Submarino
Thomas Vinterberg
Dinamarca, Suécia, 2010
105 min.
Estar mergulhado no limbo. A sensação de imobilidade, preso
aos laços negros do passado; preso aos laços negros da família. O presente em Submarino, novo filme do dinamarquês
Thomas Vinterbeg, é sempre um reflexo incurável do passado, marcado pela
solidão e pela culpa. Seus personagens se cercam - ou são cercados – de vítimas
e algozes de um mundo maléfico, cheio de desvios melancólicos e sujos. Buscam
uma redenção na vontade, mas seus gestos ou os afundam mais no erro ou os levam
a andar em círculos. Sobre eles, sempre paira a família.
O filme abre com a vida impiedosa de dois irmãos, ainda
jovens, cuidando de outro irmão recém-nascido. Há no plano uma luz angelical de
afeto e carinho imensos. A luz que será talvez a última pureza de suas vidas.
Fora dela, o apartamento sujo, a mãe drogada e alcoólatra. Ódio, desprezo, revolta.
Quando se é jovem, é preciso externar. A consequência é a tragédia, sujeitada à
uma banalidade do descuido.
Adultos, os dois irmãos tem vidas imersas no vazio. Trazem
as marcas do que viveram na feição e no limbo que estão imersos. O mais velho,
tem no álcool seu conforto precário. Tentou ser reto na vida, mas não
conseguiu. O outro cuida sozinho do filho de seis anos. A mãe do garoto morreu
atropelada. Seu conforto precário é a heroína. Também não pôde se livrar do
peso do passado.
Separados, os dois irmãos evitam-se. Mas também se buscam,
como numa inconsciente vontade de reverter o passado, de corrigir o rumo, de
acertar na vida. Quando finalmente se encontram, desencadeiam consequências
duras em suas vidas, como se o amor fraterno e o desejo de reparar os erros não
fossem suficientes para salvá-los de si mesmos.
Vinterberg explora o vazio inescapável de seus dois
personagens sem sentimentalismo. É frio nessa construção de uma realidade
amarga, na composição dos enquadramentos, nas feições. Em cada gesto cabe
sempre o peso da culpa. Não é uma amargura que viceja, mas um sentimento que
resseca. Cada um a seu modo busca uma redenção, um reparo. E é nesse desejo de
redenção que, involuntariamente, destroem-se mais ainda.
Submarino guarda,
sim, alguma redenção. Mas a um preço tão alto, física e sentimentalmente, que
não se pode dizer ao certo se ela realmente chegou. Em sua catarse da culpa é
cruel, mas guarda nas intenções uma beleza de espelho distorcido, um reflexo
amorfo da fé e da boa vontade. Seus personagens não são maus, apenas não
conseguem evitar a maldade em suas vidas.
Vinterberg cria um drama pesado e honesto. Não lança mãos de
artificialismos, nem apela para as lágrimas fáceis do público. Seu cenário é
seco e frio. Sem espaços para uma melancolia poética. Nessa frieza esmagadora,
o futuro de seus personagens é sempre um risco. Mas que de alguma forma vale
correr. Se a esperança é rala, não deixa de ser também um credo. Sem altares ou
orações, mas com um dever de seguir sempre adiante.
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