun é contratado como enfermeiro para cuidar de Ake, um
jovem que acaba de ficar paraplégico depois de um acidente. Órfão de mãe, Ake
vê seu pai se distanciar, corroído por uma oculta aflição de ver o filho
naquele estado.
A narrativa se monta sobre tempos mortos onde o silêncio
ocupa o espaço como um peso, algo palpável; como a presença da tragédia ainda
recente em cada lugar não ocupado pela palavra ou pelo gesto. Mas também é uma
narrativa descontinuada. Pequenos avanços e recuos explicam cenas soltas, que
se colocam como estranheza de sentimento, como imperfeição da relação.
A relação é a de um enfermeiro com seu primeiro paciente.
Não uma relação de insegurança, apesar do claro desconforto inicial, mas um
aprendizado de tato, de passos e contrapassos. Não há o que entender, somente o
que sentir. Mas no universo de Pun e Ake, nenhum sentimento é de fácil de tradução.
Mundane History trata
de como se estabelece essa relação, mas mostra também uma percepção particular
de Ake, impossibilitado de viver como antes. Sua percepção de si e de sua
condição é aos poucos traduzida por metáforas de composição cósmica. É quando o
filme cresce e se encaminha para uma beleza difícil de traduzir, mas fácil de
encantar.
Em sua cena final, a imagem, uma sequência de abrupta
violência fecha e ao mesmo tempo abre o ciclo em compasso com a vida de uma
estrela. É beleza distorcida, com dissonâncias no modo como se revela. Mas está
ali, implícita, grandiosa e cotidiana. Um filme de encher os olhos. Cheio de
brilho, nascimento, morte e vida.
--
0 comentários:
Postar um comentário