The Rover pode
parecer num primeiro momento um filme pós-apocalíptico. Mas não é. Ao menos não
no sentido mais comum do gênero. Isso fica claro na mensagem que abre e situa
sua história: “Dez anos após o colapso”. Mas qual colapso? A resposta não vem
mastigada. Pistas ao longo do filme salpicam referências. O colapso, podemos
deduzir, foi econômico. O efeito, devastador.

No caminho, a coincidência. Esbarra em Rey (Robert Pattinson).
Ferido a bala e deixado para trás por seu irmão, Rey se torna refém de Eric
quando este descobre que o irmão que o deixou para trás é um dos sujeitos que
roubou seu carro. E Rey sabe para onde eles foram.

Mas neste horror criado por Michôd não há qualquer
articulação ou discurso. Tudo é apenas efeito e a causa importa pouco. Resta
somente o grande nada, um deserto moral tão vasto quanto o físico e tão
violento quanto o vazio humano.
Assim, a trama é menos que um fio de lógica e o único arco
dramático é a rarefeita relação entre Eric e Rey. E se neste embate dramático
Guy Pierce atua intensamente fazendo de seu personagem um dique sempre prestes
a romper, Robert Pattinson surpreende em uma atuação impressionante de violenta
fragilidade.
Pattinson consegue dar corpo, voz, olhar e retardo mental a
seu personagem de forma a realizar algo que muitos apostavam que não conseguiria:
apagar inteiramente a imagem do “vampiro caviar” da Saga Crepúsculo. Sua
atuação é simplesmente desconcertante e parte do efeito que o filme nos causa
vem do que Pattinson realiza na tela.

Na travessia que se constrói na tela, a mensagem final não é
de esperança ou de transformação. É o mesmo vazio árido de sempre, é a sensação
permanente de cavar em chão pedregoso e não encontrar sentido em nada. É o
grande deserto do ser humano, aquilo que resta quando toda fachada sucumbe ante
algum colapso, seja econômico ou não.
--
The Rover
David Michôd
Austrália/EUA, 2014
103 min.
Trailer
0 comentários:
Postar um comentário