Late Bloomers
Julie Gavras
França, Bélgica, Reino Unido, 2011
95 min.
Uma comédia romântica da terceira idade. A própria diretora
Julie Gavras nunca renegou este rótulo a seu novo filme, o segundo de sua
carreira, que começou promissora com o divertido e terno A Culpa é do Fidel. Filha do renomado e polêmico diretor
Costa-Gavras, Julie realiza agora uma boa comédia sobre alguns sintomas do
envelhecimento, sintomas muito mais intensos no psicológico do que no corpo. Ao
menos para seus dois protagonistas.
William Hurt e Isabella Rossellini são Adam e Mary, um casal
às voltas com a vida de sexagenários. Ele é um renomado arquiteto que 30 anos
atrás revolucionou a arquitetura de aeroportos e terminais rodoviários. Ela é
uma professora aposentada que após um esquecimento súbito passa a perceber a própria
idade como antes não percebia.
Esta percepção da idade de Mary se agravará quando, por
conselho médico, ela decide fazer exercícios e se envolver com alguma atividade
que a mantenha ocupada. Enquanto isso, seu marido reluta em aceitar um projeto
de condomínio exclusivo para idosos. Ele está muito mais interessado na
possibilidade de desenhar um novo e moderno museu, estimulado por sua equipe
jovem.
A graça de Late
Bloomers está na paranoia oposta que cada um deles passa a desenvolver.
Enquanto Mery se entrega a antecipar uma condição de limitações físicas - enchendo
a casa de acessórios “facilitadores” da terceira idade (barras de apoio e
utensílios ergonômicos para idosos) -, Adam se recusa a esta entrega e passa a agir
de forma pateticamente jovem.
Julie trabalha com desenvoltura situações e diálogos que
revelam não apenas uma perversidade cômica em situações pragmáticas do
envelhecimento, mas também uma ironia que traz em si uma reflexão sobre o
assunto. Sem qualquer pretensão de se fazer um retrato ou uma denúncia,
apresenta personagens e pensamentos que expõem o inevitável em cada ser humano:
a ação do tempo e as consequências dele.
Como comedia romântica, Late
Bloomers se destaca pela abordagem original, nos livrando da mesmice das situações
juvenis que o gênero sempre apresenta. Por outro lado, não consegue fugir do
esquemático roteiro desse gênero, com sua trama que se enrola e desenrola no mesmo
ritmo das comédias românticas comuns.
Mesmo repetindo uma fórmula gasta, o filme alcança um tom de
originalidade com sua inversão de visões. Alcança, assim, uma certa dose de
verdade, especialmente no modo como a câmera sempre transcreve o rosto de
Rossellini em toda sua magnitude de vincos e marcas do tempo. É este rosto
carregado de tempo - mas preservando uma beleza inata - e sua desinibição
diante da câmera impiedosa no registro desse tempo que dão a tônica do filme.
Uma opção muito feliz.
Sem grande pretensão, Late
Bloomers funciona como comédia, funciona como romântica e funciona como
algo diferente. Embora seja por vezes mais do mesmo, é um “mesmo” mais original
e inesperado, muito gostoso de se ver.
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