A palavra “Península”, nome da companhia aérea fictícia
estampado no avião que se prepara para decolar, entrega de cara o tom nada
sutil que Pedro Almodóvar parece querer dar à sua comédia gay Os Amantes Passageiros.
Isso porque ao nomear desta forma o voo que será palco da
loucura e do desarranjo, sabemos logo que naquele microcosmos estará representada
a Espanha em crise dos últimos anos, na qual, logo de início, vê-se uma
espremida e lotada “classe econômica” sedada pela tripulação em conveniente sono
“desalarmado”.
Ao mesmo tempo, na “classe executiva” e no comando da
aeronave, a elite toma consciência dos problemas do voo e dos riscos a que
estão sujeitos. Começa então o expurgo de pecados na típica neurose “almodovariana”.
Depois de uma densa e insólita obra-prima como A Pele que Habito – filme anterior do
diretor espanhol – parece que Almodóvar está agora mais preocupado em
divertir-se do que em realizar uma obra intensa. Assim, fica o insólito e sai o
denso.
Com uma tripulação gay personificada no mais caricato do
gênero, cria-se naquele universo metafórico uma paródia político-social, mas
sem a pretensão de ir fundo no que quer que seja. Ali, basta extrair do público
um riso fácil com piadas fáceis, pautadas em trejeitos, diálogos improváveis,
confusões típicas de uma comédia camp
com suas frivolidades e seu gosto duvidoso.
Mas nada disso é, necessariamente, ruim.
Essa despretensão faz de Os
Amantes Passageiros um filme aparentemente bobo, mas muito eficiente em
fazer rir a plateia. Portanto, da falta de riso não se pode queixar-se –
exceto, talvez, os plantonistas filósofos da comédia, que exigem sisudamente
que até mesmo o riso seja sempre intelectualizado.
Com essa combinação de bobo e fácil, pode-se presumir um
filme ruim, um “mau” Almodóvar. Mas esse julgamento apressado é que é fácil,
talvez até preguiçoso. Porque se não há em Os
Amantes Passageiros a fibra intensa mais comum na obra do diretor – seja em
comédias passadas, seja nos dramas mais profundos de sua autoria –, também não
falta ali sua assinatura e marca pessoal.
Isso pode até não bastar para fazer desse um bom filme do
espanhol, mas funciona bem para aquilo que se propõe: o riso sem dificuldade e piadas
simples sem rodeios. Quem esperar mais que isso, vai se decepcionar.
De fato, este é o que pedantemente pode-se chama de um
Almodóvar “menor”, bastando uma comparação com a obra do diretor para se
confirmar isso. Se dentro dessa obra ele é um filme até dispensável, dentro do
universo do gênero comédia ele merece destaque.
Dizer que Os Amantes
Passageiros é um filme bobo não implica mentira. Apenas simplismo. Feito
para rir, feito para divertir, a própria caracterização exagerada de seus
personagens gays é passaporte para deixar de lado o denso e fixar-se no
insólito. Por pura diversão.
Bobo mesmo é achar que um grande diretor como Pedro
Almodóvar não pode fazer algo assim. Ele pode e ele fez. Quem quiser que se
divirta.
--
Los Amantes Pasajeros
Pedro Almodóvar
Espanha, 2013
90 min.
Trailer
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